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Patrícia Esparteiro e o adeus ao karaté: “Em Portugal é difícil viver do desporto”Exclusivo 

Patrícia Esparteiro encerrou a carreira. Foto: Federação Nacional de Karaté – Portugal (FNK-P)

Quinze vezes campeã nacional, medalha de bronze dos Jogos Europeus em Minsk 2019, medalha de Ouro no Polish Open Karate 2021 e uma das maiores karatecas de sempre em Portugal na vertente kata, Patrícia Esparteiro vai usar o karate-gi pela última vez na Premier League Matosinhos, competição acontece entre os dias 22 a 24 de abril , no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos. Aos 27 anos, a atleta do Sporting de Braga surpreendeu a todos ao anunciar esta semana que encerraria a carreira de 13 anos.

Com a modalidade afastada dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (o karaté esteve presente pela primeira e única vez em Tóquio 2020), Patrícia Esparteiro, que esteve muito perto das últimas olímpiadas, admite que já não tem a mesma motivação de antes.

Sem os 100% de foco, chegou a conclusão que prefere já não seguir adiante. E resolveu unir uma proposta profissional para atuar na enfermagem, onde é licenciada, e o facto de poder competir “em casa”, em Matosinhos, onde vive, para fechar o ciclo desportivo.

Em entrevista à SportMagazine, Patrícia Esparteiro, 32.ª do ranking mundial (kata) detalha os motivos da decisão, fala do futuro, da paixão pelo desporto, faz um balanço da carreira e deixa uma mensagem para a próxima geração do karaté nacional.

SportMagazine (SM) – Não se pode não começar esta entrevista pelo “fim”: pegou a todos de surpresa com esse anúncio do encerramento da carreira. Como foi tomada essa decisão?

Patrícia Esparteiro (PE) – Foi assim muito repentina, confesso. Não foi nada planeado com o tempo, por assim dizer. Mas o que me levou a tomar esta decisão foi principalmente pela parte profissional. Ou seja, surgiu-me uma oportunidade única, por assim dizer, daquelas que não aparecem quase nunca. Já me questionava se realmente isto realmente continuava a me dar prazer, se me via a fazer isto no futuro. Sabemos que em Portugal é super difícil viver do desporto, principalmente numa modalidade que deixou de ser Olímpica. Em termos de apoio é totalmente diferente. E foi isso que também me levou a tomar esta decisão. Colocando-me um pouco em primeiro lugar e pensando no meu futuro resolvi que se calhar estava na altura de tomar esta decisão. Também não gosto de não estar a 100% em nada, em todas as áreas da minha vida. Continuar na alta competição não a 100% a mim não me fazia tanto sentido porque sabia que ficaria um pouco frustrada em não me dedicar às duas coisas.

SM – E qual vai ser o futuro da Patrícia adiante?

PE – Neste momento até já iniciei a parte da formação. Eu tinha o curso da enfermagem e é exatamente nesta área. Estou ligada agora à medicina estética, portanto sou enfermeira de estética por assim dizer. Vou trabalhar numa clínica, basicamente é isso.

SM – Tem o curso de treinadora grau I de karaté: também pretende seguir na carreira de treinadora?

PE – Já há uns dois anos que assumi um clube que tenho [Wolfpack], que pertencia e pertence ao meu pai, e sigo a dar aulas. Ele levou bastantes anos a liderar o clube como treinador e à altura do início da pandemia, eu fiquei com esse cargo de treinadora. Portanto, neste momento, sou treinadora. Claro que neste momento vai haver algumas alterações, porque em princípio nem sempre poderia estar sempre presente. Mas na altura tirei o curso, penso que em 2017, já com vista a ter qualificação para isso.

Foto: Federação Nacional de Karaté – Portugal (FNK-P)

SM – Vai se despedir do karate-gi na próxima Premier League Matosinhos. O que espera alcançar nesta competição em casa?

PE – Estar em casa foi o que me levou a tomar essa decisão, porque eu poderia ter encerrado no Nacional. Mas primeiro já estava inscrita, segundo é em casa e posso acabar da melhor forma possível. Nasci e moro em Matosinhos, portanto terminar a carreira aqui fez-me muito sentido. A preparação continua, claro que agora iniciando a formação noutra área fica mais complicado, mas isto tudo consegue-se. Estou a tentar conciliar as duas coisas. Para já, acho que vou ter uma boa participação.

Claro que temos que ver que a competição é do mais alto nível que existe. Só para termos aqui uma comparação: o Campeonato do Mundo não é tão difícil como esta prova. No Mundial, enquanto os países só podem levar um atleta por país, nesta inscrevem-se os melhores dos melhores. Numa fase inicial só o top-32 do ranking mundial que se podem inscrever. Um país como o Japão, por exemplo, que é uma grande potência no karaté, já tem quatro inscritas. Não é só uma, são quatro. Entre outros: Espanha, Turquia… É uma competição mesmo de elevado nível. É super difícil. Estou sendo realista, não estou a pensar num pódio porque temos lá a campeã olímpica, a vice-campeã olímpica, as atletas que foram aos Jogos Olímpicos e de alto nível, mas pretendo dar o melhor que puder e chegar ao mais longe possível.

SM – Qual foi a maior vitória e a maior frustração nestes 13 anos de karaté?

PE – A minha maior vitória foi a medalha de bronze dos Jogos Europeus em Minsk. Num movimento olímpico, foi a primeira. Tenho outras medalhas que também tocaram-me. Por exemplo, a medalha que tenho de individual em séniors que foi a primeira que Portugal conquistou tanto na disciplina de kata, como na de comité, foi a minha primeira e me tocou de uma forma especial. A maior frustração… Tive maus momentos, claro, não estamos sempre a 100%. Achei que quando estava na faculdade foi um período bastante complicado quando estive na parte prática. Tive dois anos de estágio em enfermagem e foi super complicado lidar com isso. Principalmente porque houve um Europeu que fui posta de parte, não fui selecionada. E custou-me. Acho que foi assim a angústia maior que tive, mas que consegui dar a volta por cima. Não desisti. Muita gente desisti. Bati no fundo e soube levantar-me a partir daí. E até correu melhor daí para frente.

SM – O que acredita que é preciso evoluir no karaté em Portugal?

PE – Eu acho que em termos de evolução é mesmo a mentalidade das pessoas que estão dentro do karaté. Acho que se vive muito ainda uma mentalidade muito tradicional. Começamos com um treinador e não podemos trocar, temos que ficar com ele para a vida. Existe muito esse estigma. Não é como o futebol, que um clube pode contratar um, outro e o atleta pode trocar de clube na outra época. Isso é mal visto para a comunidade do karaté em si. É preciso mudar algumas mentalidades porque só assim é que vamos evoluir. 

SM – É possível atualmente um atleta viver só do karaté em Portugal?

PE – Eu acho que é quase impossível. Pela minha experiência é praticamente impossível.

SM – E então nunca viveu apenas do desporto?

PE – Até agora, eu tinha vivido porque tenho o meu clube, o Wolfpack, onde dou aulas. E na altura que estava no projeto olímpico também tinha o apoio do Estado e conseguia perfeitamente apenas treinar. Não me preocupava com mais nada. Neste momento, não é mais assim.

SM – Por fim, como referência no desporto, qual a mensagem que deixa para as próximas gerações do karaté nacional?

PE – Acho que o principal de tudo é acreditar que é possível e que nós, com pouco, fazemos muito. Por vezes, olhamos para outros países que tem condições fenomenais, mas nós com pouco se calhar conseguimos fazer ainda mais do que eles. E às vezes as pessoas não acreditam que temos valores, mas a realidade é que temos. Não é só sonhar, é preciso treinar muito. E acho que para os mais jovens é isso, não desistirem.

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