Norberto Mourão renasceu em setembro 2009. Escapou da morte e nasceu para o desporto ainda sem saber. Na altura com 28 anos, sofreu um grave acidente de mota. perdeu as duas pernas. Em busca de saúde e autonomia, encontrou, primeiro no caiaque, e depois na canoagem, o caminho para seguir fortalecido e livre. E encontrou muito mais. Aos 41 anos, vive a melhor fase da carreira: em 2021 conquistou uma prata na Taça do Mundo, ouro no Campeonato da Europa, bronze nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 e bronze no Campeonato do Mundo. Norberto, entretanto, ainda com outros sonhos por conquistar, conversou com a SportMagazine.
SportMagazine (SM) – Nos últimos Jogos Paralímpicos falou-se muito de “superação”. Dizer que alguém é um “exemplo de superação” apenas por causa da deficiência seria reduzir a sua trajetória?
Norberto Mourão (NM) – Todas as pessoas olham para as pessoas com algum tipo de deficiência como sendo heróis, quando somos pessoas normais. Apenas temos que reajustar alguma coisa. No meu caso, não tenho as pernas, mas tenho a cadeira e consigo fazer tudo como fazia antes. A diferença é que antes usava as pernas e agora não. No desporto, acaba por acontecer igual: tratam-nos como heróis, no entanto fazemos aquilo que qualquer atleta sem limitação faz. Esforça-se, empenha-se, damos o máximo e trabalhamos duro para conseguir os resultados. Não somos mais do que ninguém.
Leia também: Ivo Quendera e a expectativa para a época de Norberto Mourão: “Presença nas finais…”
SM – O CPP lançou há pouco a campanha com o mote “SuperAção”, que incentiva a prática do paradesporto. O caminho para encontrar novos “Norbertos” pelo país passa por esse tipo de iniciativa?
NM – O objetivo dessa campanha é mesmo conseguir aumentar o leque de paratletas. A maioria dos que lá estão, incluindo eu, que estou com 41 anos, começa a ter uma idade mais avançada e é importante ter uma renovação. E para isso acontecer é importante que sejamos exemplos. Todos os clubes estão sempre abertos a receber novos atletas, mesmo que não estejam inscritos no Comité Paralímpico. Acabou por acontecer comigo há 11 anos, quando comecei a treinar na paracanoagem. Fui lá, experimentei e gostei bastante. É importante chegar a mais pessoas, principalmente aos mais novos, que muitas vezes são demasiados protegidos pelos pais, que parecem ter medo que a criança caia. No meu tempo, o que me interessava era brincar. Se caísse, levantava. Era dessa forma que aprendíamos. Penso que protege-se demais as crianças, principalmente as com algum tipo de deficiência. Mas o desporto melhora muito a saúde, dá-nos muito melhores condições físicas e mais ganhos. Não queremos só olhar para a elite e criar atletas de topo, porque são poucos, mas é importante tirar as pessoas de casa e esta campanha é muito por causa disso: aumentar o leque de atletas.
SM – E quais os próximos objetivos?
NM – Este ano, em 2022, os objetivos são as provas internacionais. Vamos ter uma prova de teste a meio da época, que é a Taça do Mundo, na Polónia, em maio. O objetivo é chegar lá em bom momento e ver como estão meus adversários. Os objetivos para esta época serão no Campeonato do Mundo e no Campeonato Europeu tentar manter o nível, tentar superar e evoluir e melhorar os meus tempos. Para isso nós procuramos sempre fazer algo diferente, porque fazendo sempre o mesmo acabamos por ser sempre iguais e queremos melhorar. Por isso, vamos sempre alterando coisas no nosso treino, explorando técnicas novas, e é isso que temos estado a fazer. O objetivo a longo prazo é Paris 2024. Temos o objetivo de lá estar. Vai ser complicado. Temos pouco tempo para trabalhar, mas é igual para todos. Até agora, temos conseguido bons resultados para nos mantermos em bom nível e manter a presença na competição, que é o grande objetivo a longo prazo.
Leia a entrevista completa da próxima edição da revista SportMagazine. Se ainda não é assinante, saiba como fazer para integrar o nosso grupo de leitores.