Um Campeonato Nacional mais fortalecido, maior visibilidade à modalidade, competições nos escalões de formação e mais uma final de Campeonato da Europa. Apesar do gosto agridoce com mais um segundo lugar na competição continental, não se pode dizer que 2022 não foi positiva para o futsal praticado por mulheres em Portugal. Em evolução, a modalidade tem visto surgir novos agentes competitivos – a exemplo do Nuna’Álvares, com dois títulos nacionais -, e do trabalho a longo prazo, construído há sensivelmente dez anos, em busca de melhor resultados e desempenho no futsal. Êxito que veio, por exemplo, com o título do Mundial Universitário este ano.
A SportMagazine conversou com o Luís Conceição, selecionador nacional e coordenador das seleções nacionais de futebol feminino, para um balanço da modalidade em 2022. O treinador tratou o ano civil como “positivo” e passou por vários pontos para justificar o olhar otimista com o desenvolvimento do futsal português. Entretanto, não deixou de lamentar a perda do título europeu com a Espanha, no passado mês de julho, em competição que foi disputada em Portugal. A Seleção Nacional, inclusive, está a se preparar para uma nova fase final do Campeonato Europeu, com período de estágio a ter início no próximo domingo.
SportMagazine (SM) – Este ano pudemos ver as competições nacionais sendo fortalecidas e resultados relevantes a nível de seleção. Em termos gerais, como avalia o ano civil de 2022 para o futsal feminino português?
Luís Conceição (LC) – Sim, no global, se formos avaliar o futsal feminino, eu penso que foi um ano extremamente positivo. Tanto a nível dos nossos clubes, dos nossos campeonatos, principalmente o campeonato nacional da Primeira Divisão, e também a nível das seleções.
A nível de clubes, penso que foi bastante positivo na questão de termos alterado o formato do campeonato e permitido a questão dos play-offs. Depois veio se verificar que a final do nosso Campeonato Nacional, que foi ao quinto jogo, com jogos sempre bastante equilibrados… O que esses jogos conseguiram atrair a nível de público, nos próprios pavilhões, as audiências na televisão, acho que foi bastante positivo. Esse fator, com essa alteração, foi bastante positivo para o crescimento do futsal feminino, das nossas atletas principalmente ao reforçar ainda mais a imagem da modalidade perante o público. Foi um passo muito importante que nós demos foi esse modelo dos play-offs. Esses cinco jogos vieram trazer uma riqueza enorme.
E ainda tem os clubes que este ano acabam por virem da Segunda Divisão mais preparadas para disputar a Primeira. O Gondomar acabar de fazer uma competição interesse, a Académica também. O Povoense acaba por estar ali na luta e equilibrando jogos. É um sinal de que essas equipas estão a ficar mais preparadas para o Campeonato Nacional da Primeira Divisão.
SM – Já agora, em termos de clubes, também foi um ano marcado pelos títulos do Nun’Álvares com as conquistas da Taça da Liga e da Taça de Portugal, o que quebrou a hegemonia do Benfica. Como avalia o fortalecimento de novos clubes neste contexto?
LC – Isso de facto foi também um ponto importante. Não queria tocar muito nos clubes, mas é importante, é claro nós termos mais do que um. No ano passado [última época], já tivemos o Nun’Álvares e outros clubes a disputar o título das nossas competições internas. Claro que gostaríamos de mais, de ter três ou quatro ou mais clubes a disputar esses títulos e que houvesse mais incerteza, por vezes, nos resultados de quem vence as competições. De facto, o Nun’Álvares fez uma aposta importante ano passado e depois acaba por vencer duas competições nacionais para o clube. Pela primeira vez o clube consegue vencer essas competições, foi extremamente importante. Quebrou um pouco aquela hegemonia do Benfica, que vinha conquistando praticamente as competições que tínhamos e isso foi um fator muito importante também.
O Santa Luzia também se reforçou mais um pouco, o Sporting também se reforçou em relação ao ano anterior e está mais forte e competitivo, embora ainda não chegue a se meter nos primeiros lugares. Depois temos a Novasemente, que se virou um pouco mais na aposta da formação e pode ser importante para aquela zona que sempre teve boa formação de jovens atletas e agora acabam por ter, na última jornada da primeira volta, sido premiado com a presença na Taça da Liga. Penso que estamos a dar os passos certos. Agora, os outros clubes, se puderem chegar também um pouco mais, têm que se apostar um pouco mais um bocadinho na jogadora portuguesa, mais na formação. Isso é um trabalho que não podemos pensar em um, dois anos, tem que ser a mais tempo.
SM – Neste ponto da formação podemos destacar este ano o título no Mundial Universário, pois não?
LC – Essa questão da formação não podemos pensar em um ano ou dois. Esse título mundial universitário reflete um pouco isso que estava a dizer: a base dessas atletas tem muitos anos de seleções nacionais. Grande parte delas fizeram parte do projeto olímpico. Iniciámos os trabalhos nos finais de 2015 com essa geração, depois participamos dos Jogos Olímpicos da Juventude com o título [em 2018]. Depois, tivemos a felicidade de elas continuarem a estudar, entrarem no ensino superior e era previsível que nós, quando chegássemos a essa fase, quando elas tivessem na universidade, poderíamos lutar pelos títulos mundiais de uma forma mais forte. E foi o que veio a se verificar. Um título que tem muitos anos de trabalho. Uma grande parte delas estão com cinco, seis anos connosco. Algumas já são “internacionais A”. Isso só reforça a importância do trabalho na formação, de elas competirem, de terem mais estágios connosco, terem a possibilidade de fazerem jogos internacionais e tudo isso é muito importante. E essa geração foi um bocado privilegiada por isso.
Agora temos uma nova geração que acabou por ser prejudicada com a questão da pandemia, porque tirou delas a possibilidade de participarem eventualmente dos Jogos Olímpicos da Juventude em 2022. Esta geração que nós temos agora na sub-19, com essa competição, tem agora o Campeonato Nacional. O ano passado foi a primeira edição [do nacional de juniores/sub-19]. O feedback que os clubes nos deram foi um ano positivo, também foi o primeiro ano. Neste segundo ano, também lançámos a competição com o mesmo modelo competitivo, repetindo algumas bases para eventualmente melhorarmos o quadro competitivo do campeonato. Mas penso que foi positivo. Os melhores clubes acabam por jogar mais vezes uns com os outros e acabamos por conseguir um número de equipas interessantes para participar do Campeonato Nacional. Mas as coisas levam algum tempo, temos que ir cimentando, reforçando, mas penso que o futuro da formação será também este campeonato nacional de sub-19.
SM – Por fim, em relação à Seleção A, onde tivemos um mais um vice-campeonato Europeu, o que não deixa de ser positivo, como avalia o nosso 2022?
LC – Positivo. Um segundo lugar acaba por ser ótimo, mas queríamos muito, jogando no nosso país, era termos conquistado o título. Não conseguimos, acaba por não ser um ano extremamente positivo por nos faltar esse título europeu, mas felizmente ou infelizmente, por causa da Covid-19, temos essa possibilidade de no mesmo ano civil conseguirmos disputar o apuramento para o Europeu. E em março estamos outra vez a jogar a fase final do Europeu. Acabou por não ser aquela distância de dois anos, acabou por ser mais curto e agora que conseguimos o apuramento.
Agora nós temos o estágio para nos prepararmos para o Europeu [a Final Four, na Hungria]. Vamos temos um jogo com uma equipa masculina, o Santarém. É o que se consegue nesta altura, não é fácil jogos internacionais. Nem toda as seleções querem jogar connosco. A diferença começa a ser maior entre nós e a Espanha e as demais seleções, que sempre têm receio de jogar connosco. Então, optamos por jogar com uma equipa masculina nos dá competitividade.