Segundo desporto mais praticado do país (atrás apenas do futebol), o voleibol arranca 2023 repleto de metas e planos para o desenvolvimento da modalidade em Portugal. Entre os objetivos da Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) está a busca para recolocar o masculino na qualificação em busca do inédito apuramento aos Jogos Olímpicos, assim como a subida da equipa feminina para a Golden Legue. Temas como a formação, as competições nacionais, um centro de estágio e o anúncio da Taça Ibérica em 2024 também estiveram contemplados na conversa com o diretor técnico nacional, Leonel Salgueiro – que, antes, já havia falado sobre o voleibol de praia.
SportMagazine (SM) – Quais as perspetivas para o voleibol português e os principais objetivos para 2023?
Leonel Salgueiro (LS) – Como é óbvio, a própria Federação tem vários objetivos dentro de diferentes domínios. Nós temos as Seleções Nacionais e dentro delas temos o Voleibol e o Voleibol de Praia. Dentro do Voleibol temos várias seleções a funcionar. Portanto, claramente a nível sénior, o nosso objetivo, a nível masculino, é termos uma boa prestação no Campeonato da Europa, que pode passar por ficar dentro dos oito primeiros, o que nos irá garantir uma qualificação automática para o próximo Campeonato da Europa e, em simultâneo, vamos participar antes na Golden League, e ambas as competições são extremamente importantes para nós conseguirmos subir no ranking mundial.
O objetivo de subir no ranking mundial é conseguirmos entrar dentro do que são as possibilidades de um apuramento olímpico e de uma qualificação para o próximo Campeonato do Mundo. Portanto, não são só objetivos a curto prazo, como é o Campeonato da Europa, mas também uma boa participação na Golden League, juntamente com uma boa prestação no Campeonato da Europa, que nos irá permitir amealhar pontos. O ranking mundial funciona sob vitórias e derrotas – se ganha, ganha pontos, se perde, perde pontos. Nós para subir no ranking precisamos de ganhar pontos, portanto, a nível masculino, os objetivos passam por aí.
SM – É um dos objetivos buscar a ida aos Jogos Olímpicos?
LS – Nós no voleibol estivemos perto de estar, mas nunca estivemos nos Jogos Olímpicos. Mas existe a possibilidade de participar de competições continentais e intercontinentais, mas para isso temos de ter uma determinada posição no ranking mundial. Portanto, claramente o objetivo é fazer um bom Europeu, mas fazer uma muito boa Golden League para conseguir subir pontos. Nós, o ano passado, subimos cerca de 12 a 14 pontos no ranking mundial. Se nós este ano subirmos mais 14 pontos, estamos praticamente nos lugares de qualificação olímpica e nos lugares que dão acesso ao Campeonato do Mundo. Esse é o grande objetivo também. Para além de fazer um bom Campeonato da Europa, passa também por subir pontos no ranking mundial.
Temos jogadores a jogar em boas ligas. Temos uma boa equipa técnica, os jogadores que jogam em Portugal também muito estão bem posicionados e também com enquadramentos profissionais. Por isso, temos todas as condições para podermos também, com todo o tempo de preparação que iremos ter com a Golden League e o Campeonato da Europa, de nos conseguirmos preparar. Aliás, no último Campeonato Europeu não ficámos nos oito primeiros porque perdemos no jogo de acesso com a Holanda, por 3-2. Isto também mostra que estamos num patamar próximo do acesso das oito melhores equipas da Europa. Porque se olharmos para as oito melhores equipas da Europa, se calhar estamos a falar das 12 melhores do mundo. Porque acrescentamos aqui Brasil, Argentina, Estados Unidos e Cuba – que, neste momento, está dentro do nosso patamar. Portanto estaremos aí muito perto.
SM – Relativamente ao voleibol feminino, quais são os principais objetivos deste ano?
LS – No feminino nós estamos num patamar diferente, mas a trabalhar para chegar a um patamar idêntico ao do masculino, o que vai demorar algum tempo. Estamos numa fase, já de há dois anos para cá, em que temos estado a renovar a equipa sénior. Portanto, temos como objetivo chegar à Golden League e melhorar o posicionamento do ranking e também dar rotação a atletas novas, mais experiência internacional com o objetivo de nos conseguirmos projetar um bocadinho mais. Falta ainda a profissionalização que já existe no masculino que esperemos que possa acontecer. Quando digo profissionalização é dedicarem-se de forma exclusiva à modalidade, temos de dar esse salto qualitativo nesse aspeto que nos permita depois poder pensar e sonhar a chegar a um patamar idêntico ao do masculino.
SM – E quais são os planos para os escalões de formação?
LS – Em relação à formação, nós temos neste momento as seleções sub-17 masculina e feminina a trabalhar em regime de concentração e estão, neste momento, a disputar a primeira fase de apuramento para o Campeonato da Europa sub-17. Portanto o nosso grande objetivo mantém-se o mesmo que nos últimos dez anos, que é um trabalho a longo prazo, não pensando em objetivos imediatos, mas sim em preparar atletas para o futuro, para poderem integrar as seleções seniores. Temos, neste momento, como disse, a trabalhar.
As seleções sub-19 vão participar também em dois torneios Wevza [Western European Volleyball Zonal Association], porque em janeiro de 2024 vão ter preparações para o Campeonato da Europa também neste formato da Wevza. Portanto, as seleções sub-20 vão estar em sub-19. Temos as seleções sub-21 masculinos e femininos que vão disputar este ano a qualificação para o Campeonato da Europa sub-22 que é no próximo ano. Portanto, tanto no feminino como no masculino temos duas boas gerações.
No masculino, na geração dos últimos anos que nós tivemos, estiveram, por exemplo, em duas fases finais de Campeonatos da Europa. Portanto, temos alguma expectativa de fazer aqui um bom resultado e, no fundo, dar-lhes a oportunidade de eles estarem em mais uma competição internacional. Aliás, os masculinos vão fazer, provavelmente, a qualificação para o Campeonato da Europa e logo a seguir vão participar nas Universíadas. Portanto, mais um momento de competição internacional, sempre com o objetivo de daqui uns dois anos termos aqui alguns atletas na equipa sénior. Isto no masculino e no feminino.
SM – A Seleção Nacional não possui Centro de Estágio, ponto que chegou a ser mencionado pelo selecionador femininino Hugo Silva. Existe alguma perspetiva de construção desse equipamento?
LS – É assim, eu não queria muito falar disso, porque acho que isso é um assunto que não passa pela Federação, porque se perguntar a qualquer federação, todas elas querem um Centro de Estágio para ter melhores condições para trabalhar. Se se justifica? Se calhar não justifica porque nós conseguimos criar condições para as nossas seleções séniores para trabalharem, como se estivessem num Centro de Estágio. Em Portugal, existem vários, mas isso é uma questão política. Portanto, não é uma questão que passa pela Federação, que a Federação não tem capacidade financeira para ter um Centro de Estágio. Portanto, é uma decisão que é política e, como é óbvio também, no voleibol de praia tem que haver, porque não há praia para treinar durante o ano todo. Portanto, tem que se criar condições para se poder treinar. No indoor, temos condições, dois pavilhões onde treinámos com as seleções sub-17. Apesar de serem pavilhões de escolas, são pavilhões que estão disponíveis só para nós, que têm ginásios de musculação, temos um bom acompanhamento, conseguimos fazer um bom trabalho. Não me parece que o problema seja o Centro de Estágio e parece-me que é uma decisão política como todas as modalidades. Portanto, é uma coisa transversal, e qual é a modalidade com um Centro de Estágio? É o futebol, porque tem mais dinheiro. As outras estão todas em igualdade de circunstâncias, portanto isso é uma decisão que terá de ser política.
SM – Por fim, sobre as competições e o desenvolvimento dos clubes, o que podemos esperar para este 2023?
LS – Nós temos vindo a melhorar de ano para ano os Campeonatos Nacionais indoor, nomeadamente com a informação que chega aos Órgãos de Comunicação Social. Melhorámos consideravelmente a imagem daquelas que são as nossas duas ligas principais, a Liga Uno e a Liga Lidl, com layouts de publicidade. Portanto, também tentamos ter condições para que os próprios clubes consigam, de alguma forma, dar um retorno maior aos seus patrocinadores. Portanto, no fundo, dar aqui uma imagem comum a todos os campeonatos. Com o projeto GiraVólei, temos vindo a crescer naquilo que é a nossa implantação nacional da modalidade. Portanto, neste momento, a zona do Alentejo e Algarve, é a segunda maior associação do país e há uns anos, praticamente, o voleibol não existia lá. A grande novidade será no próximo ano, que já está mais ou menos acordado com a Federação Espanhola, que é o aparecimento da Taça Ibérica. Já andamos a trabalhar há algum tempo nesta competição, onde vão entrar tanto o masculino como o feminino. Portanto, uma masculina e uma feminina – o vencedor do campeonato e o vencedor da Taça de Portugal, com o vencedor do campeonato e da Taça de Espanha. Será um torneio que se irá realizar sempre antes de se iniciar a época. Portanto, servirá ali um bocadinho como um torneio de preparação para as equipas portuguesas e espanholas no início da época.
Rosa
Fevereiro 1, 2023 at 12:06 pm
Novo presidente da federação portuguesa de voleibol será 😄