O segundo e penúltimo dia do Ética Summit 2022 contou com uma diversificada e aprofundada gama de conferências e workshops compostos por debates aprofundados, essencialmente na perspetiva dos valores éticos. Após as discussões aprofundadas sobre as temáticas “Da ética no desporto à ética do desporto” e “Desafios atuais: a genética no desporto”, o evento, exclusivamente virtual, seguiu-se com dois Workshops: A – “O desporto e o desenvolvimento de valores, desde as idades jovens”, e B – “Ética do desporto nas leis e regulamentos”. A terceira parte do dia foi composta pela conferência “Integridade do desporto – novos riscos e novas exigências” e a mesa redonda “Desporto profissional/amador – especificidades em matéria de integridade”.
A conferência relativa à “integridade do desporto” foi moderada por Fábio Figueiras (presidente da Comissão Executiva do Ética Summit 2022), e contou com dois preletores: João Paulo Almeida (diretor geral do Comité Olímpico de Portugal – COP) e Luciano Hostins (diretor jurídico do Comité Olímpico Brasileiro), sendo o primeiro a ter a palavra. O gestor luso começou por levar ao público – composto por diversos países da comunidade lusófona – um vídeo em que um tenista argentino concedeu um depoimento em que falava da experiência de ter participado de um esquema de combinação de resultados. O atleta em questão, Nicolás Kicker, falou em tom reflexivo do arrependimento e dos valores do desporto.
A seguir, João Paulo Almeida ofereceu um questionamento aos participantes sobre intersecções éticas da atitude exemplificada, com situações que envolviam o mercado de apostas, corrupção e um conjunto de fatores fora do desporto e que a jurisdição desportiva não têm domínio “para assim ganharem em cima de um conjunto de fragilidades”, observou a apresentar um quadro global de manipulação de resultados e apresentando mais um vídeo, este do Comité Olímpico Internacional, sobre o tema da manipulação de resultados e dos esquemas financeiros envolvidos.
“Podemos observar uma maior tecnologia associada à criminalidade no desporto”, ressalta o diretor do COP. “Importa perceber porque motivo se colocam tantas ameaças a essa realidade e ao jovem desportivas de Portugal, de África, do Brasil”, acrescentou Almeida, sempre a levar exemplos práticos em diversos desportos – especialmente no futebol – para reflexões em conjunto. “É de todo perceber que o desporto tem vulnerabilidades que são atrativas a criminosos”, pontuou mais uma vez.
Em seguida foi a vez do preletor brasileiro Luciano Hostins, que começou justamente a falar sobre a nova gestão olímpica do Brasil – após casos de corrupção envolvendo o antigo presidente do Comité Olímpico Brasileiro (COB) Carlos Arthur Nuzman – e destacando os esforços da organização, atualmente presidido pelo ex-judoca e treinador da modalidade Paulo Wanderley, para superar os ruídos causados na imagem da instituição. “Já em Tóquio 2020, o Brasil superou o número de medalhas conquistadas no Rio 2016 (foram 21 medalhas, um recorde nacional, sendo duas a mais do que o ciclo anterior)”, observou Hostins.
A relação institucional entre COB e Tribunal de Contas da União foi também abordada. “Precisamos mostrar que estávamos aplicando bem os recursos das loterias, ou seja, levando aos atletas, ao alto rendimento, e a finalidade que se propunham os recursos”, disse, destacando uma série de medidas tomadas pela organização para maior transparência na aplicação dos recursos, como a criação de um conselho de administração ética, assim como a presença de 12 atletas (presentes em pelo menos um dos dois últimos Jogos Olímpicos) com representatividade no novo estatuto.
Foto: Ética Summit 2022/Reprodução
Após uma pausa de 15 minutos, o evento ganhou uma continuidade com a mesa redonda “Desporto profissional/amador – especificidades em matéria de integridade”. Além dos já presentes na sessão anterior – sempre acompanhada por um público superior a 120 pessoas simultâneas -, João Paulo Almeida, Luciano Hostins e Fábio Figueiras, juntaram-se o novo moderador Paulo Schimitt (presidente do Comité de Defesa do Jogo Limpo do COB e do Comité de Integridade da Federação Paulista de Futebol) e Karina Carvalho (diretora executiva/Transparência Internacional Portugal).
“Temos números avassaladores no Brasil, preocupantes, que dão conta de cerca de 90 partidas manipuladas em 2021 e este número já foi ultrapassado em agosto deste ano”, alertou Paulo Schimitt, antigo procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva no Brasil.
“Há um desafio enorme quando se fala em desporto profissional. (…) Há uma grande desafio para investimento na integridade e as autoridades públicas não dão importância para esse problema”, lamentou, a sugerir a criação de uma plataforma internacional contra um combate às fraldes no desporto. “Quando se fala em manipulação de competições é uma desproporção gigantesca relativamente ao que os criminosos aplicam de investimento e os recursos que temos para proteger essa integridade”, disse Paulo Schimitt.
“Os recursos estão voltados para a prática desportiva, para as competições, e o que acontece é que faltam agentes especializados nas federações e nos clubes desportivos para esse tema. Precisamos capacitarmos essas instituições”, alertou Karina Carvalho.
“Criar desde pequenos uma consciência nas crianças de que não é possível vencer a qualquer custo. Que nosso adversário não é o nosso inimigo. Com uma uma boa base ética na formação, creio que diminuiriam esses casos de manipulação e racismo, xenofobia, dentre outros”, acrescentou, através do chat do evento, o participante Silvino M. Cunha Jr, a acompanhar um debate que se aprofundou imensamente na matéria “integridade no desporto”.
O evento, exclusivamente virtual, é organizado pelo Panathlon Clube de Lisboa para a comunidade de língua portuguesa e tem a SportMagazine como media partner. O Ética Summit 2022 tem uma programação extensa ainda no domingo – esta pode aqui ser conferida.