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Sara Santos explica contexto do webinar sobre criatividade em jovens desportistas: “Todos têm potencial para desenvolver…”

Sara Santos irá ministrar um novo webinar na próxima terça-feira, 29. Foto: DR

Investigadora do Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano (CIDESD) e docente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e na Universidade da Maia (ISMAI), a professora Sara Santos vai apresentar o webinar  “Desenvolvimento de contextos facilitadores do comportamento criativo em jovens desportistas”, evento promovido pela Escola de Treinadores, a ser realizado na próxima terça-feira, a partir das 21h00. A formação é creditada com 0,4 UC para TPTD, online, gratuita, aberta para todos e de inscrição obrigatória.

Distinguida em 2018 pela Creative Education Foundation com a primeira bolsa Ruth B. Noller a ser atribuída em Portugal (esta distinção destaca a investigação emergente no domínio da criatividade, a nível mundial), a investigadora foi convidada pela Confederação de Treinadores de Portugal para um momento de qualificação com os profissionais do desporto do país.

Sobre a sua linha de investigação focada no treino para a criatividade, Sara Santos – coordenadora da Academia Skills4Genius, projeto este, cofinanciado pela Fundação Calouste Gulbenkian – conversou com a SportMagazine a destacar alguns dos pontos que abordará no webinar e como pode colaborar com os treinadores no sentido de otimizar o processo de preparação e qualificação do trabalho realizado.

Foto: UTAD

SportMagazine (SM) – Relativamente ao tema “Desenvolvimento de contextos facilitadores do comportamento criativo em jovens desportistas” que vai desenvolver no webinar, poderia falar um pouco dos pontos que será abordados sob esta perspetiva?

Sara Santos (SS) – Perspetivo revisitar e aprofundar um artigo publicado na revista SportMagazine, intitulado “O ‘desabrochar’ do comportamento criativo nos jogos desportivos: modelo de desenvolvimento para a criatividade no desporto” [disponível na edição n.º 1], julgo que na rubrica Ciência e Desporto. Portanto, irei começar por realizar um breve enquadramento ao estudo da criatividade no âmbito desportivo. Desta forma, pretendo refletir e sensibilizar os treinadores para a importância de promoverem contextos facilitadores do comportamento criativo junto dos jovens desportistas, independentemente das características da modalidade, uma vez que considero que todos os desportistas têm potencial para desenvolver a sua criatividade. Importa ressalvar que alguns desportistas possuem uma margem de expansão mais acentuada e outros mais reduzida.

Pretendo enaltecer a importância de existir uma mudança de paradigma no treino desportivo, uma vez que o treinador é um elemento de destaque que influencia a prática dos jovens jogadores sendo o responsável por criar ambientes favoráveis para o desenvolvimento da expressão criativa, nomeadamente a expressão criativa “Tipo P”. De uma forma muito genérica, o ambiente promovido pelo treinador, deve instigar a autonomia, a autossuperação, permitir a exploração constante de comportamentos técnico-táticos, instigar a variabilidade de movimento para que em última instância os jogadores assumam um perfil mais adaptativo e funcional. Para tal, o treinador, cada vez mais, deve assumir um papel de facilitador e permitir, por exemplo, uma coparticipação ativa por parte dos seus jogadores.

Pretendo enquadrar em detalhe o “Modelo de Desenvolvimento para a Criatividade no Desporto”, proveniente de um artigo publicado em 2016 [disponível em: Spawns of creative behavior in team sports. A Creativity Developmental Framework]. O respetivo quadro teórico comporta abordagens promissoras para desenvolver contextos que instiguem a criatividade ou respetivas componentes, e tem como objetivo orientar a prática dos treinadores para a criatividade..

Este modelo coloca em evidência a importância dos treinadores, durante as etapas iniciais da formação desportiva, privilegiarem a prática diversificada, jogo livre, desenvolvimento da literacia física, assim como, o ensino através do jogo, inclusão de variabilidade no processo de treino, mediada pela manipulação de constrangimentos. Estas abordagens compiladas permitem estimular os desportistas a explorar várias possibilidades de ação num treino ou no jogo, tornando-os mais adaptativos e inovadores, impossibilitando assim, que os jovens desportistas descubram autonomamente formas únicas de utilizarem as suas habilidades. Esta apresentação do modelo será enquadrada com exemplos práticos e sustentada em evidência científica que a nossa equipa de investigação tem vindo a desenvolver nos últimos anos.

Sara Santos é coordenadora da Academia Skills4Genius. Foto: CIDESD

SM – Ainda sobre o contexto da criatividade no desporto, existe diferença no trabalho realizado com jovens atletas em modalidades que são individuais e nas que são coletivas?

SS – O desenvolvimento da criatividade é importante e possível de ser desenvolvido em todas as modalidades. No entanto, os jogos desportivos coletivos comportam características (contexto aberto, altamente dinâmico, interativo, pressupondo uma tomada de decisão constante), que facilitam o surgimento de comportamentos criativos. Nas modalidades de especialização tardia existe um período de tempo mais amplo para investir em algumas das abordagens mencionadas no Modelo de Desenvolvimento para a Criatividade no Desporto como a prática diversificada, o jogo livre, e assim, fomentar a expressão criativa “tipo P”.

SM – Pretende incluir na apresentação algo relativo ao projeto que a desenvolveu, o Skills4Genius? Esse programa providencia contextos enriquecedores justamente relacionados ao tema do webinar…

SS – De facto, o último tópico a abordar e que pretende providenciar uma perspetiva prática da implementação do Modelo de Desenvolvimento para a Criatividade no Desporto [o webinar] são os pressupostos do programa Skill4Genius [disponível em: Effects of the Skills4Genius sports-based training program in creative behavior]. É um programa que pretende desenvolver competências socio emocionais, aptidão física, competência motora e a criatividade motora e cognitiva. Neste momento, está a ser implementado em diversas escolas e clubes desportivos.

O Skills4Genius foi implementado junto de mais de três mil crianças a frequentar o 1.º CEB e, mais recentemente, iniciamos a sua aplicação em clubes.

SM – A criatividade pode ser considerada como um fenómeno inesperado que vai para além daquilo que normalmente o atleta consegue fazer no contexto da sua performance desportiva. Então, esse fenómeno, por assim dizer, para estímulo de fatores como a inteligência, a percepção, a atenção, a memória, entre outros, pode ser treinado para acontecer com mais frequência, correto?

SS – Certo. Todas as componentes da criatividade, muito associadas, quer ao pensamento quer ao comportamento divergente, são passíveis de serem desenvolvidas em todas as modalidades. Contudo, como a área da criatividade é emergente a maioria da investigação está centrada nos jogos desportivos coletivos, essencialmente no futebol. Portanto, ainda há pouca evidência em outras modalidades desportivas. Neste seguimento, irei desafiar os treinadores a adaptarem e incorporarem algumas das estratégias do programa Skill4Genius nas suas práticas.

Por fim, reforçar junto dos treinadores que a criatividade deve ser reconhecida como parte integrante da filosofia do treino e do treinador, e não um elemento adicional, não deve ser vista apenas como algum adicional e descontextualizado do processo, por exemplo, considerada apenas no aquecimento, determinados um exercícios. É da competência do treinador desenvolver um contexto que desafie e empodere os jogadores.

SM – Em que posição colocaria o desenvolvimento de Portugal em relação aos demais países europeus, por exemplo, nesta competência criativa? É um campo de pesquisa novo, como então o nosso país está colocado neste ponto?

SS – Efetivamente, toda a investigação realizada no âmbito da criatividade desportiva é escassa. Uma revisão da literatura publicada por Francisco Fardilha (2019), destaca que é prematuro avançar com “panoramas”. No que concerne à minha experiência, importa reforçar, que os treinadores têm interesse e motivação para mudar o paradigma no treino desportivo, no sentido de promoverem contextos facilitadores do comportamento criativo e, consequentemente, uma preparação desportiva mais sustentada.

Imagem: Treinadores de Portugal

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