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Marcos Antunes e o prestígio do treinador português levado a Angola: “Aquilo que se passou no futebol está a acontecer no futsal”

Marcos Antunes é o novo selecionador nacional de futsal de Angola. Foto: Arquivo Pessoal

Natural do pequeno concelho de Resende, no distrito de Viseu, Marcos Antunes foi anunciado há uma semana como o novo selecionador nacional de futsal de Angola. O treinador de 45 anos assume o principal cargo da modalidade do país com a missão de fazer o desporto ainda mais forte e sob a “pressão” de justificar a excelente fama dos treinadores portugueses.

Após 20 anos como coordenador técnico da escola de futsal Os Afonsinhos, em Viseu, Marcos Antunes recebeu o convite em 2021 para se tornar o coordenador técnico dos escalões de formação da seleção angolana. O trabalho apresentado logo rendeu frutos a ponto de Marcos ir ao Mundial da Lituânia, vencido por Portugal no ano passado, como “team manager” africano. Não tardou até o convite para assumir o comando da equipa principal, a suceder ao angolano Rui Sampaio no cargo.

Em entrevista à SportMagazine, o agora novo selecionador nacional de futsal de Angola falou sobre a influência do Selecionador Nacional Jorge Braz para a revolução no patamar e no prestígio dos treinadores portugueses de futsal, do desenvolvimento do trabalho a ser realizado no país africano e dos objetivos que possui no novo cargo.

SportMagazine (SM): Primeiramente, gostaria que o Marcos falasse um pouco da trajetória em Angola até a chegada à seleção nacional de futsal.

Marcos Antunes (MA): Os meus pais e avós são angolanos e desde muito pequeno há uma relação muito próxima com a cultura, fui crescendo com as pessoas, com o afeto, com a própria a alimentação, a música, e faz parte um bocadinho daquilo que é a minha personalidade e forma de estar e de ser. Sou português, orgulhoso, mas sempre tive essa costela angolana e em junho de 2021 fui convidado pela federação angolana de futsal para ser o coordenador técnico da formação e de projetos técnicos desportivos da federação, num projeto ambicioso, onde durante muito tempo demos formação a treinadores, a dirigentes, levámos às mais altas personalidades portuguesas, como o próximo selecionador Jorge Braz, além Kitó Ferreira, André Crud, Joel Rocha, Estevão Cordovil a dar formação em Angola, a melhorar todos os processos e a criar um trabalho diferenciado a fazer que o futsal em Angola conseguisse ser cada vez mais potencializado e cada vez mais organizado para atingir os patamares que atingimos.

SM: E como está a ser este arranque de trabalho?

MA: Então, fomos fazendo esse desafio em Angola, fui trabalhando constantemente na dinamização do futsal e naquilo que eram os procedimentos que eu entendia que eram necessários, juntamente com a federação, para dar uma imagem diferente do que era o futsal angolano. E depois, consequentemente, a partir dessa data [junho/2021], começou a haver a possibilidade de eu estar inserido no grupo final dos 24 eleitos para o Mundial da Lituânia de Futsal [no ano passado, onde a Angola acabou eliminada na primeira fase]. Houve essa possibilidade nas funções de “team manager”, que muito me honraram. Tive a possibilidade de mostrar e de estar dentro de um trabalho de organização e estratégia e preparação para aquela que é a prova mais importante do mundo. Portanto, a minha relação com Angola vem desde a minha essência. Fui ganhando algum prestígio e reconhecimento entre as pessoas e depois do Mundial senti o reconhecimento enorme por toda aquela que foi a minha dedicação e que foi a minha prestação neste momento.

SM: Como novo selecionador nacional de Angola, qual o maior desafio esperado nessa função?

MA: O maior desafio é sempre fazer melhor. Ou melhor explicando como dizia o Larry Bird, deixar o desporto um pouco melhor do que aquilo que encontrámos. A ideia é trabalharmos muito, focarmos naquilo que é essencial, adaptar metodologias ao contexto que temos, o africano, e a partir daí criar um plano de desenvolvimento, de organização um pouco diferente que permita a muito breve prazo nós consigamos ser uma referência africana no futsal. Quem me conhece sabe que uma das minhas características são a parte organizativa e persistência na conquista. São com esses moldes que eu parto para esse desafio que muito me honra. E o desafio é poder fazer com que o futsal em Angola cresça, desenvolva e pronto, estou um bocado limitado para responder a todas as questões por questões contratuais, mas a ideia é trabalhar muito. E uma das coisas que eu prometo é muito trabalho, muita persistência, muita luta para que no final possamos alterar o processo e depois ter junto de nós aquelas pessoas que merecem estar no resultado final e que seja um projeto de expansão, que seja um projeto de crescimento e de evolução do futsal. É essa a minha missão e dedicação.

SM: De uma forma geral, com o sucesso da nossa Seleção Nacional e o destaque aqui do Jorge Braz, como é que olham aí para os treinadores portugueses de futsal?

MA: A questão aqui quando fala-se dos treinadores e ao termos o três vezes, e acredito que seja a quarta brevemente, o melhor selecionador do mundo, o mister Jorge Braz, campeão da Europa e do Mundial, temos um conjunto de treinadores portugueses que são apreciados pelas suas características e forma de trabalhar um pouco parecido com aquilo que se passou há uns tempos no futebol, penso que estar a acontecer no futsal. As pessoas percebem que há uma organização diferente, há uma forma de olhar e estruturar os projetos de uma forma mais abrangente e profissional, e sobretudo competente. e nesse sentido é muito fácil que nos contatem porque neste momento eu penso que a escola de treinadores portugueses de futsal é a melhor do mundo tendo ultrapassado a espanhola e mesmo a brasileira porque vê-se no reflexo do trabalho. É lógico que isso é cíclico, daqui a mais algum tempo se calhar vai estar outra vez o Brasil, outra vez a Espanha, mas sinto que há aqui uma maneira de observar as coisas e uma dinâmica imposta que leva com que as pessoas de fora de Portugal de facto reconheçam competência, qualidade, muito profissionalismo naquele que são os treinadores portugueses e naquilo que são os seus trabalhos. não tenho qualquer tipo de problema em dizer que o treinador portugueses faz tudo o que tiver ao seu alcance para unir a modalidade em que está inserido, neste caso o futsal. e essas dinâmicas e ideias de união e comprometimento e alinhamento são muito importante para que todos percebam que há um projeto e que esse projeto tem que ser de excelência e por isso o treinador português é visto com essas todas qualidades que eu falei, cada vez mais de forma mais expansiva e este reconhecimento é notório nas mais variadas modalidades incluindo o futsal.

SM: Fala-se muito de falta de estrutura para desenvolver o trabalho técnico dos atletas em Angola. Isso é um problema para o treinador?

Marcos Antunes esteve no Mundial da Lituânia como team manager de Angola. Marcos Antunes/Instagram

MA: Quando fala-se na estrutura em Angola, eu relembro que há pouco tempo tivemos um Campeonato do Mundo em Hóquei em Patins aqui no país. Há alguns pavilhões novos, se calhar subvalorizados, pouco utilizados, mas que poderão ser importantes para o desenvolvimento da modalidade. Mas aproveito para relembrar que, quando falam em estrutura e se tem a ideia que está tudo mal, foi organizado um campeonato nacional em Benguela, em novembro e dezembro, e havia 22 equipas masculinas, nove femininas, em dois pavilhões bastante agradáveis, onde se fizeram todos os apuramentos até as fases finais com muita qualidade. A questão aqui, por vezes, é a falta de material, a falta de material de treino, de bolas, que é algo muito difícil de conseguir a preço de custo, e isso faz a diferença. É também a nossa missão nesse projeto tentar modificar as ideias do mercado a nível do material desportivo e criar dinâmicas de forma que possamos ter toda a gente com acesso ao material desportivo, ao material de treino para assim criarmos condições logísticas muito mais apetecíveis para a prática da modalidade. É esse que vai ser um dos grandes desafios da direção. É uma direção de gente inteligente, de gente formada, e percebem essa abrangência e estrutura que podemos arranjar à volta do futsal tentando potencializar ao máximo a própria dinâmica empresarial, da autossustentabilidade e é nesse sentido também que se quer melhorar a infraestrutura, melhorar as que há e criar mais, mesmo que ao ar livre, e sobretudo ter material para potencializar e reocupar essas estruturas de forma qualitativa e profissional.

SM: E qual o seu objetivo a curto prazo, como selecionador angolano, e a longo prazo? Pensa em regressar e trabalhar em Portugal?

MA: Depois da presença no Mundial, os convites foram bastantes. Tive que ponderar muitas coisas, muitas situações, mas a relação que vinha de amizade com grande parte dos membros de cada direção da anterior estrutura técnica, e os próprios jogadores, fizeram-me acreditar que este era o projeto certo neste momento. Os objetivos são, conforme já disse atrás, proporcionar novas experiências, poder valorizar aquilo que é o meu trabalho agora numa função de treino que eu gosto e é a minha área. Acredito nas pessoas e portanto o projeto que me foi apresentado, e toda a estrutura que está à volta, foi um factor de peso decisivo para aceitar este convite, sendo que eu gosto muito de participar, de estar nas coisas, mas gosto de acrescentar, sobretudo. Partilhar e acrescentar. É nesta missão que estou enquanto selecionador. De futuro, pensar em regressar e trabalhar em Portugal… a vida de um treinador é sempre cíclica. Vamos estar sempre sob avaliação. Mas não tenho receio, durante esse tempo fui conquistando algum prestígio, algum reconhecimento, mas é sempre com o meu suor. Não passo por cima de ninguém e com essas características lógico que acredito que, brevemente, poderei estar num projeto em Portugal, sendo que neste momento o meu projeto é Angola, é ser selecionador nacional de futsal em Angola. E sobretudo vestir essa camisola com alma e coração e com aquela dedicação que me é reconhecida para que eu possa fazer a diferença quer nos jovens quer nos jogadores mais adultos porque é essa a minha missão e o meu foco neste momento.

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