Luís Santos, selecionador nacional da Seleção Nacional Feminina de Sub-18, é também o diretor do Curso de Treinadores de Andebol de Grau 4. Este curso decorre entre janeiro de 2023 – o primeiro módulo online encontra-se, de momento, a decorrer, tendo tido início no dia 3 e terminando este domingo, 8. De realçar que existem seis módulos, três presenciais e três online – com o curso a decorrer até janeiro de 2024.
O técnico falou com a SportMagazine sobre aquilo que é a formação do treinador e a sua importância. Para além disso aborda também o Curso de Treinadores de Andebol de Grau 4 da Federação de Andebol de Portugal e de que forma a tecnologia pode, nos dias de hoje, influenciar e ajudar o trabalho dos treinadores – isto devido à existência de disciplinas ligadas a este tema no curso.
Treinador há cerca de 20 anos, com passagens pelo FC Porto – como adjunto -, FC Gaia, o Artística de Avanca e o GC Santo Tirso. A carreira de Luís Santos fica também marcada pelo honroso 13º lugar conquistado pela Seleção Nacional Feminina de Sub-18, a qual comanda, no Campeonato do Mundo disputado em agosto de 2022 na Macedónia do Norte. Para além disto, o técnico é Mestre em treino de alto rendimento e agora diretor do Curso de Treinadores de Andebol de Grau 4, conforme já foi referido.
SportMagazine (SM) – Que importância tem a formação do treinador para o desporto?
Luís Santos (LS) – A formação do treinador é o principal pilar de desenvolvimento desportivo se tivermos em conta o longo prazo. Quando pensamos no desenvolvimento de jovens praticantes a longo prazo, sabemos que a qualidade dos treinadores que os praticantes encontram nesse percurso pode marcar a diferença no alcance de uma carreira desportiva de alto nível. Por esse motivo, os clubes têm que investir cada vez mais na qualidade dos treinadores, dando-lhes condições para que se mantenham atualizados e motivados para o desempenho da profissão, ainda que maioritariamente o façam sem ser em regime de exclusividade.
SM – Com este grau 4, o que é que os treinadores adquirem que não conseguem adquirir sem o mesmo?
LS – A estruturação deste curso procura dar uma oportunidade e experiência aos treinadores de andebol de um contexto altamente profissional. Desde questões relacionadas com a constituição de equipas técnicas multidisciplinares, análise da própria equipa e dos adversários, estratégias de comunicação, agenciamento, motivação, preparação física, tática e estratégica até questões mais específicas como estruturação do planeamento e estratégias para afrontar calendários competitivos congestionados com dois jogos por semana. Pretendemos que adquiram skills para fazerem parte de equipas técnicas multidisciplinares a nível nacional e internacional. Acresce a isto o facto de, no final deste curso, além dos treinadores adquirirem o seu título de grau 4, ficarem também com a EHF Pro License que permite treinar qualquer clube e seleção no contexto nacional e internacional.
SM – Sente que ainda há algo a melhorar naquela que é a formação dos treinadores em Portugal?
LS – Podemos acrescentar que a própria Federação está em contínua evolução com o intuito de adaptar os conteúdos, as necessidades atuais e específicas. É evidente que existe muito por onde melhorar. A Federação tem uma visão de formação dos treinadores que procura neste momento ajudar a melhorar a mentalidade do treinador português. Maior comunicação entre todos, criação de um espírito crítico e trabalho prático em contexto de campo e de grupo para que exista uma maior partilha entre todos, à semelhança do que acontece com os treinadores de andebol de outros países. Ainda se encontram naturalmente algumas barreiras por parte de quem olha para a formação como uma obrigação, mas estamos contentes com o feedback que temos recebido, especialmente daqueles que sentimos que olham para a formação como investimento e forma de progredir na carreira.
SM – Com toda a informação que irá ser disponibilizada aos treinadores que participarem, que conhecimentos deverão eles adquirir no fim do ano?
LS – O maior desafio, para além do domínio das áreas já referidas anteriormente, é que os treinadores no final do curso sintam que estão preparados para o contexto internacional e que têm estratégias claras para adaptar ao contexto em que não tenham as condições ideais. No entanto, importa relembrar que a proporção do conhecimento adquirido está relacionada com a atitude e a forma como o treinador encara o processo de formação, tal como dois cozinheiros que têm os mesmos ingredientes à sua disposição e no final conseguem cozinhar pratos bem distintos.
SM – Neste curso existe uma parte dedicada à tecnologia. De que forma é esta cada vez mais importante na formação do treinador?
LS – Planeamos os cursos para preparar os treinadores para o presente e essencialmente para o futuro. Seguindo a tendência atual e antecipando o futuro, a Federação implementou de forma vertical em todos os cursos a utilização de uma ferramenta informática que permite aos treinadores planear o processo de treino, partilhar exercícios, controlar o processo e além disso, nos cursos de grau 3 e grau 4 o recurso à análise de vídeo; e tudo isto integrado na mesma ferramenta. Isso para nós tem sido um upgrade fundamental e o feedback dos treinadores tem sido cada vez mais positivo. Estamos a formar uma geração de treinadores mais organizados ao nível do planeamento e controlo do processo e isso terá certamente repercussões nos próximos anos. Se pensarmos que os clubes internacionais cada vez mais utilizam o recurso a tecnologias, os treinadores portugueses poderão abrir outro mercado ficando aptos a sair para o estrangeiro e serem competentes na utilização da tecnologia ao serviço do rendimento.