Próximo de completar cinco meses à frente da equipa brasileira do Botafogo, o treinador português Luís Castro vive um dos maiores desafios da carreira. Aos 60 anos, o profissional com mais de uma década de serviços prestados ao Futebol Clube do Porto, faz uma temporada com resultados irregulares com o Alvinegro do Rio de Janeiro. Com a missão de construir uma estrutura sólida no clube recentemente comprado pelo investidor norte-americano John Textor, que transformou o tradicional clube numa empresa, o treinador português, colunista da SportMagazine, tem que gerir as expectativas de uma grande época e mantém o discurso de quando chegou: o importante, para já, é evitar a despromoção.
“É claro que nós vamos ajustando os nossos objetivos em função dos momentos em que vivemos na época. Neste momento, o objetivo mais coerente é ficar na Série A da forma mais confortável possível”, afirmou Luís Castro, em entrevista à SportMagazine.
O Botafogo ocupa uma zona central na classificação do Campeonato Brasileiro, sendo o 12.º classificado com 24 pontos. Mais do que manter a equipa na elite nacional, o treinador natural de Vila Real tem também a função de ajudar na reconstrução do clube, que por exemplo não tem um centro de treinos – o que, para já, planeiam como fazer. Ainda a contratar reforços e a lidar com a pressão dos adeptos, que querem resultados rápidos, o treinador admite que o desafio está a ser maior do que o imaginado.
“O desafio é muito maior do que eu pensava. Eu sabia que vinha para uma construção, não vinha para fazer um plantel e pôr uma equipa a ganhar e só. Havia mais coisas à minha volta que tínhamos que olhar e temos que dar muita atenção. Agora, partimos mesmo do zero. Está a dar muito trabalho. Provoca muito desgaste. É preciso muita resiliência, é preciso não desistir, é preciso todos sermos fortes e todos entendermos o momento, porque o momento é muito difícil, de uma construção extremamente difícil”, começou por dizer.
“Normalmente, falando um pouco do elenco, quando nós temos um problema num elenco, um elenco que é muito forte não são duas ou três ausências que fazem o elenco abanar. Neste caso em concreto estamos numa fase que o elenco abana um bocado quando faltam esses elementos. É assim em todas as equipas no mundo, quando faltam um ou dois jogadores muito importantes, a equipa sente e o Botafogo então sente muito mais porque não é uma estrutura que esteja muito forte ainda, é um plantel ainda em construção com uma forma de jogar ainda em construção. Vivemos ainda muita instabilidade fruto de tudo isso que acabei de dizer”, completou Luís Castro.
Enquanto isso, John Textor diz ter gastado o dobro do que previa para o Botafogo. Em entrevista esta semana ao jornal francês “L’Equipe”, em que falou principalmente sobre a compra de ações do Lyon, o investidor norte-americano não escondeu que está a fazer o possível para fazer do Botafogo uma equipa forte. E para isso conta com Luís Castro. O treinador, por sua vez, está a usar do conhecimento que tem do mercado português.
Dos 15 reforços do Botafogo nesta temporada, seis vieram do futebol português. Na primeira janela de transferências, Saravia, Lucas Fernandes, Piazon e Gustavo Sauer chegaram ao clube Brasileiro. Há poucas semanas foram as vezes de anunciou Marçal e Eduardo chegarem. Nomes que agregam força, mas não iludem o comandante da equipa.
“Nos outros anos, estive em clubes para ser campeão, para ganhar títulos e ganhámos títulos. É diferente de estar numa equipa em construção e que os títulos estão distantes ainda. Ainda! Num futuro mais próximo, penso que vão estar mais ao alcance. Temos que ter uma capacidade muito forte de perceber cada um dos momentos da época. Felizmente, eu e a minha equipa técnica temos ido essa capacidade e estamos muito fortes para continuar até o fim e atingir os objetivos”, pontuou.
Em Portugal, Luís Castro já passou por Águeda, Mealhada, Estarreja, Sanjoanense e Penafiel, depois o FC Porto (onde chegou a assumir a equipa principal em 2013/14), acabando mais tarde por comandar o Rio Ave, o Desportivo de Chaves e o Vitória de Guimarães. Acumula ainda recentes passagens vitoriosas no Shakhtar Donetsk (conquistou um campeonato ucraniano) e no Al Duhail (vitória na Taça do Emir do Qatar). Entre equipas maiores e menores, chegou conhecedor de diferentes realidades para tentar implantar o seu pensamento de trabalho no Botafogo.