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João Rodrigues: “Um dos estigmas que a vela tem é que é uma modalidade praticada por elites”Exclusivo 

João Rodrigues, ex-atleta olímpico. Foto: Lourenço Rodrigues - Filmable

O Congresso da Vela decorreu no passado dia 15 de outubro, sábado, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, organizado pela Federação Portuguesa de Vela. Presente neste evento esteve o português com mais presenças nos Jogos Olímpicos na modalidade – sete -, João Rodrigues.

João Rodrigues falou com a SportMagazine no Congresso da Vela, assinalando, primeiramente, a importância de um congresso como este para a modalidade. O ex-atleta olímpico afirma que “é uma forma de discutir, não só vela, mas também que estratégias é que podemos ter para desenvolver esta modalidade que tem um país com todas as condições para ser uma modalidade de referência”.

No que à visibilidade da vela diz respeito, João Rodrigues reconhece que a modalidade não é tão vista como deveria ser. No entanto, defende que o país devia olhar mais para esta modalidade e igualar aqueles que são os investimentos dados pelo Estado às demais modalidades.

“Um país que se intitula como país de marinheiros, mas depois quando vemos os federados isso não se reflete. Temos 3000 federados, creio eu, acho que nem chega a 3000, num universo de muitos milhares de federados no país. E isso depois faz-me pensar porque é que isso acontece. E aqui foi referido que um dos estigmas que a vela tem é que é uma modalidade praticada por elites, porque é cara, porque exige um envolvimento dos pais para aqueles que conseguem singrar. Sou um exemplo de que isso não é verdade. Mas estes dogmas temos de desmontar (…) A vela não é um desporto caro, a vela é uma modalidade tão cara como as outras que se praticam em ambientes artificiais, mas a nossa diferença é que o nosso campo de jogos é de graça e está aberto 365 dias por ano. Todas as outras modalidade necessitam de um pavilhão, de uma piscina, que alguém os abra e que os mantenha, e tudo isto tem um custo que não é visível, é assumido pelo Estado. Então o que se faz com aquelas modalidades que não têm pavilhão? Mas precisam de barcos para lá chegar, portanto este paradigma tem de ser desmontado. Não é que nós queiramos ter mais investimento que as outras modalidades têm, não. Nós queremos é uma distribuição equitativa daquilo que é o que o Estado faz e bem”, disse.

O atleta olímpico, cuja última participação nos Jogos Olímpicos foi em 2016, relembra aquele que foi, segundo o próprio, o momento mais bonito da sua carreira desportiva. Momento este que fechou 30 anos de representações e 170 internacionalizações.

“Se pudesse resumir num momento aquilo que significou tudo isso foram os 30 segundos que eu entrei no Estádio do Maracanã com a bandeira de Portugal como porta-estandarte e isso foi a cereja no topo do bolo e foi o momento mais bonito da minha carreira desportiva (…) Poder representar Portugal, desde a primeira vez que saí da ilha até acabar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, foi sempre um motivo de orgulho poder fazê-lo”, relembrou.

Aquando perguntado acerca da nova geração da vela, nomes como Guilherme Cavaco e José Mendes, João Rodrigues realça os diferentes desafios que esta geração tem pela frente, comparando com o seu tempo de jovem atleta. Para além disto, o atleta olímpico deseja o melhor aos novos atletas e espera que consigam singrar e fazer aquilo que ele e outros históricos da vela portuguesa não conseguiram fazer.

“Em relação a esta nova geração, eles têm desafios completamente diferentes daqueles que eu tinha há 40 anos atrás, que foi quando esta história toda começou, mas têm outras oportunidades. E eu acho que eles têm que, no fundo, pôr mãos à massa e tentar tirar partido das mais-valias que é viver num país como nós. Nós temos realmente problemas estruturais, temos questões difíceis de ultrapassar, mas temos coisas muito boas para que eles possam singrar. É nisso que eles têm que se focar e acho que eles se perdem um pouco naquilo que o país não pode dar e tem que se focar nas oportunidades que têm aqui. Eu vejo paixão neles, desde que eles tenham paixão, acreditem em si e no projeto que estão a desenvolver, no final o universo vai dar aquela ajudinha para que eles cheguem lã e eu estou na esperança que eles possam ter percursos melhores que os nossos [João Rodrigues, Hugo Rocha e Vasco Serpa, históricos da vela]. Houve muitas coisas que nós não conseguimos fazer e quem sabe se eles não vão conseguir singrar nesses caminhos”, disse.

João Rodrigues lançou recentemente um livro sobre histórias dos Jogos Olímpicos 2020, em Tóquio, o ‘Oito – Os Jogos Olímpicos por dentro’. O ex-atleta viajo até ao Japão para fazer parte da competição. Não como atleta, mas como adido olímpico.

1 Comentário

1 Comentário

  1. Furtado

    Outubro 19, 2022 at 12:56 pm

    Temos 800km de costa atlântica, vários rios com estuários magníficos, lagos artificiais, isto é condições ideais de praticar desportos aquáticos, vela, remo, surf, Wind Surf ski náutico e outras modalidades similares, etc, só falta vontade política. Quanto custa ao erário público o futebol? E quantos são os portugueses que praticam esta modalidade?
    Faz-se uma publicidade enorme a um desporto que é mais de café que de praticantes, tornando-se numa alienação social.

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