Principal nadadora em águas abertas de Portugal, Angélica André prepara-se para fazer o que nenhuma outra atleta da sua categoria conseguiu no país: ir a dois Jogos Olímpicos consecutivos. Para isso, segue uma rotina de treinos intensa: com até 90 quilómetros de natação semanal – sem contar os exercícios físicos e a dedicação fora da água.
Aos 27 anos e completando esta semana seis meses da troca do Clube Fluvial Portuense, onde esteve nos oito anos anteriores, pelo FC Porto, Angélica André foi recentemente a quarta classificada na prova de 10 quilómetros da Taça da Europa de águas abertas em Israel e, em seguida, medalha de bronze nos 1.500 metros livres femininos do Campeonato Nacional de Juvenis, Juniores e Absoluto 2022.
A trabalhar para superar o 17.º lugar alcançado em Tóquio 2020, onde igualou a melhor marca nacional em águas abertas, mas até hoje ainda se mostra insatisfeita com o resultado, Angélica André conversou com a SportMagazine sobre o bom início de temporada, a rápida adaptação ao FC Porto, a parceria com o experiente treinador José Manuel Borges e apontou os planos a curto e longo prazo na carreira.
SportMagazine (SM) – Para uma nadadora de longa distância no alto rendimento, seguramente há de haver uma rotina de treinos intensa e bastante forte. Poderia explicar como são planeados os seus treinos e falar um pouco do seu dia a dia?
Angélica André (AA) – Atualmente, faço 10 treinos de água semanais com cerca de duas horas e 30 minutos cada, perfazendo mais ou menos os 80 km a 90 km semanais. Acrescentando a isso, faço também 30 minutos de alongamentos e flexibilidade antes de cada treino de água e três sessões de ginásio por semana.
O meu dia a dia passa por acordar por volta das 5h40 e ir treinar das 6h30 até 9h. Depois disso, vou para a faculdade e regresso outra vez à piscina das 15h00 até as 17h30. Nos dias que tenho ginásio, faço-o logo a seguir ao treino da tarde e nos outros dias faço o meu estágio de faculdade com os cadetes até às 19h. Após isso, regresso a casa e tento estar na cama por volta das 21h/21h30 para recuperar para outro dia.
SM – Foi há poucos dias quarta classificada na prova de 10 quilómetros da Taça da Europa de águas abertas em Israel numa das primeiras competições após a sua chegada no FC Porto. Como avalia o seu desempenho nesta competição e como está a adaptação à nova casa?
AA – A classificação foi boa e estou contente com resultado, mas não está perfeita e ainda longe de estar. Existem ainda coisas a melhorar, mas com este resultado já foi dado mais um passo para isso e mostra que estamos no caminho certo.
A adaptação foi muito rápida, não tive dificuldades nenhumas em estar no FC Porto. Toda a equipa acolheu-me muito bem e sinto que eles são importantes para eu continuar a evoluir.
SM – Atualmente é treinada pelo José Manuel Borges, é um dos mais prestigiados técnicos portugueses e com várias presenças em Jogos Olímpicos. O que diria ter sido já a maior contribuição dele nesta nova parceria?
AA – O primeiro clube em que eu pensei aquando da mudança foi o FC Porto precisamente pelo facto do técnico principal ser o José Borges, por ser uma pessoa que prezo, respeito, admiro e acredito. Já tinha “trabalhado” com o José quando este era selecionador nacional de águas abertas e marcou-me muito pela positiva. Devido a toda a sua experiência e método de trabalho é o técnico que tenho confiança para a minha preparação. Em termos da maior contribuição desta parceria, é o facto de continuar a evoluir, não só em águas abertas como também em natação pura, de consolidar resultados e de confiança no processo que estamos a traçar.
SM – Para este ano, quais seriam os principais objetivos da Angélica?
AA – Os principais objetivos desta época são sem dúvida o Mundial de maio e o Europeu de agosto, é para isso que está o nosso foco e o objetivo é sempre fazer o melhor e melhorar em relação às edições anteriores.
SM – Certamente, tentará ser a primeira mulher lusa a estar em dois Jogos Olímpicos nas águas abertas. O planeamento de carreira atual tem como grande objetivo Paris 2024?
AA – O planeamento atual tem vários objetivos intermédios ao longo do mesmo, mas sim Paris 2024 é o objetivo final.
SM – Foi 17.ª classificada na prova de 10 quilómetros dos Jogos Tóquio 2020 e é público que não ficou satisfeita com o resultado. O que julgaria ser um bom resultado em Paris e como espera chegar fisicamente até lá?
AA – Ainda não estou satisfeita com o resultado de Tóquio porque ambicionava mais. Apesar de ter dado tudo naquele momento, continuo a sentir que consigo mais e melhor. O que posso dizer é que até Paris 2024 vou trabalhar e focar-me para chegar lá na minha melhor forma e lutar pelo melhor resultado possível.
SM – Por fim, como avalia a evolução de Portugal na modalidade de águas abertas e o que acha que podemos melhorar ainda?
AA – Nos últimos anos, acho que a aposta de Portugal em águas abertas tem vindo a evoluir, mas ainda há um longo percurso a percorrer. Muitos poucos são aqueles que investem desde cedo nas águas abertas e apesar de termos tido bons resultados internacionais ainda precisamos de trabalhar mais e apostar mais para estarmos ao lado dos melhores com mais atletas.