A ginástica de trampolim tornou-se uma modalidade olímpica relativamente há pouco tempo, com estreia em Sidney 2000, na Austrália. Desde Atenas 2004, entretanto, Portugal passou a ter representantes. E esteve sempre presente com pelo menos um ginasta em todos os cinco Jogos desde então. É uma modalidade em plena expansão no país, mas que ainda requer maiores investimentos em estrutura e estímulo à prática.
A necessidade de oferecer à modalidade uma base mais sólida, com mais apoios e segurança, é um dos pontos abordados numa longa entrevista realizada pela SportMagazine com a dupla Diogo Abreu e Pedro Ferreira, medalha de bronze no Trampolim Sincronizado, na Taça do Mundo de Baku, em fevereiro deste ano, no Azerbaijão.
Diogo Abreu, inclusive, foi o representante nacional nas duas últimas edições dos Jogos Olímpicos (16.º no Rio 2016 e 11.º em Tóquio 2020). O ginasta de 28 anos nascido nos Estados Unidos, mas naturalizado português, treina desde os 7 anos no Sporting e é um dos principais atletas de sempre no trampolim nacional. Entre as muitas medalhas em competições internacionais, destaca-se um 4.º lugar individual, três medalhas em europeus por equipas, e a medalha de prata por equipas, no Mundial de São Petersburgo, em 2018.
Ao lado de Diogo, Pedro Ferreira, vilacondense de 24 anos, foi vice-campeão mundial por equipas. Soma também duas medalhas em Taça do Mundo sincronizado (2016 e 2021) e um bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude, em 2014, além de três medalhas conquistadas em Europeus. Ambos fazem parte de uma vitoriosa geração de ginastas portugueses que avaliam a modalidade como promissora, mas carente de apoio.
Diogo Abreu, mestre em engenharia elétrica pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, e Pedro Ferreira, engenheiro aeroespacial pela Universidade de Lisboa, defendem a importância de conciliar os estudos com o desporto. A dupla de atletas do Sporting e da Seleção Nacional falou com a nossa reportagem sobre vários temas, como a rotina de treinos, a relevância dos treinadores, a saúde mental, os planos para as próximas competições e o sonho de Paris 2024.
SportMagazine (SM) – O que todos veem nos trampolins seguramente corresponde a muito empenho e abdicação também fora dele. Podem falar um pouco como é a rotina de treinos de um ginasta de elite?
Pedro Ferreira – Eu faço sempre os treinos em conjunto com o Diogo [Abreu] e portanto o que eu estou a dizer é igual a ele. Fazemos treinos de segunda a sexta-feira, uma vez por dia. Agora estamos a fazer das 14h30 às 17h00, com 15 a 20 minutos de aquecimento. Fora do trampolim, sempre fui acompanhado mais por alguém que me ajudava no treino físico, mas agora mudámos de espaço e temos um preparador físico que nos está a acompanhar, que é uma coisa nova. Tem sido desde setembro, penso eu. E o Diogo agora está a fazer comigo os mesmos planos. Normalmente, isso acontece duas vezes por semana. Às vezes, posso ou não fazer um treino aos sábados também, mas é uma opção.
Diogo Abreu – Como o Pedro disse, treinamos quase sempre juntos. Há algumas fases, mas são fases mais curtas em que treinamos bidiários no trampolim. E aí seria no máximo duas vezes por semana com treinos bidiários. Mas temos verificado também que não podemos fazer durante muito tempo esse ritmo porque em termos de desgastes físicos saltar em cima do trampolim pode ser um exercício de curta duração, mas é de alta intensidade. Então, não podemos fazer durante períodos muito longos. Não podemos estar a desgastar tanto assim o corpo e por isso só fazemos durante algumas fases mais curtas. De resto, acho que de todas as ginásticas, o trampolim é uma disciplina de alta precisão e perfeição em tentar atingi-la e isso também faz com que tenhamos que treinar durante muitos anos seguidos. Eu comecei aos 7 anos e estou há 20 anos a fazer trampolins [Pedro começou aos 7 anos e está com 24]. A carga de treino tem que ser regular, mas também tem que ser muitos anos, não há muito como fugir.
Pedro Ferreira – Os saltos que fazemos com quatro, seis metros de altura, com muitos mortais, piruetas, não é algo que precisamos acordar às 6h da manhã para fazer um bidiário. Se calhar vale mais a pena trabalhar a perfeição do que muitas vezes o volume de cansaço que só vai ser prejudicial à técnica em si. A verdade é que se estivermos muito cansados, quer a nível mental ou físico, para fazer essas acrobacias, as coisas podem correr mal. Temos que estar bastante descansados e em forma para conseguir fazê-las.
SM – E, de facto, hoje em dia há uma preocupação imensa com a questão da saúde mental. É algo cada vez mais recorrente em vários desportos, passa pela Simone Biles na própria ginástica, no Gabriel Medina, no surf, e em vários outros exemplos. Como a dupla lida com essa pressão de estar sempre a buscar o melhor e a conquistar medalhas?
Pedro Ferreira – O componente mental é importante em qualquer que seja o desporto obviamente. Sem dúvida é bastante importante e temos que ter cuidado com isso. Acho que no que toca a nós, visto que neste momento fazemos isso de forma profissional, não foi assim desde sempre. Já sofremos um bocado mais do que antes, mas temos que perceber que não podemos fazer mais do que o nosso melhor. Isso não deve nos acrescentar pressão, temos que fazer isso porque gostamos. Ninguém entrou no trampolim por dinheiro nem por fama, se não fazemos porque gostamos não vale a pena fazer isso.
Diogo Abreu – Nos trampolins, como é um desporto menos conhecido e há pouca gente que faz de maneira profissional, entrámos porque achávamos que era giro e foi assim durante muitos anos. Para mim, ainda é assim e para o Pedro também. Vamos para o treino muito com a mentalidade de fazer algo que gostamos de fazer. Não vamos com a mentalidade de ter que ser campeão olímpico ou ganhar uma medalha no Campeonato do Mundo porque se não a minha vida desmorona ou vai abaixo. Acho que isso é muito importante, a maneira como encaramos o treino e as competições. Mas obviamente, temos momentos de alta pressão e aí é bastante complicado lidar. Treinamos os dois no Sporting, mas com o clube, a Federação, o Comité Olímpico, se quiséssemos teríamos a opção de ter um acompanhamento de um profissional da psicologia. Portanto, eu como o Pedro já sentimos essa vertente. Eu por sentir que não precisava mais parei, mas se houver momento que precise, sei que posso recorrer a essa ajuda.
SM – Para um grande atleta se desenvolver há de haver, para além do treinador, uma série de elementos que devem convergir: a estrutura do teu clube, o apoio da família e a abdicação e o empenho do próprio ginasta. Algum destes pontos foi mais importante do que outro ou acreditam que o conjunto de tudo isso é o fundamental?
Diogo Abreu – Eu acho que tudo o que refere é tudo muito importante e não sei lhe dizer exatamente o que é que tem mais peso no desenvolvimento. Mas posso dizer no meu caso, sei que o apoio familiar dos meus pais, principalmente na fase mais inicial dos trampolins, era muito importante. Eles tinham que ter uma dedicação muito grande para me levar e me buscar nos treinos todos os dias. Nos fins de semana, me levar às competições por todo o país. Em termos financeiros, apesar dos trampolins serem um desporto que não é muito caro para praticar, existem competições internacionais que quando somos mais novos somos nós a pagar para ir. E quando mais novos são os nossos pais a pagar. Por isso, numa fase inicial a família é muito importante. Depois, obviamente, o clube tem que oferecer condições mínimas e acho que nos trampolins consegue-se chegar num nível bastante elevado sem ter propriamente um clube que tenha, por exemplo, um departamento de nutrição, psicologia, não é preciso ter isso tudo para se chegar a um grande nível. Talvez, se calhar, para níveis mais elevados para medalhas olimpíadas e mundiais seja preciso. Mas para chegar à Seleção Nacional acho que o mais importante nos trampolins é ter boas condições físicas dos clubes, materiais em boas condições. Um bom treinador, que em Portugal temos muita sorte de termos por todo o país em vários sítios bons treinadores… E depois uma coisa importante é que o próprio atleta tem que ter uma vontade inata que acho que é algo difícil de ensinar. Tem que partir um bocado de nós em querer sempre o ser melhor naquilo que faz, ser competitivo, porque não podemos esquecer que isso é competição. E também conseguir lidar com a derrota, porque qualquer atleta, mesmo o Michael Phelps com não sei quantas medalhas em Jogos Olímpicos, já experienciou a derrota e teve que ultrapassar para seguir e a melhorar.
SM – Portugal tem sido um país a apresentar grande evolução na ginástica nos últimos anos. Em que posição colocam a ginástica portuguesa em relação a outros países e o que acha que podemos melhorar ainda?
Pedro Ferreira – Vou falar dos trampolins, não da ginástica em geral. Portugal tornou-se rapidamente uma das grandes potências a nível mundial. Nos Europeus temos sido quase sempre medalhados por equipas e em mundiais estamos sempre a lutar por medalhas. Ainda não aconteceu, mas talvez mais por azar do que por falta de qualidade. Por isso, se eu disser que Portugal está no top-6 dos países nos trampoline se calhar não estou a exagerar. Acho que sem dúvida é fantástico porque nossa competição direta são com países com centros de treinos, com atletas profissionais. Agora, neste momento, fazemos isso de maneira profissional, apesar de estamos a estudar e termos os nossos trabalhos à parte, mas é muito raro em Portugal. Se calhar somos os únicos [profissionais] neste momento e não é de todo uma coisa garantida. Acho que temos boas condições, bons treinadores, mas o passo seguinte para medalhas em mundiais e Jogos Olímpicos e, se calhar mais atletas apurados para os Jogos Olímpicos, é sem dúvida a profissionalização dos atletas. Perdemos muitos talentos na altura em que vão para a faculdade e que começam a trabalhar e há um desperdício de talento enorme. Temos imensos talentos nos trampolins e muitos deles infelizmente não atingem o seu potencial por causa disso. Não vivemos num centro de treino como nossos adversários neste momento e isso é um handicap enorme.
Diogo Abreu – Os trampolins têm vindo a crescer de uma forma brutal. Os trampolins se tornaram uma modalidade olímpica em 2000 e desde 2024 temos tido sempre a presença de pelo menos um atleta nos Jogos Olímpicos. Isso é incrível tendo em conta a dimensão do nosso país, o investimento que existe na modalidade específica a comparar com países como a China, a Bielorrúsia, a Rússia, o Japão, são países que estamos diretamente a competir, e estamos muito próximos deles. E acho que isso é impressionante. Sempre disse, acho que Portugal tem muito talento para o desporto e tem muitos atletas, apesar de sermos só cerca de 11 milhões no país, aparece muito regularmente grandes talentos no desporto. Acho que de uma forma mais geral, Portugal tem que agarrar nesses talentos e prolongar a carreira deles por mais tempo. Isso passa muito pelo que o Pedro está a dizer, quando os atletas vão para a faculdade, e eu não sou defensor de deixar os estudos completamente, mas se calhar por demorar um pouco mais de tempo e pode ir estudando ao longo da carreira. Mas para os atletas precisam sentir que é possível estar a fazer trampolins e ter o apoio das federações, do Comité Olímpico ou dos próprios clubes. E é aí onde se pode trabalhar um pouco mais.
E voltando à parte do componente mental, além da pressão da competição em si, de como vai ser nossas bolsas se isso corre mal, duplica-se a pressão numa competição. Isso é contra a nossa performance. Estamos a competir com pessoas que não estão na prova a pensar nisso e se calhar estamos. Logo, eles estão em vantagem.
SM – Qual o papel do treinador Luís Santos e o Tiago Duarte no desenvolvimento do Diogo e do Pedro como ginastas?
Diogo Abreu – O Luís Santos, que já é meu treinador há mais tempo, desde que eu sou muito novo, teve um papel muito importante na parte técnica. É um treinador que começou no início dos trampolins em Portugal. Foi das primeiras pessoas que começou a decifrar como isso funcionava e a maneira de fazer os saltos. Ele e outras pessoas começaram esse trabalho e portanto tem muita experiência da parte técnica que é algo muito importante nos trampolins. Não é só querer e ter força. Precisamos ter uma noção espacial especial, é diferente dos outros. Há muitas pessoas que não se conseguem orientar no ar e não têm grande hipótese nos trampolins e ele é muito bom nessa parte, que é um componente muito importante. E o Luís Santos é um treinador que tem uma postura muito calma, não impõe muito estresse em nós. Isso também é uma coisa muito boa.O Tiago que apanhei um bocado mais velho, mas já é meu treinador há muitos anos, é uma pessoa muito dedicada aos trampolins. Não é treinador a tempo inteiro, ele tem outro trabalho, mas ainda assim dedica-se muito a planear os nossos treinos e acompanharmos bastante. Por isso, acho que temos aqui um mix, eles complementam-se bem os dois. O Luís Santos mais tranquilo, mas depois temos por o outro lado o Tiago que tem as coisas sempre certinhas, planeadas e não nos deixa relaxar demais.
Pedro Ferreira – No meu caso, não fui formado no Sporting. A minha parte de formação até às minhas primeiras competições como sénior o meu treinador foi o Hugo Paulo [no Ginásio Clube Vilacondense]. Sem dúvida essa altura da formação dos atletas é a mais importante nos trampolins. É como o Diogo diz, não é por eu ser mais bem dotado fisicamente que os outros que consigo. Não. Se não tiver a técnica do salto mais cedo ou mais tarde vai ter problema. Se não tiver a base… Os saltos são construídos por partes, adicionando mais um mortal, mais uma pirueta… Se as partes mais fundamentais não estão lá, o resto vai correr mal de certeza. Felizmente, sempre fomos acompanhados por bons treinadores.
SM – Agora há pouco conquistaram na Taça de Mundo de Baku a medalha de bronze no Sincronizado e 4.º lugar para Abreu. Foi um resultado esperado? E como avaliam este início de temporada?
Pedro Ferreira – Eu acho que é sempre um bocado difícil avaliar. A competição em si é bastante variável nos trampolins e no sincronizado é difícil. Se no individual uma pequena falha pode fazer toda a diferença, no sincronizado pode haver falhas de duas pessoas diferentes. Mas sim, o nosso objetivo sem dúvida era atingir as medalhas, não era menos que isso. Não é propriamente uma surpresa quando ganhamos, ficamos obviamente felizes, mas é para isso que treinamos.
Diogo Abreu – Nós somos realistas em relação ao nosso nível e sabemos que no sincronizado temos nível para atingir as medalhas e já não é a primeira medalha internacional que eu e o Pedro temos.
SM – Apesar de fazerem duplas, os dois também acabam por se defrontar em alguns momentos. Como é estar do lado oposto a alguém tão próximo?
Diogo Abreu – Nós somos bastante amigos, o Pedro foi o meu padrinho de casamento, um dos meus padrinhos. Os outros também eram da equipa sénior de trampolim, por isso felizmente nós nos trampolins em Portugal temos uma equipa que nos damos todos super bem e é curioso porque na maior parte das vezes estamos a lutar uns contra os outros. Às vezes em situação que só pode ir um. Por exemplo, nos Jogos Olímpicos estávamos eu, o Pedro e
Diogo Ganchinho estávamos numa corrida em que só um de nós poderia ir aos Jogos Olímpicos. Mas acho que nós, apesar de sermos amigos, podemos não ser amigos tão próximos, temos a noção que aquilo que fazemos na competição só depende de nós. Não é como no ténis que o adversário está a mandar as bolas mais difíceis. Ali não, só dependo de mim em cima do trampolim. Não há nada que eles possam fazer para me afetar, a não ser que eles vão lá tirar umas molas (risos). É assim que eu penso, só dependo de mim, se correr mal é por culpa minha. O que eu acho importante é ver no treino um ambiente bastante saudável, não só no treino mas também nas competições que vamos juntos. Dormimos no mesmo quarto e passamos ali semanas juntos. Acho que havendo um ambiente bastante saudável de amizade isso é um factor positivo. É menos um factor negativo que nos pode influenciar na prova. Acho que isso é algo que nos trampolins em Portugal sempre conseguimos desenvolver bastante bem.
Pedro Ferreira – Concordo completamente com tudo. Treinamos juntos todos os dias. Apesar de competirmos um com o outro, também temos muito a aprender uns com os outros. Para mim é um luxo enorme treinar com pessoas de bom nível. Nos trampolins é muito ruim para certos miúdos que não tem ninguém para olhar porque não tem uma referência. Se não treinar ao lado de alguém faz determinados movimentos parecem possíveis, se calhar, eu não tentaria. E eu tive essa sorte de treinar com atletas de alto nível. Acho que só tenho a ganhar com isso, não posso queixar-me. Agora se eu não ganho as provas é problema meu.
SM – Este ano teremos o Campeonato da Europa Itália, em junho, e o Mundial, em novembro. É muito pensar em mais um pódio?
Pedro Ferreira – Nos últimos quatro Europeus, a equipa sénior portuguesa conquistou três medalhas. Só falhámos um pódio. E no que toca ao sincronizado, no ano passado, no Europeu, fomos vice-campeões da europa, nós não, outro par [Diogo Ganchinho e Lucas Santos]. E o Diogo Abreu já ganhámos medalha em 2014 no sincronizado. Sem dúvidas que tanto em equipas quanto no sincronizado as medalhas são objetivos. Não queremos muito menos do que isso. No que toca ao individual, acho que o objetivo acaba sendo o mesmo para mim e para o Diogo porque tanto ele quanto eu já ficamos em nono lugar em europeus e penso que é muito pouco. Queremos atingir o oitavo e garantir o acesso à final. Por isso, temos como objetivo atingir a final individual. O Diogo já foi finalista duas vezes em mundiais, mas ainda não deu no europeu. Mas agora queremos atingir mais uma final no individual, penso que é isso.
Diogo Abreu – No Mundial, é um nível que cresce bastante mais do que no Campeonato da Europa. Estamos num dos continentes mais fortes, junto com a Ásia, mas a Europa tem mais países com melhores atletas. Os últimos dois campeões olímpicos são europeus. Mas o Mundo não deixa de ser um pouco mais difícil. Mas tanto em um como no outro, no sincronizado e em equipas, é possível chegar às medalhas. Em termos individuais, acho que tanto eu como o Pedro, como qualquer atleta da seleção masculina de trampolins têm hipótese de ser finalista. E depois na final temos nível para ir às medalhas, sim. Mas tem que correr tudo muito bem, tudo na perfeição, que sabemos que pode acontecer, mas é difícil como em qualquer desporto. No Campeonato do Mundo ser finalista já é bastante difícil. A comparar com ser finalista no Europeu individual, é bastante mais difícil, mas é obviamente possível. As medalhas são também ainda mais difíceis, mas pode acontecer. Já fiquei em quarto lugar no Mundial, numa prova que correu quase na perfeição, mas houve ali um bocadinho que o outro fez melhor e não consegui chegar ao terceiro lugar. Mas tendo em conta esses resultados passados sabemos que é possível.
SM – Por fim, Paris 2024. É a grande meta dos dois?
Pedro Ferreira – Sem dúvida que o objetivo de Portugal é ter nos Jogos Olímpicos no mínimo uma pessoa. Em todos os últimos jogos, menos no primeiro [2000], tivemos sempre alguém a participar e seria mal não conseguirmos. Não podemos ter esse tipo de pressão, mas sem dúvida é o objetivo. Mas acho que seria muito giro conseguirmos ter duas pessoas. Gostava muito de ir com o Diogo [Abreu]. Já fui como suplente a Tóquio, foi uma experiência espetacular, mas gostava muito de participar em Paris 2024. Para Tóquio, o Diogo que foi, justamente. Na nossa modalidade há poucas vagas. A única forma de ter dois apurados pelo mesmo país é sendo finalista no mundial. É bastante difícil. Mas não há falta de qualidade para que isso aconteça, é um bocado as coisas se alinharem nesse momento.
Diogo Abreu – Nos trampolins só vão 32 pessoas do mundo inteiro aos Jogos Olímpicos. São 16 homens e 16 mulheres. Podem ir dois atletas do mesmo país, mas como o Pedro disse tem que um atleta ser finalista do Campeonato do Mundo antes dos Jogos. Tem que ser naquele especificamente. Eu, por exemplo, tinha sido em 2018 finalista, mas tinha que ser em 2019 também e não fui. E a outra maneira é através das várias Taças do Mundo que vão decorrer ficarmos no top-12 no ranking. Então, tem que ser um finalista e outro pelo ranking das Taças do Mundo. Por isso é bastante difícil e há bastantes poucos países que conseguem. Portugal conseguiria se tudo correr bem. Temos nível para chegar a esse objetivo. Mas como eu digo, tem que correr várias coisas bem. Mas acho que uma presença, temos mais do que nível para estarmos presentes. E temos até atletas mais novos que estão agora a aparecer e vão estar na luta. Não somos apenas nós.