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Stéphane Goffin, 6º Dan Aikikai, regressa a Portugal: “Quanto mais princípios a sua prática de Aikido tiver, mais rica será”Exclusivo 

Stéphane Goffin é 6º Dan Aikikai. Foto: Stéphane Goffin/Facebook

Stéphane Goffin, 6º Dan Aikikai, é um dos mais prestigiados professores de Aikido da atual geração. A viajar o mundo para difundir a arte marcial, o belga regressará a Portugal para um novo estágio internacional, que decorrerá em Lisboa, nos próximos dias 25 e 26. O evento será organizado pela Shin Gi Tai Associação de Aikido. 

A SportMagazine publica abaixo uma entrevista exclusiva, realizada em parceria com a Federação Portuguesa de Aikido, com Stéphane Goffin, 53 anos, que fala sobre o longo percurso na arte marcial, recorda o recebimento do 6º dan das mãos de Georges Stobbaerts Hanshi em julho de 2012, e expõe as suas ideias acerca do Aikido.

Sensei Stéphane Goffin, como apareceram as artes marciais na sua vida e qual a motivação para manter a prática de forma continuada desde criança?

Stéphane Goffin (SG) – Comecei a praticar artes marciais com Judo, aos 6 anos, e por volta dos 10 anos, após uma mudança, a minha família estabeleceu-se perto de um dojo de Aikido. Eu não fazia ideia do que era, mas queria tentar. Naquela época, não havia aulas para crianças e acho que fui aceite para que o filho dos professores (temos a mesma idade) não estivesse sozinho. Eric e eu tornámo-nos nos melhores amigos do mundo. Foi muito motivador para mim trabalhar com adultos e na minha grande inocência, o Aikido não me parecia difícil, em cada aula aprendíamos algo novo.

A prática rapidamente se tornou uma paixão devoradora e, por volta dos 15 anos, eu já estava convencido de que me queria tornar profissional. O Aikido está comigo há tanto tempo que não consigo separá-lo da minha vida. Da mesma forma, não tenho ideia de como seria minha vida sem o Aikido.

O que é maravilhoso no Aikido é essa possibilidade de evolução permanente que passa por um perpétuo questionamento de suas realizações. As certezas de um dia são os limites do amanhã. Claro, também há transmissão, o que poderia ser mais motivador do que ver o progresso de seus alunos. O Aikido me permitiu viajar por todo o mundo e conhecer pessoas fantásticas. Eu sou um sortudo.

No seu ponto de vista, como caracteriza o Aikido comparativamente com as restantes artes marciais que conheceu ou praticou?

SG – O Aikido é acima de tudo um Budo. É também um meio de comunicação com a especificidade de ser um caminho marcial. Cada meio de comunicação tem os seus códigos. O álibi da prática é a resolução de uma situação de conflito sem qualquer ideia de destruição. A aprendizagem só pode ser gradual.

A diversidade de cenários permite, praticando, forjar o corpo e pouco a pouco ir além das primeiras reações de negação e bloqueio. Adquirimos qualidades e tomamos consciência de princípios. As qualidades (velocidade, resistência, força…) são interessantes, mas limitadas. Os princípios por sua vez (atitude, distância, visão, respeito pela integridade) constituem um campo de investigação sem fim. Quanto mais princípios a sua prática de Aikido tiver, mais rica será. Esta é talvez uma das especificidades do Aikido.

Cada Budo ou arte de combate tem suas particularidades, pratiquei Boxe Tailandês, Jiu Jitsu Brasileiro e Tai Chi Chuan. Sem misturar, eu penso para a minha carreira, é uma vantagem.

Porque escolheu a expressão Tada Ima para seu dojo em Namur e qual a importância deste local para o seu percurso no Aikido?

Stéphane Goffin vai estar novamente em Portugal. Foto: FPA

SG – Em 1994, tive a oportunidade de montar, com um grupo de alunos e amigos, um velho armazém e fazer um dojo lá. Passados 28 anos, eu ainda ensino lá diariamente adultos de todas as idades e também crianças.

Tada Ima é, de certa forma, o carpe diem japonês. Esta evidência de que apenas o momento presente é real e que não podemos desperdiçá-lo está no cerne da prática. Este zero instantâneo, não quantificável o “de aï” de uma técnica, o momento em que as coisas mudam, onde o destino se cumpre…

Como surgiu e como se desenvolveu a sua relação com Portugal, nomeadamente com o Sensei Georges Stobbaerts?

SG – Conheci Georges Stobbaerts Sensei durante um estágio em Bruxelas em 1986. Era um recém shodan aos 17 anos e fui cativado pela sua prática e a sua aura. A partir daquele momento, soube que queria seguir os seus ensinamentos. Isso envolveu acompanhá-lo tanto quanto possível nas suas viagens. Comecei então a segui-lo. Stobbaerts Sensei conduziu cursos em diferentes países (Inglaterra, Suíça, Bélgica…) e construiu em Portugal perto de Sintra um grande dojo no meio de um parque: o Dojo Ten Chi.

Olhando para trás, aqueles foram ótimos tempos. Havia tanta excitação no rasto de Stobbaerts Sensei que só poderíamos querer fazer parte dessa aventura. Foi assim que a partir do verão de 1987, com o meu amigo Eric no início, e depois com vários alunos meus, passámos os verões em Portugal. Na verdade, não foi realmente em Portugal, mas no Dojo Ten-Chi e nos vários dojos que Georges Stobbaerts dirigiu neste período (Cascais, Alacantara…).

Por vezes, íamos a um dojo em Setúbal ou noutro lugar, mas durante os primeiros anos, o que conheci de Portugal foram apenas os seus dojos. A atmosfera em Ten-Chi era cosmopolita, todos se entendiam através da linguagem prática e de uma língua específica do Ten-Chi, uma mistura de francês, português… Só muito mais tarde pude descobrir este magnífico país que é Portugal. Ainda continuo com a oportunidade de vos visitar algumas vezes por ano a convite do “Shin Gi Taï Associação de Aïkido” criada por iniciativa do meu aluno e amigo Bruno Baptista.

Considera que tem responsabilidade acrescidas por recebido o 6º dan pelas mãos do Sensei Stobbaerts e também por proposta do Sensei Christian Tissier?

SG – O que posso dizer sobre isso é que fui o único aluno a quem o Sensei Stobbaerts atibuiu um 6º dan. Foi em julho de 2012 e ele infelizmente faleceu no início de 2014. Eu sei que Tissier Sensei e ele tomaram a decisão de me conceder esta promoção de comum acordo. Nesse sentido, estou ciente de que tenho muita sorte que estes dois fantásticos sensei cuidaram de mim.

Os ensinamentos de Georges Stobbaerts me acompanham todos os dias, assim como aqueles de Christian Tissier, de quem permaneço fiel aluno.

Obrigado por estas perguntas interessantes que me fizeram pensar sobre alguns aspectos da minha jornada.

Foto: FPA

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