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Roberto Sánchez: os desafios do Aikido como “uma grande aventura de natureza espiritual”Exclusivo 

Foto: Federação Portuguesa de Aikido

Diretor técnico da Aikikai Espanha e conselheiro técnico da Federação de Aikido da Bósnia e Herzegovina, o espanhol Roberto Sánchez, 6.ºdan Aikikai – Shihan, esteve este fim de semana para um estágio da prática na Academia Estrela, em Lisboa. O evento, organizado pela Bushinkai Associação de Clubes de Aikido e pelo Dô Clube de Aikido e apoiado pela Federação Portuguesa de Aikido, foi bastante bem recebido pelos praticamente portugueses. Sánchez, que há 44 anos pratica o Aikido, conversou com a SportMagazine sobre a experiência na referida arte marcial.

Como e quando surgiu o Aikido na sua vida?

Renato Sánchez (RS) – O Aikido surgiu na minha vida por tradição familiar. O meu pai, Tomás Sánchez Shihan, é um dos pioneiros do Aikido Espanhol e desde que tenho memória sempre estive em contacto com o tatami. Até à minha adolescência combinava a prática do Aikido com Judo, posteriormente centrei-me apenas no estudo do Akido.

Na sua opinião, que responsabilidades e obrigações surgiram com o 6º dan Aikikai e o título de Shihan?

RS – São muitas, mas talvez destaque a tentativa constante de conseguir em todos os momentos uma atitude justa, caracterizada pela vitória sobre si mesmo. Estar disposto a assumir que o nível de compromisso com a disciplina é tão elevado, que afeta de alguma forma todas as facetas da nossa vida, é um objetivo que tem de ser levado a cabo com muita paixão. Tecnicamente, ter a capacidade de se desapegar de tudo o que é artificial e desenvolver um Aikido inteligente, e para que tal possa acontecer, por um lado temos de treinar para ter um corpo saudável e flexível que nos permita avançar na direção que desejamos e por outro, fazer uma abordagem continua aos princípios sobre os quais se fundamenta a nossa prática. Dar a cara aos alunos, ser uma boa referência a todos os níveis, ter um sentido de humildade exemplar, independentemente de termos dois ou 50 alunos numa aula. O espírito de disposição e a paixão para “contagiar” os demais na nossa demanda deve ser sempre o mesmo. Resumindo, é uma grande aventura de natureza espiritual que não só exige muito trabalho e capacidade de superação mas por outro lado, a beleza de poder usufruir de todos os seus frutos.

Como surgiu então a ligação a Portugal e à associação Bushinkai Associação de Clubes de Aikido?

RS – Desde o inicio dos anos 1990 que visitava Portugal com regularidade (principalmente Lisboa, Estoril e Lamego) para participar nos mais diversos estágios ministrados por Tamura Sensei nos últimos 30 anos. Tenho também uma memória que me é muito querida de um estágio que se organizou em Lisboa no ano de 1992 com Morihiro Saito Sensei, no qual participei. Em 2018, recebi o amável convite da professora Alexandra Lopes, que conheço há imensos anos, para dar um estágio em Lisboa, dando assim início a esta ponte Portugal-Espanha.

É a terceira vez que a associação organiza um estágio em Lisboa com a sua orientação, como acha que está a prática em Portugal e como vê a evolução dos praticantes?

RS – Não posso emitir uma opinião generalizada sobre o Aikido português, uma vez que só conheço parte do mesmo. Agora, o que posso sim partilhar, é o quão confortável e bem recebido me sinto cada vez que cá venho graças ao bom ambiente que existe entre todos dentro do tatami e à maravilhosa predisposição dos mesmos para se entregarem à prática. Tento sempre fazer uma abordagem mais simplista do ponto de vista técnico, de fácil compreensão, de modo a que o estudo dos princípios e dos fundamentos sejam entendidos. Na minha opinião esse é o caminho para se evoluir de forma eficiente e sem se dispersar. Penso que na vossa Federação, existem vários professores com bastante experiência de ensino, que partilham desta mesma perspetiva, de forma que acredito muito na evolução e no amadurecimento dos Aikidokas Portugueses.

A pandemia tem condicionado a vida de todos nestes dois últimos anos. Sente que estão reunidas todas as condições para a retoma da prática generalizada com reduzidas restrições?

RS – Sem sombra de dúvidas, e posso falar da minha experiência pessoal no meu dojo. Creio que em momentos como este, uma postura demasiado radical ou conservadora, relativamente a restringir o desenvolvimento da prática não faz sentido rigorosamente nenhum. Durante estes dois últimos anos, passámos por diferentes etapas no que se refere à pandemia. A própria prática do Aikido, faz com que adotemos uma postura sensata, coerente e inteligente, e isto permite-nos continuar, ainda que tenhamos que fluir na desvantagem. Já interiorizámos com alguma naturalidade que temos de usar máscara durante a prática e mantemos, com rigor e prudência, todas as normas e protocolos que nos são exigidos. Enfim, espero que a partir deste ano, possamos sair definitivamente deste cenário um tanto ou quanto surrealista, com as esperanças renovadas e um compromisso ainda mais reforçado por esta disciplina que nos apaixona a todos.

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