Uma das mais emblemáticas jogadoras de sempre na história do futsal do Benfica, Sara Ferreira vai este ano para a 15.ª época consecutiva a vestir de vermelho e branco. Para se ter uma ideia da dimensão da atleta e da importância dela para o clube, a futsalista soma 20 títulos nacionais pelas Águias, o que significa dizer que, simplesmente, esteve presente em todas as conquistas da equipa lisboeta desde o início das competições de futsal feminino no país.
Numa carreira marcada por uma regularidade em alto nível, a ala benfiquista mantém a incrível marca de fazer mais golos do que jogos nas duas últimas épocas: em 2020/2021 fez 28 golos em 25 jogos; na última fez ainda melhor: foram 42 golos em 40 apresentações. Como se fosse impossível melhorar, na época atual a camisola número 10 da equipa já marcou oito golos em apenas três jornadas do campeonato nacional.
Durante os 14 anos a jogar pelo clube, Sara Ferreira contribuiu para a conquista de cinco Campeonatos Nacionais, seis Taças de Portugal, uma Taça Nacional, uma Taça da Liga e sete Supertaças. Não é difícil notar que a história dela confunda-se com a do próprio futsal do Benfica.
Sara Ferreira, 29 anos, conversou com a SportMagazine sobre a carreira, o desenvolvimento da modalidade em Portugal e a motivação para seguir como uma das protagonistas da equipa mais vitoriosa do futsal nacional. Além disso, admitiu a surpresa por não estar presente na última convocatória da Seleção Nacional, equipa que frequenta desde 2009 e soma 84 internacionalizações com 34 golos. Tranquila, garantiu estar a tentar ajudar mesmo à distância e a trabalhar ainda mais para regressar à lista de Luís Conceição.
SportMagazine (SM) – Gostaria que fizesse uma autoavaliação das tuas últimas épocas e do início da atual. Como é que avalia esta regularidade com tantos golos e títulos?
Sara Ferreira (SF) – Estou extremamente feliz e é positivo o que estou a fazer. Provavelmente são esses os três anos em que estou a explodir mais. Isso também se deve muito a focar-me ao futsal de maneira diferente. Ter mais cuidado com a alimentação, descanso, treinar o dobro, se calhar às vezes até o triplo e ter que abrandar às vezes para descansar e focar-me nisso a 100%, 200%. Não quer dizer que nas outras épocas eu não fizesse, mas o entender mais o jogo, a maturidade competitiva que eu já tenho ajuda muito a ter esses números.
SM – A Sara consegue então dedicar-se exclusivamente ao futsal?
SF – Eu trabalho na restauração com os meus pais. Por acaso tenho sorte de ser o restaurante dos meus pais, o que me dá a possibilidade de treinar sempre. Consigo ter mais disponibilidade por trabalhar com os meus pais, mas é muito desgastante estar sempre em pé, por oito, nove horas e ao final ir treinar. Mas quando se gosta, quando se faz aquilo que se gosta nem se pensa nisso, não há cansaço.
Em Portugal é difícil até para os clubes apostarem nesta forma [de maiores contratos profissionais] porque acho que não é rentável neste momento. Não é rentável para os clubes ter uma equipa profissional. Se eu gostaria de ser, claro que sim. Gostaria que daqui a uns anos a liga fosse profissional.
SM – Como jogadora de referência no país, como observa a evolução dessa modalidade em Portugal? Como observa o desenvolvimento do futsal feminino?
SF – Acho que está a evoluir muito rápido até porque hoje em dia já temos competições em todos os escalões, e ainda bem. Estamos a falar desde os infantis, ou até escolinhas em que já há os encontros, mas infantis já há competição homologada pela federação. Isso é muito bom porque eu, por exemplo, aos 14 anos já jogava nos sénior porque não havia outros escalões na altura. Portanto, tive que fazer essa transição muito rápida. Também me ajudou, é um facto, mas perdi algumas bases e acho que a evolução e os apoios da federação têm sido excelentes para a evolução da modalidade.
SM – Foi a melhor marcadora do último nacional e no atual já começou com oito golos em três jornadas. Quando começa uma competição, a Sara já pensa numa meta de golos que gostava de fazer ou pensa jogo a jogo?
SF – Para ser sincera, é jogo a jogo. Nem sequer penso nisso. Se perguntar quantos golos eu marquei na época passada não sei. Sou mesmo distraída nesse aspeto. A única coisa que eu foco é estar bem e dar sempre o melhor. E mais importante que os meus golos são as vitórias da minha equipa e jogarmos bem.
SM – Está na principal equipa do país, a mais vencedora na modalidade, há muitos anos. São anos e anos a acumular títulos. De onde vem essa motivação para se manter sempre no topo?
SF – É o facto de termos uma equipa tão competitiva, treinarmos com as melhores. Nós queremos ganhar tudo e este ano e vamos fazer ainda melhor. Ano passado perdemos a Taça da Liga e a Taça de Portugal, este ano temos que ganhar porque é isso que nos motiva, o ganhar, as vitórias, a competição, a vitória atrás de vitória que nos motiva. Eu gosto de ganhar.
SM – Acabou por ficar de fora da última convocatória da Seleção Nacional para o Europeu, o que é incomum nos últimos anos. Foi uma surpresa para si essa ausência na lista do Luís Conceição?
SF – Foi uma surpresa pelo que eu fiz na época passada e pelo que eu comecei este início de época a fazer. Mas são decisões, respeito. Continuo a apoiar a Seleção como se lá estivesse, inclusive tenho muita gente da minha equipa lá e isso nos enche de orgulho. Poder ajudá-las nos treinos… Claro que o objetivo de todas as atletas é sempre chegar à Seleção e agora é continuar a trabalhar e fazer o que eu tenho estado a fazer. Se eu for chamada, ótimo; se não, vou continuar a trabalhar da mesma forma.