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Portugal tornou-se pequeno para Ana Santos: “Anseio um top-10 a nível mundial”Exclusivo 

Ana Santos, ciclista portuguesa. Foto: X-Sauce Factory Team

Campeã Nacional de Ciclocrosse em Elites nos últimos quatro anos de maneira consecutiva, Ana Mafalda Santos é uma das ciclistas mais promissoras da atual geração portuguesa. Imbatível no país, a atleta de apenas 19 anos representa pelo segundo ano, na categoria sub-23, a nova estrutura de uma equipa UCI Profissional espanhola, a X-Sauce Factory Team.

Ana Santos pratica o desporto desde os 3 anos. Uma paixão iniciada pelo pai e antigo treinador Vítor Santos, que até hoje move a rotina puxada de treinos da jovem natural de Matosinhos. Treinada atualmente pelo espanhol Paulo Gadepa, a ciclista portuguesa de BTT conversou com a SportMagazine sobre o começo da carreira, o desenvolvimento do ciclismo em Portugal, a falta de competidoras à altura e os planos para alcançar o top-10 mundial e estar presente em Paris 2024.

SportMagazine (SM) – Com apenas 19 anos já tem o nome marcado na história do ciclismo nacional. Como começou essa relação com o ciclismo e quando percebeu que as pedaladas poderiam se tornar algo profissional?

Ana Mafalda Santos (AMS) – Eu comecei o ciclismo com o meu pai, aos 3 anos, quando ele me ensinou a andar de bicicleta e logo em seguida fiz a minha primeira prova de XCO (Cross Country Olímpico). Foi assim que comecei com gosto de também ver o meu pai e o meu irmão a andar de bicicleta. E depois quando percebi que isso poderia ser algo mais a sério foi em juvenil, quando tive uma queda e que levou-me a ter que ser internada durante uma semana no hospital. Depois disso, ganhei o gosto por treinar. Sempre tive muitas boas classificações, mas só a partir do juvenil é que eu treinava mais a sério e pronto. Quando eu fui para cadete consegui ser campeã nacional de XCO e sempre dediquei muito tempo ao ciclismo e depois fui sempre a aumentar e a querer chegar mais longe para um dia vir a ser profissional.

SM – Pode falar um pouco como é a rotina de treinos de uma ciclista de elite?

AMS – Claro que não se chega a este nível com poucas horas de treino e sem conseguir conciliar muita coisa. É preciso dedicar muito tempo ao ciclismo, mas saber também gerir o nosso tempo. No verão, quando se aproxima mais o Campeonato do Mundo e da Europa, as horas de treino aumentam. Agora, andam por volta das 13 horas às 17 horas por semana, com cerca de 400 quilómetros. Depois, no ginásio são cerca de duas horas por semana, com duas sessões por semana, cada uma de uma hora. Ainda não faço propriamente os treinos de elite, apesar que aqui em Portugal corro, sim, em elite, mas lá fora para todos os efeitos ainda sou sub-23 de segundo ano. 

Ana Santos: “Portugal tem muito a aprender com o nosso país vizinho, a Espanha”. Foto: X-Sauce Factory Team

SM – Como é conciliar o desporto com o curso de Fisioterapia? Acaba por ter que abdicar de algo para dar conta de ambos?

AMS – Estou a tirar o curso de Fisioterapia. Foi um curso que eu quis sempre, desde muito nova por também ver que dava para complementar com o ciclismo. Consegui aprender muitas informações úteis para a minha vida de atleta. Se é fácil conciliar, não de todo. É preciso abdicar de muita coisa que às vezes nós queríamos, como a vida toda universitária. Eu gostava muitas vezes de ir e muitas vezes tenho que dizer que não porque não é viável com os treinos, ou com as competições. E depois também o facto de ter que estudar para os exames, ter aulas, acaba por tirar a parte importante também que é o descanso, uma parte fundamental do treino. É tudo muito contado. Diria que na minha vida um minuto é muito tempo. Chego ao início de uma semana e tenho que planear toda a minha semana de tempos para que tudo dê certo e eu consiga fazer tudo ao longo do dia. Posso dizer que paro muito pouco em casa e depois tenho também muita ajuda dos meus pais, do meu namorado, que ajudam-me a conciliar isto tudo.

SM – Este ano conquistou o Campeonato Nacional de Ciclocrosse pelo quarto ano consecutivo. Portugal tornou-se pequeno demais para a Ana?

AMS – Sim, este ano consagrei-me pela quarta vez campeã nacional de Ciclocrosse na categoria de elite. Fico, claro, muito feliz. Se Portugal se tornou pequeno demais para mim? Ah… Não queria dizer essa resposta, não acho que se tornou pequeno, mas falta muita coisa. Precisamos de muito mais meninas para haver mais competições. Quando se passa de Portugal para lá fora, a realidade é totalmente diferente. A verdade é essa, é que faltam muitas meninas, competições para que se possa elevar mais o nível. Mas acredito que um dia vamos conseguir ter meninas fortes e pronto, para já ainda há competições, mas era preciso muito mais, sem dúvida alguma.

SM – No ano passado, começou numa nova equipa, a espanhola X-Sauce Factory Team. Quais as principais diferenças entre a equipa atual e a anterior em termos de estrutura? E mais: está satisfeita com a troca?

AMS – Sim, este é o segundo ano que estou na minha equipa e é muito diferente. Antes não estava numa equipa profissional e agora estou. A realidade é totalmente diferente. Numa equipa profissional temos tudo ao nosso dispor: equipamentos a toda hora, tudo o que precisamos. É só pedir e eles arranjam. Temos mecânicos, temos profissionais de tudo para que possamos estar sempre em alto nível. Essa é a principal diferença entre antes e agora. Claro que estou satisfeita com a troca que fiz. No primeiro ano, ainda por cima como era uma equipa que se ia estrear como uma equipa UCI, eu não sabia como é que funcionava. Não sabia a estrutura da equipa. Mas foi confiar de olhos fechados e hoje posso dizer que ainda bem que eu fiz porque estou extremamente grata por estar nesta equipa.

Ana Mafalda Santos, ciclista portuguesa. Foto: X-Sauce Factory Team

SM – Numa entrevista recente, o Mário Costa falou que as bicicletas atuais são incomparáveis com a de dez anos atrás. A tua equipa é justamente uma marca de produtos para manutenção de bicicletas. De que forma acredita que a tecnologia auxilia o ciclista no dia a dia e nas tuas conquistas?

AMS – As bicicletas antigamente não têm nada a ver com as que temos hoje em dia. E ainda bem, porque é sinal que a tecnologia está a evoluir, e se ela evolui, o desporto consequentemente também vai evoluir. Isso é bom, vai nos ajudar. Das tecnologias mais importantes para um treino, são os GPS, que nos indicam as horas de treino, a altimetria, os quilómetros, frequência cardíaca… E também é possível medir a potência, desde que a bicicleta tenha um potenciómetro, o qual é uma nova tecnologia que cada vez é mais usada nos treinos, visto que é uma ferramenta muito mais exata que a frequência cardíaca. Temos, também, os equipamentos, especialmente os calções, que têm cada vez mais as carneiras mais avançadas, pois estas são bastante importantes no conforto do ciclista durante as várias horas de treino. Ainda temos os produtos da marca da X-Sauce, que ajudam na manutenção das novas tecnologias, como o selim telescópico.

SM – Para uma grande atleta se desenvolver há de haver, para além do treinador, uma série de elementos que devem convergir: a estrutura do teu clube, o apoio da equipa técnica, apoio familiar e a abdicação e o empenho da própria ciclista. Algum destes pontos foi mais importante do que outro ou acredita que o conjunto de tudo isso é o fundamental?

AMS – Sem dúvida. Quando nos tornamos atletas, não só uma coisa é que nos ajuda a chegar ao mais alto nível, mas sim todo um conjunto de coisas: treinador, estrutura do clube, apoio da equipa técnica, familiar, abdicação que temos a esse desporto, muito esforço. Depois a parte de nutricionista, psicóloga, é todo mundo para nós conseguirmos estar ao mais alto nível nas competições. Portanto, nunca é só o treinador, só os pais que ajudam. Não. É todo um conjunto de coisas que nos ajuda a estar bem no momento que queremos.

SM – Agora que está numa equipa espanhola e conhece outro ambiente, acha que Portugal tem mais a ensinar ou a aprender com o país vizinho? E que pontos destacaria de vantagens em relação um ao outro?

AMS – Portugal tem muito a aprender com o nosso país vizinho, a Espanha. As vantagens que eu vejo é, por exemplo, a organização nas competições. Em Espanha também há muitas mais C1, portanto leva mais estrangeiros para lá e o nível aumenta. Sei que não depende só de querer fazer ou não, tem muito mais coisas por trás. Mas é uma vantagem. E também há mais circuitos, mas acima de tudo organização.

SM – Seguramente, ainda há muito por conquistar este ano. Para além do já alcançado, qual o maior objetivo da Ana para 2022?

AMS – Em 2022 estou no meu segundo ano de sub-23 e o objetivo acaba por ser sempre o mesmo: é sempre dar o melhor de mim e conseguir chegar o mais longe possível. O mais longe possível é do meio da tabela até o primeiro lugar. Anseio muito pelo menos um top-10 a nível mundial. Se eu chegar um dia a esse patamar fico bastante feliz, como os espanhóis dizem, com “ganas” de mais. Se calhar, um top-10 é o maior objetivo. Mas com a cabeça sempre a pensar no meu melhor.

SM – Paris 2024 está longe demais ou já é um sonho que faz parte dos objetivos?

AMS – Não, Paris 2024 não está longe demais. Diria que é o meu segundo objetivo. E que já estou a trabalhar para ele. Acredito que vou lá estar (risos).

Ana Santos alcançou venceu os últimos quatro nacionais de Ciclocrosse. Foto: X-Sauce Factory Team

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