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Bruno Rente e os planos para o desporto equestre em Portugal: “Acessível a todos”Exclusivo 

Bruno Rente, presidente da Federação Equestre Portuguesa (FEP). Foto: FEP

O presidente da Federação Equestre Portuguesa (FEP), Bruno Rente, é um aficionado confesso de cavalos. Descobriu o hipismo aos 9 anos e monta sempre que pode. É acima de tudo um apaixonado pelo desporto e, com gestão até 2024, sonha em fazê-lo maior em Portugal. Em conversa com a SportMagazine, o mandatário destacou os projetos em curso, garantiu que o desporto equestre é acessível para todos e explicou os meios em ação para estimular a presença de mais atletas federação nos centros hípicos, para captar e capacitar jovens dos diversos escalões da juventude e, claro, não escondeu o sonho de ver o país novamente medalhado numa Olimpíada um século após a primeira conquista.

SportMagazine (SM) – Existe uma clara preocupação na sua gestão com o futuro do Desporto Equestre em Portugal, com projetos para estímulo aos jovens. Há seis anos, o país não deteta um aumento no número de atletas nas competições nacionais. É a partir de estatísticas como essa que nasce a sua preocupação?

Bruno Rente (BR) – Na Federação Equestre Portuguesa estamos motivados em fazer desenvolver o Desporto Equestre, contribuindo não só para a sua sustentabilidade, mas também para o seu crescimento. Nesse sentido auditamos a nossa realidade e atividade recente e detetamos que o crescimento não está consentâneo com as nossas potencialidades e temos trabalhado para encontrar soluções que contribuam para esse objetivo.

O ponto de partida foi analisar a nossa atividade recente, tendo percebido que nos últimos seis anos não estávamos a apresentar crescimento no número de atletas federados, bem como em atletas capazes de disputar campeonatos Nacionais e Europeus nos escalões da Juventude, facto que temos de inverter apontando para o incremento em todos estes quadrantes.

SM – A sua gestão tem a meta de chegar aos 10 mil federados em 2024 e de aumentar ainda este ano em 20% os inscritos nos nacionais da juventude. Quais as estratégias para alcançar esses números?

BR – As estratégias que definimos para atingir esses objetivos passam, no patamar de atrair mais atletas federados, por trabalhar com nossos clubes e com a nossa rede de centros Hípicos Federados dotando-os de infraestruturas e estratégias de captação de novos atletas, atraindo uma maior visibilidade para o Desporto Equestre e transmitindo que somos o desporto do bem e da natureza, demonstrando e desmistificando que não é um desporto inacessível e distante, bem como trabalhando ações de experimentação em diferentes momentos e geografias, por forma a atrairmos e transformando os apaixonados dos cavalos em desportistas do mundo do cavalo.

Repare que o Desporto Equestre tem nove diferentes disciplinas que podem impactar qualquer desportista. Permita-me aqui até uma curiosidade, já reparou que até temos o golo no Desporto Equestre com a disciplina de Horseball, entre outras especificidades no nosso universo? Inevitavelmente, se atrairmos mais atletas para o Desporto Equestre, fazemos crescer o número de atletas capazes de disputar provas Nacionais e consequentemente de participar em Campeonatos Nacionais das diferentes disciplinas.

SM – O programa Geração Talento Equestre, lançado este ano, tem por objetivo captar e capacitar jovens dos diversos escalões da juventude, bem como dotar os clubes de ferramentas e estratégias de desenvolvimento desportivo. Poderia falar mais sobre o projeto e como nasceu essa ideia?

BR – O projeto Geração Talento Equestre nasceu para responder aos desígnios anteriormente comentados, de trabalhar a nossa base de atletas, através de metodologias de captação e capacitação de toda a estrutura. Destes intentos surgiu este programa onde, para além de auditar a nossa realidade, fomos analisar o que outras federações congéneres tinham realizado, bem como outras Federações Desportivas do nosso País e criamos este programa. Sem egocentrismos fomos analisar o que de melhor se tem feito no mundo e no desporto transpondo para a nossa realidade, desenhando e implementando este programa que depositamos muita esperança e que tem acolhido uma extraordinária participação e envolvimento de todos os agentes. Paralelamente e, não podendo ser de outra forma, envolvendo e trabalhando de perto com os nossos clubes.

SM – De maneira histórica, o desporto equestre é generalizado como uma prática para pessoas que tem boas condições financeiras. Pergunto-lhe: é verdade que para praticar o hipismo, por exemplo, é necessário ter um alto investimento ou esse é um pensamento que ficou para trás? E segundo, a federação tem algum programa para tentar incluir uma parcela da sociedade com poucas condições financeiras no referido desporto?

BR – O Desporto Equestre é acessível a todos, no entanto, todo o desporto de alta competição tem investimentos associados de grande dimensão, e o Desporto Equestre não foge à regra. Atualmente, o desporto, como um todo, está felizmente mais democratizado e as aulas de equitação são também acessíveis, quer em valor, quer em geografia, já que existem mais de 250 centros federados por todo o País.
Paralelamente, existem também programas quer da Federação, quer dos clubes e até de autarquias de grande suporte, quer ao início da atividade desportiva equestre, quer ao nível competitivo.

Bruno Rente: o desporto equestre é acessível para todos. Foto: FEP

SM – Alguns fatores sociais têm prejudicado o desporto como um todo. Para além da pandemia causada pela Covid-19, houve no ano passado um surto epidémico de grande escala no Desporto Equestre, o EHV-1 Herpervirus Equino. De que forma esses dois fatores influenciaram negativamente no desenvolvimento dos projetos da federação?

BR – Os últimos tempos foram fortemente e negativamente influenciados pelos surtos epidémicos. No nosso caso potenciado ao quadrado. Se no início do ano passado estávamos a tentar viver dentro dos condicionamentos provocados pelo Covid-19, fomos então surpreendidos com um surto epidémico de grande escala no Desporto Equestre, o EHV-1 Herpervirus Equino que levou a Federação Equestre Internacional a cancelar todos os eventos Equestres desportivos, bem como a grandes limitações nos transportes de Equídeos por toda a Europa.

Se a programação dos nossos atletas estava uma vez mais comprometida, voltava até a estar em causa a realização dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Felizmente, realizaram-se os Jogos. O desporto vive para os Jogos Olímpicos e a sua não realização seria catastrófica já que este evento configura o principal eixo de planeamento da generalidade das organizações desportivas e constitui a pedra basilar onde assenta a sustentabilidade e desenvolvimento de grande parte da indústria desportiva global.

Também em termos formativos todos os escalões sofreram grandes implicações e, evidentemente, também a angariação de atletas.
Face a este contexto todos os projetos da Federação sofreram implicações, sendo que graças à nossa grande comunidade conseguimos apresentar um assinalável crescimento.

SM – Os nossos cavaleiros tiveram um bom desempenho em Tóquio 2020, com três Diplomas Olímpicos. Entretanto, imagino que seja um desejo voltar a conquistar uma medalha olímpica. Em Paris 2024 completamos exatamente um século da nossa primeira medalha olímpica na modalidade. É possível sonhar com um regresso ao pódio em 2024?

BR – Acreditamos que sim, os nossos atletas sonham todas as noites e trabalham todos os dias com este sonho. O facto de passado 100 anos voltarmos à cidade onde conquistamos a nossa primeira medalha olímpica e a primeira medalha olímpica para Portugal reitera a nossa esperança e é ainda um tónico extra.

Mas isto poderão ser coincidências, mas o valor que os nossos atletas das diferentes modalidades olímpicas têm demonstrado é fruto de muito trabalho e dedicação que se tem traduzido nestes bons resultados recentes.

No nosso caso, temos muita esperança e trabalharemos em conjunto com todos os agentes, de onde destacamos o Comité Olímpico de Portugal, para proporcionar as melhores condições de trabalho e competição para os nossos atletas, cavaleiros e cavalos.

SM – Além desse reencontro com as medalhas olímpicas, existe algum outro objetivo que o Bruno Rente gostaria de alcançar até o fim da gestão em 2024?

BR – Medalhas olímpicas são a cereja em cima do bolo, mas conseguir contribuir para o desenvolvimento do Desporto Equestre, fazendo cumprir o programa que definimos e deixar marcas fortes para o Desporto Equestre são os nossos objetivos até 2024.

Bruno Rente, presidente da Federação Equestre Portuguesa (FEP). Foto: FEP

 

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