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André Seabra, uma ponte entre a teoria e a prática no futebol: “Na Portugal Football School produzimos ciência partilhada”Exclusivo 

André Seabra, diretor da PFS. Foto: FPF

André Seabra, diretor da Portugal Football School, unidade de investigação e formação da Federação Portuguesa de Futebol, contou à SportMagazine como um modelo desenhado para agregar competências, pode produzir ciência aplicada ao futebol, transferir conhecimento útil para a sociedade e até ensinar a salvar vidas na atividade desportiva.

Abaixo, pode-se ler uma parte da entrevista publicada originalmente na edição número 1 da nossa revista. A entrevista completa com Seabra está disponível para assinantes. Se ainda não é, saiba como fazer para integrar o nosso grupo de leitores e colaborar com o nosso projeto.

SportMagazine (SM) – Em que contexto é que surge a Portugal Football School (PFS)?

André Seabra (AS) – No seguimento daquilo que foi o plano estratégico da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) desde a entrada do presidente Fernando Gomes, em 2012, houve preocupações bem definidas sobre o nível de conhecimento interno e sobre a possibilidade de desenvolver ligações externas com instituições de ensino superior e com centros de investigação. Em 2017, a direção federativa decide então criar esta escola, que surge com três grandes objetivos que o presidente Fernando Gomes elencou na presença dos então ministros do Ensino Superior e da Educação, respetivamente Manuel Heitor e da Tiago Brandão Rodrigues, e do anterior presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, António Cunha. O primeiro desafio tinha a ver com formar, capacitar e qualificar os vários agentes desportivos, incluindo não apenas treinadores e árbitros, mas abrangendo também a área do dirigismo, a saúde, a comunicação social e a sociedade em geral. No fundo, um conjunto alargado de agentes com responsabilidade na promoção do desporto em Portugal, e de forma mais específica no desenvolvimento do futebol, do futsal e do futebol de praia, ou seja, as três modalidades tuteladas pela FPF; o segundo objetivo teve a ver com a intenção de produzir investigação. E esta lógica de trazer conhecimento para o interior da federação – um dos rumos que estava no plano estratégico do presidente Fernando Gomes – leva também a que a FPF tenha hoje nos seus quadros 15 doutorados, mais de 35 mestres e mais de 60% dos funcionários licenciados. Portanto, esta aposta muito séria na qualidade académica dos seus quadros, alavancou muito naturalmente o interesse e a vontade em fazer investigação e fazer ciência dentro da federação nas três modalidades que tutela; o terceiro objectivo é uma consequência dos dois primeiros e reside em transferir essa ciência e esse conhecimento que formos produzindo, através de comunicações, seminários, conferências, congressos, publicação de livros e revistas científicas, etc.

Estes foram os três grandes propósitos que estiveram na origem da escola. No entanto, muito importante neste percurso foi conseguir trazer para dentro da FPF as escolas, as universidades e os centros de investigação, para que nos possam ajudar a contribuir para o desenvolvimento do desporto em Portugal. Além disso, no seguimento da fortíssima aposta em conhecimento que a federação está a fazer, pretendemos também que as próprias escolas, universidades e centros de investigação possam ter a colaboração de recursos humanos da FPF, quer em produção de ciência, quer na própria lecionação, participação em cursos de graduação ou pós-graduação das próprias universidades.

SM – A FPF chama as universidades e partilha recursos, produz ciência e esse conhecimento é redirecionado para o ensino na Portugal Football School?

AS – Sim. Este caminho começou com a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, a primeira com quem entendemos iniciar a construção de programas de formação conjuntos, no caso um curso direcionado para médicos e outro para enfermeiros e fisioterapeutas. E este posicionamento de partilha e intercâmbio perante as instituições de ensino superior é um pouco diferente do que acontece com outras federações e organizações desportivas. Mas aqui na FPF foi isso que pretendemos desde o início. Agregar parceiros para produzir conhecimento que fosse relevante para todos.

SM – E o que é essencialmente diferente?

AS – Se desde 2012 a federação aposta no conhecimento dos seus recursos humanos e se há um entendimento de que nós precisamos da academia, das universidades e dos centros de investigação para melhorar o desporto e se há tanto conhecimento cá dentro, provavelmente essas escolas e universidades também poderão beneficiar desse conhecimento e, portanto, o nosso posicionamento foi desafiar as escolas e as universidades no âmbito de todo o catálogo da nossa oferta formativa, que hoje tem 30 programas, desafiando essas mesmas escolas e universidades para construírem connosco programas de formação desde o inicio até ao fim. Agora em março, por exemplo, vamos ter em parceria com a NOVA FCHS (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa) um curso de responsabilidade social no desporto. A construção do curso até à lecionação foi fruto dessa parceria. Cada organização tem metade dos formadores, metade da carga horária é feita na Cidade do Futebol, a outra metade é feita na FCSH.

SM – Este modelo também vai ser replicado para a investigação?

AS – Exatamente igual, ou seja, trazer as universidades e os centros de investigação para dentro da federação para produzirmos ciência. Neste momento temos cerca de 12 estudantes vindos das diversas universidades que estão aqui na federação – dois já terminaram – a fazer os seus doutoramentos e que têm investigadores da FPF associados como orientadores. Outro exemplo: a Federação Portuguesa de Futebol é muito reconhecida internacionalmente, os sucessos desportivos têm feito eco internacional, e quando desenvolvemos um curso para dirigentes começaram a aparecer estrangeiros interessados em frequentá-lo. De tal forma que, a certa altura, o presidente Fernando Gomes desafiou a Portugal Football School a avançar com uma formação de gestão em língua inglesa para executivos. Então lançámos o repto à melhor escola de gestão do país, a Nova SBE. Falámos com o diretor, Daniel Traça, e a primeira coisa que nos diz é que não tinham nada em Desporto mas que ‘entrava no jogo’. Tanto assim é que hoje temos com a Nova SBE quatro programas de formação. E o mais interessante é que, há cerca de um ano, foi o próprio Daniel Traça da Nova SBE a vir desafiar a federação para ser parceira numa formação pós-graduada.

*ANDRÉ FILIPE TEIXEIRA E SEABRA, 50 anos, natural de Lisboa, é doutorado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, mestre em Saúde Pública e em Treino de Alto Rendimento. Professor na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, autor e coautor de mais de centena de meia de artigos publicados em revistas científicas com revisão por pares e orador convidado em mais de 160 conferências em Portugal e no estrangeiro, dirige a Portugal Football School desde a sua formação em 2017.

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