Nos últimos dias veio a público o descontentamento de um conjunto de atletas face ao tratamento que estavam a ter da sua respetiva federação, apelando, no final, a intervenção exterior para ajudar a resolver o diferendo. Passados uns dias, veio a público o anúncio por parte das entidades de cúpula do desporto português, informando que tinham conseguido ajudar a resolver uma grande parte do diferendo entre atletas e federação.
O desporto federado tem uma organização similar na maioria das modalidades. Ao nível de clubes, quando existem problemas entre atletas, treinadores e dirigentes e não se consegue chegar a um acordo para a resolução dos mesmos, muitas vezes a mudança de clube é a única solução (não significando que seja a solução mais justa ou correta). É uma solução possível.
Quando os problemas são no topo (ao nível das cúpulas), atletas de seleções nacionais, treinadores e dirigentes são confrontados com um contexto totalmente diferente. Dado que só existe uma federação com utilidade pública desportiva (UPD) por modalidade, não se pode aplicar a possibilidade referida acima.
Os atletas ou treinadores não podem mudar de federação. E a alternativa pode ser deixar de representar o País ao nível da Seleção. No entanto, se acharem que a razão está do seu lado, não quererão tomar essa decisão radical e tentarão de todas as formas ultrapassar o diferendo. Por outro lado, se a federação também acha que a razão está do seu lado mas, ao mesmo tempo, também tem a noção da importância que os seus atletas de Seleção têm para o País, fica num beco sem saída.
O recurso a entidades de cúpula do ecossistema desportivo português (Governo, IPDJ, COP, CPP, CDP, etc.) para mediar diferendos parece interessante mas também coloca essas mesmas entidades num dilema: como definir o nível do problema a partir do qual é aceitável intervir? Quando lhes é pedido? Por iniciativa própria?
Toda esta situação não é inédita em Portugal. No passado, já existiram diferenças semelhantes entre atletas, clubes e treinadores com as federações desportivas. Com consequências diversas.
Esta situação mais recente deve promover uma reflexão profunda sobre a forma de tratar estes assuntos.
Enquanto Diretor da SportMagazine sublinho o carácter formativo deste projeto, pelo que, com o objetivo de contribuir para a valorização e reconhecimento do desporto português, promoveremos essa e outras reflexões que se nos afiguram como desafios atuais e que serão em breve alvo de atenção numa das próximas edições da revista.