O velejador português Guilherme Cavaco conquistou um quarto lugar no Campeonato da Europa de ILCA 6 Junior, que terminou no dia 6 de julho, em Thessaloniki, na Grécia. O atleta, que pertence ao Ginásio Clube Naval de Faro, foi acompanhado por Joaquim Coutinho, seu treinador, e lutou até ao fim pelos lugares cimeiros.
Guilherme fala do nervosismo no inicio da competição. No entanto, destaca o trabalho feito para atingir o resultado histórico.
“Nós treinámos muito esta época, eu e a minha equipa, seja no ginásio, seja dentro de água. E como eu não tinha tido nenhum campeonato para ver o meu nível, não sabia bem se ia chegar ao Europeu para lutar por um primeiro, por um décimo ou por um trigésimo [lugar]. Tanto que falei disso com o meu treinador. No primeiro dia estava um pouco nervoso, mas à medida que o campeonato foi passando, eu comecei em 18º, eram 300 atletas, mais ou menos, e fui progredindo sempre todos os dias. Pronto, aí vi que dava para lutar por algo maior e foi bastante satisfatório todo aquele trabalho que impus em mim transformar-se num resultado”, afirmou.
Apesar do resultado bastante positivo, o percurso desde jovem atleta não foi fácil no último ano. O velejador português pensou em desistir da vela. Contudo, com a ajuda do treinador, acabou por virar o seu pensamento e lutar por lugares cimeiros na Europa. Guilherme Cavaco conta ainda o segredo para o sucesso.
“Primeiramente, o ano passado tive uma quebra na vela. Com o covid a época foi muito diferente das outras todas e nós não tivemos ‘off season’. Não tivemos ali três ou quatro semanas para descansar tanto e isso prejudicou-me um pouco, porque chegou a uma altura em que eu se calhar estava num overtraining em que disse aos meus pais que queria desistir da vela, porque não conseguia mais. Então o meu treinador obrigou-me a não dar à vela durante um mês. Depois tudo o que eu queria de novo era andar à vela. A partir daí virei-me para a minha mãe e disse ‘vou trabalhar para ser campeão da Europa’, e pronto, não era bem ser campeão da Europa, mas tudo o que eu ia fazer estava destinado àquele campeonato. Todos os campeonatos que eu ia fazer não tinha objetivo de ganhar. Tinha o objetivo de treinar para depois chegar ao campeonato alvo, que era o Europeu e tirar de lá um bom resultado. Então foi muito ginásio, que o nosso barco, o laser, ou agora chamado ILCA, é um barco muito físico, precisa de muito ginásio e muitas horas de mar, com muito trabalho feito pelo meu treinador para chegar a este resultado”, contou Guilherme Cavaco.
O jovem velejador descreve ainda a sua rotina e reforça o benefício de um equilibro na rotina de um jovem que compete em alta competição.
“Eu acho que isso é muito importante, porque foi uma das coisas que me fez querer desistir da vela o ano passado. No final de contas nós somos jovens e estamos na altura de estar com os nossos amigos, de vez em quando ir sair à noite e pronto, é algo que acho que é sempre preciso. Por isso, tem que haver alturas para fazer os dois. Agora tive um pouco no meu “off season”, não treinei, comi o que quis, não dormi muito, estava sempre com os meus amigos e isso é sempre preciso para conciliar as coisas. Porque se fizermos 100% o desporto profissional, a nossa cabeça acaba por não aguentar. Ou seja, acho que é sempre preciso fazer uma balança para tudo fluir e correr bem. Claro que depois com estudos e vela é mais complicado. Mas este ano, estava no 12º ano, tinha cinco tardes livres, conseguia conciliar bem os dois”, descreveu.
No que à modalidade diz respeito, o atleta foi perguntado acerca da visibilidade e da valorização da vela na sociedade. Guilherme Cavaco diz que a vela se encontra no caminho certo e destaca os bons resultados durante este ano, falando do seu quarto lugar neste Campeonato da Europa, do quinto lugar do seu colega João Pontes, no Mundial e de algumas tripulações de 4-2470 que ficaram bem classificados em competições internacionais.
“Eu acho que este ano a vela ganhou muita visibilidade por todo o esforço que nós todos metemos. Até, o ano passado, o José Mendes, um colega meu, teve uma entrevista num canal televisivo e acho que a vela tem tido um pouco mais de visibilidade e as pessoas começam a perceber o que é a vela. Isso é muito bom para o nosso desporto, porque no final de contas, muitas vezes isto trata-se de ajudas, de patrocínios, e assim é sempre um pouco mais fácil de continuar”, afirmou.
Para o futuro, Guilherme Cavaco diz que, a partir de agora, a vela vai começar a ser algo mais profissional. Espera chegar a uma carreira olímpica, para conseguir cumprir o sonho de participar nos Jogos Olímpicos. O velejador pretende “fazer as coisas devagarinho, com calma, porque a classe em que entrei agora é muito dura”. O atleta irá competir com atletas sub-21, mas, num futuro bastante próximo, irá a começar a competir com atletas mais experientes.
No final da entrevista, o atleta deixou agradecimentos aos seus patrocinadores pelo apoio, entre os quais o seu clube, Ginásio Clube Naval de Faro, à Federação Portuguesa de Vela, aos seus colegas e, por fim, ao seu treinador Joaquim Coutinho.