Bruno Gonzalez, uma das referências do Aikido francês, esteve este mês em Portugal para um estágio realizado na Associação TenChi Coimbra. Professor da Escola de Artes Marciais Cercle Tissier, o 6.º Dan Aikikai é conhecido pela sua prática dinâmica e com aplicação de armas. Bruno Gonzalez, 50 anos, nascido em Bordéus, conversou com a nossa reportagem* sobre o regresso a Portugal após a pandemia e sobre o seu caminho nas artes marciais.
SportMagazine (SM) – Como e quando o Aikido apareceu na sua vida e qual é a sua motivação para tantos anos de prática contínua?
Bruno Gonalez (BL) – Conheci Aikido aos 15 anos. Um dia, um amigo da escola falou-me sucintamente sobre o Aikido e fui observar a uma classe. Estudantes em hakama praticavam em suwari waza… que estranho! O lado exótico da disciplina intrigou-me certamente, mas o que me motivou principalmente foi o ambiente de estudo ligado ao rigor, sobriedade e tradição na prática. Acho que a complexidade desta arte e todo o estudo necessário manteve o meu entusiasmo intacto todos estes anos.
SM – Como é que o Sensei Christian Tissier apareceu no seu percurso e como descreve a importância do Sensei Tissier para o Aikido em França e também na Europa?
BL – Depois do bacharelato decidi intensificar a minha prática mudando-me para Paris. O Cercle Tissier pareceu-me o lugar certo para isso. Foi por volta dos 19 anos que comecei a minha formação em Vincennes com o Christian. Graças aos seus anos no Japão, Christian desenvolveu uma forma moderna e dinâmica de Aikido. Além disso, graças às suas qualidades pedagógicas, Christian levou a riqueza e a subtileza da disciplina para um vasto número de pessoas no mundo inteiro.
SM – Além disso, pode identificar as razões do sucesso do Aikido em França em termos de quantidade e qualidade dos praticantes?
BL – França sempre teve uma importante tradição de artes marciais, seja para judo, karaté, boxe, Aikido… A presença e influência de grandes mestres franceses que marcaram a história das artes marciais no país e, em particular, do Aikido é, sem dúvida, o fator determinante para o sucesso desta disciplina.
SM – Na sua opinião, que responsabilidades e obrigações vieram com o 6º dan Aikikai recebido das mãos de Sensei Tissier?
BL – Dependendo das capacidades de cada um, seja o 6º dan ou não, parece-me que a honestidade e o entusiasmo são os valores essenciais que se devem viver e partilhar. Por outras palavras, praticar o Aikido pelo “amor à arte”. Não me lembro quem disse: “Ama a arte sim mesmo e não a si mesmo na arte”
SM – Como surgiu a sua ligação a Portugal e à Associação de Clubes Aikido Ten-Chi e quais foram as suas primeiras impressões de praticantes portugueses?
BL – O Henrique Martins, da Associação de Clubes de Aikido TenChi, através de Camilo Carneiro, contactou-me há alguns anos. Descobri, então, um grupo de pessoas muito acolhedoras, com um sorriso largo, curiosas e atenciosas. É um prazer partilhar a minha prática com todos eles.
SM – Há dois anos, o seu curso em Coimbra foi o último realizado antes do primeiro confinamento que condicionou a vida de todos. Sente que este regresso a Portugal representa de alguma forma a retoma da prática com pequenas restrições?
BL – No que diz respeito aos seminários, sim. Não tem sido um momento fácil para Aikido. Todos os professores fizeram o seu melhor de acordo com as circunstâncias para manter o contacto com os alunos. Mas depois de tanto distanciamento, agora é importante renovar o contacto no sentido mais amplo do termo, sentindo novamente uma mão cheia de alegria no tapete.
*Esta entrevista foi realizada com a colaboração da Federação Portuguesa de Aikido.