A Seleção Nacional de Sub-17 encontra-se, de momento, em Espanha, a disputar o Torneio de Tarazona. Na primeira jornada, disputada esta quinta-feira, Portugal empatou a 32 golos com a seleção francesa. Após este torneio, a Seleção Nacional desloca-se a Lagoa, no Algarve, para disputar o VIII Torneio Internacional de Andebol Cidade de Lagoa. Nuno Santos é o selecionador nacional que treina e acompanha esta equipa. O técnico português conversou com a SportMagazine sobre a importância destes torneios e a formação dos atletas.
Nuno Santos afirma que este tipo de torneios são “grandes experiências para estes jovens atletas”, devido à enorme experiência internacional que estes acabam por adquirir.
“Neste momento, nós temos um número alargado de atletas e estamos a tentar dar-lhes o máximo possível. E graças a Deus que a Federação tem colaborado connosco para uma maior experiência internacional para os atletas. Em termos de futuro, isto é importantíssimo, principalmente quando chegam aos escalões de sub-18 e sub-20, quando já têm Campeonatos da Europa e do Mundo. É importante chegar aí já com uma bagagem internacional para se poder jogar com as melhores equipas”, disse.
Para além disto, de um torneio para o outro, o selecionador nacional vai alterar a convocatória, deixando apenas seis jogadores do Torneio de Tarazona na lista da equipa. Nuno Santos explica esta escolha.
“Sim, alterámos a convocatória por dois motivos. Aqui é sub-17 e no torneio de Lagoa é sub-18. Logo aí introduzimos atletas mais velhos um ano, embora estejam integrados também atletas mais novos, mas optámos por fazer aqui uma mistura de gerações para continuar a dar mais alento aos atletas e percebermos em que ponto é que eles se encontram”, afirmou.
Para além de abordar os torneios, Nuno Santos falou ainda sobre esta nova geração de atletas e da formação dos mesmos nos dias que correm, nomeadamente as dificuldades e os possíveis entraves na mesma.
SportMagazine (SM) – Sendo treinador de jovens atletas, que metodologia de treino utiliza e como prepara os atletas para o sucesso?
Nuno Santos (NS) – Treinar seleções é extremamente difícil, porque temos pouco tempo de trabalho. Agora até vamos ter mais tempo, mas é muito difícil porque nota-se imensas carências a todos os níveis. A organização do nosso próprio país é desconfortável para quem está a trabalhar com clubes, com atletas, no fundo, e com seleções nacionais. Porque nós, nos mais novos, procuramos atletas com algumas características físicas que nos possam dar garantias para competir a alto nível e sabemos que esses miúdos tenham mais dificuldades motoras do que alguns atletas menos altos, embora esses também não estejam excluídos como é lógico. Mas isto é um problema transversal, ainda há bocado estava a conversar com um colega meu aqui da Seleção Nacional, precisamente desses problemas. Isto é um problema estrutural, ou seja, nós em termos de país, por exemplo nas escolas, os miúdos têm uma carga letiva imensa, depois ainda têm atividades extracurriculares, como explicações e não sei quê. Nem têm tempo para eles, para poderem brincar etc. E isso traz-nos imensas dificuldades. A perceção que temos é que os horários são feitos em função das necessidades dos pais e não em função das necessidades dos miúdos. Isso traz imensas dificuldades, porque há muito pouco tempo de treino, porque o horário a que eles saem da escola até ao horário que tem que estar em casa para jantar e para estudar é um horário muito complicado. Nós queremos estar ao mais alto nível, mas às vezes não criamos situações para estar ao mais alto nível. E às vezes são coisas que, penso eu, se podem resolver. Por isso há aqui um problema de base que tem de ser resolvido. Por outro lado, nós também temos a tendência de responsabilizar os clubes, os próprios treinadores, e nós também estamos a ter uma luta, para que se o atleta quer estar a um nível elevado, ele também tem que investir um pouco nele. Quer dizer, também temos de começar a ver as coisas um bocadinho ao contrário. Em vez de estarmos sempre a responsabilizar os treinadores, porque efetivamente têm essa responsabilidade. Então incutir isso nos atletas, porque se o clube não tem essa responsabilidade, por um motivo qualquer, ou espaço, ou financeiro, o que for, ele tem que fazer uma aposta individual dele. E estamos um pouquinho nessa luta com os nossos atletas também aqui na seleção e penso que os clubes também deviam ir por aí, porque eles de facto são o suporte da Seleção Nacional, mas, por vezes, não conseguem fazer mais do que aquilo que já fazem.
SM – Acha que essas dificuldades podem afetar os atletas psicologicamente?
NS – Eu não sei se os afeta psicologicamente, mas que é difícil é. No fundo, um atleta que tenha ambições de jogar a um nível elevado, acaba por ter uma carreira dupla, é estudante e é atleta. E as dificuldades que isso implica em termos psicológicos pode não o afetar, mas é desgastante. São muitos anos, a exigência é cada vez maior consoante o escalão vai sendo superior, a exigência escolar também vai ser cada vez maior, e isso exige um esforço muito grande para os atletas, isso não há dúvida.
SM – Para além do treino físico também há o lado psicológico e os valores. Que valores tenta incutir aos seus atletas para que eles consigam ir adiante?
NS – Foi precisamente aquilo que acabei de lhe dizer. É procurar incutir-lhes isso mesmo, porque se nós falarmos com um atleta todos eles querem jogar nos grandes clubes, todos eles querem chegar à Seleção Nacional, e isso é excelente, tudo bem. O problema é que eles tenham uma conduta de forma a chegar a esses patamares. A nossa luta vai também agora, em relação aos atletas, de termos a preocupação de lhes incutir a responsabilidade individual. Se os clubes não lhes podem dar algumas competências eles têm que, por eles, procurar essas mesmas competências, principalmente em termos físicos. É um pouco isso que a gente procura agora falar com os atletas, ou seja, incentivá-los nesse sentido, de eles fazerem um trabalho individual – os que puderem. Os que não puderem, a Federação também se propõe a arranjar um plano de trabalho para esses mesmos atletas, de forma a conseguirmos ajudá-los de alguma forma. E é um pouco por aí, os clubes têm cada vez mais dificuldades, portanto temos de procurar também o outro lado e sensibilizar os atletas. Neste processo todo, os pais têm uma importância fundamental, porque esta carreira dupla é de uma exigência enorme para os atletas, principalmente a partir dos 17, 18 anos, isto é de uma exigência muito grande. Mas o problema está na base, os miúdos hoje não têm tempo para nada, para brincar, porque têm uma carga letiva brutal, depois ainda têm as explicações, aquelas aulas todas extracurriculares. Enfim, é preciso que os pais e os próprios atletas tenham esta sensibilidade para perceber também o que o filho quer.
SM – Como vê esta nova geração do andebol português?
NS – Por vezes é difícil a gente estar a perspetivar. Mas é assim, há talento, há atletas muito interessantes, temos a certeza que há atletas que vão chegar a um nível muito elevado. No entanto, continuamos com um problema que tem a ver com a nossa estatura e nós fazemos uma luta permanente à procura de atletas mais novos que tenham a tal dimensão que é de extrema importância.