Evento que se propõe a refletir, debater e partilhar o conhecimento em relação a fatores associados à ética e integridade no desporto, o Ética Summit 2022 arrancou este sábado, no segundo e penúltimo dia do evento, com a conferência “Da ética no desporto à ética do desporto”. Encontro virtual, organizado pelo Panathlon Clube de Lisboa para a comunidade de língua portuguesa, a conferência foi acompanhada por uma média de 130 participantes simultâneos, que puderam interagir e participar ativamente da discussão ao longo da tarde.
Após abertura realizada pelo presidente do Panathlon Clube de Lisboa, Mário Almeida, o debate inicial foi conduzido pelos professores Rafael Mocarzel (docente na Universidade Federal do Rio de Janeiro & Universidade de Vassouras – Brasil) e Rui Garcia (professor Catedrático da Universidade do Porto, Faculdade de Desporto – Portugal). Na ocasião, uma série de conflitos políticos e sociais, incluindo questões envolvendo atletas transgénero, foram levados à luz, o que motivou intervenções e uma discussão mais aprofundada que foi seguida pela Mesa Redonda: “Desafios atuais: a genética no desporto”.
Neste momento, além dos professores Rui Garcia (que passou a ser moderador do momento) e Rafael Mocarzel, participaram como preletores Rodrigo Gonçalves Dias (professor titular visitante Universidade Federação do Maranhão – Brasil) e Antonino Pereira (docente no Instituto Politécnico de Viseu, Escola Superior de Educação – Portugal)
Formado em Educação Física, com doutoramento na área de Biologia Molecular, o professor brasileiro Rodrigo Gonçalves Dias, pesquisador há mais de 18 anos, pontuou brevemente sobre suas pesquisas e especialidades a alertar sobre o “doping genético como algo ilícito”. Ele desenvolveria sobre o tema adiante, sendo a discussão bastante bem recebida pela comunidade.
Na discussão, foram mencionadas a criação de drogas mais eficientes; modificação das células não hereditárias; modificação de células hereditárias; além da mutação genética como benefício para o atleta. Elogiado por Rui Garcia como “brilhante” e um dos professores que mais tratam e se aprofundam sobre a ética no desporto português, o professor luso Antonino Pereira destacou ser apenas “alguém que está inquieto com algumas questões com a temática da ética no desporto”.
“A engenharia genética vai trazer muitas inovações e o desporto não vai passar ao lado. O desejo de melhorar aas capacidades físico-mentais terá como consequências novos avanços. O desporto é altamente competitivo e muitos atletas não hesitarão em buscar melhorias dos métodos competitivos”, observou o professor do Instituto Politécnico de Viseu a alertar também sobre questões ligadas à eugenia.
“Lamentavelmente isso [a eugenia] ainda é vivo em determinadas tribos, microgrupos, que ainda fazem barulho e defendem esse tipo de coisa. Que tipo de desporto queremos ter? Antes de que desporto, que sociedade humana queremos ter? O desporto em sua maneira mais abstrata é um microuniverso da sociedade humana. Um reflete o outro, uma hora mais, hora menos, mas há um reflexo da imagem e uma influência frequente. Volta e meia acontece de o desporto influenciar a sociedade e da sociedade influenciar o desporto. Com a evolução genética temos uma porta aberta para a eugenia e é tudo o que a humanidade não precisa”, interveio o professor Rafael Mocarzel.
Em outro momento adiante, o professor Rui Garcia trouxe outra discussão: “Se a genética adentrou tanto nas nossas vidas, porque o desporto não pode ser beneficiário da genética?”, a convidar o professor Rodrigo Gonçalves Dias a participar do debate com um recorte sobre ganhos ilícitos no desporto – nomeadamente sobre a dopagem genética.
“Tudo o que se fala de atletas geneticamente modificados, com performance física modificada, 95% não é verdade. É sensacionalismo; é o ser humano tentando suprir o ego a querer dizer que ele é bom. Eu falo tranquilamente, as duas descobertas inéditas no mundo que eu fiz quando eu era pesquisador da área não servem para nada”, garantiu, sendo em seguida indagado por outros participantes – numa discussão bastante aprofundada sobre a temática.
“Para se ter uma possibilidade de doping genético eficiente teria que a terapia génica mostrar que é eficiente primeiro. Nem na sua base isso está comprovado. Não existe nenhum método de terapia genética aplicado para salvar vidas. Como dizer que uma tecnologia que nem saiu do papel pode ser utilizada em outro campo para burlar [ludibriar/enganar] o rendimento no desporto?”, acrescentou Rodrigo Dias, que sugeriu a leitura do seu artigo Genética, Performance Física Humana e Doping Genético: o Senso Comum Versus a Realidade Científica.
“Os defensores do doping no desporto defendem que o desporto visa a superação dos limites do humano então porquê colocar entraves a este objetivo?”, questionou no chat o participante José Lima. “Grandes abordagens. Como agentes devemos mudar mentalidades e cabe-nos a nós pedagogos ser o motor de mudança. Bem haja aos palestrantes”, escreveu o participante Tiago Lourenço, entre inúmeros outros elogios ao debate.
A programação do Ética Summit 2022 terá, a seguir, dois Workshops simultâneos: “O desporto e o desenvolvimento de valores, desde as idades jovens” e “Ética do desporto nas leis e regulamentos”. A programa completa pode aqui ser conferida. A SportMagazine, media partner do evento, acompanha o evento em permanência.