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Heróis nacionais, descobridores no passado, treinadores no presente

Por Ivo Quendera*

Treinador Paralímpico de Canoagem

Mais de 600 anos separam o início dos descobrimentos portugueses e as atuais conquistas desportivas sob as cores nacionais, adornadas pela esfera armilar, as cinco quinas e os sete castelos.

As primeiras navegações e a conquista de Ceuta em 1415 são geralmente referidas como o início dos descobrimentos portugueses, que resultaram no crescimento económico do Reino de Portugal e no despertar do povo lusitano para o desenvolvimento de uma cultura náutica e uma ligação ao mar, que ainda nos dias de hoje nos enche o peito de orgulho, de esperança e de uma identidade nacional.

Muitos foram aqueles que se aventuraram no mar em prol da nação, em prol da fama, descoberta e realização coletiva, sem garantia de retorno, em plena ausência familiar, sem perspetiva certa de futuro, ocultados, na maior parte das vezes, do conhecimento da população em geral, e sempre com pesadas obrigações perante a coroa e o fraco investimento dos comerciantes. Muitos se perderam, poucos foram aclamados pelos seus êxitos, e a maior parte esquecidos, apesar do seu esforço, empenho e resultados.

Seis séculos passaram e os descendentes desses marinheiros mantêm a luta, a proatividade e os resultados de excelência, mas desta vez no desporto. Os Descobridores do nosso passado cultural são os nossos Treinadores do Presente. São aqueles que ocultamente lutam pelo empenho dos nossos principais atores no terreno: os Atletas.

Decerto que muitos preferem evitar a exposição mediática, mesmo nos momentos de êxito ou resultados. Mas são estes agentes imprescindíveis que, prontamente, assumem os erros ou falhas ocorridas pelas suas equipas no terreno; são os primeiros a dar a cara nos momentos menos bons; são os motores de motivação nas piores alturas. Trabalham muitas vezes sem condições, faça calor ou frio, haja chuva ou vento, seja de madrugada ou ao final do dia, para que se mantenha o empenho e o rigor do treino dos atletas, sempre com o foco de melhorar e potenciar a capacidade dos mesmos, de ir mais além, na busca da conquista, em prol das cores, sejam elas locais, regionais ou nacionais.

Tal como um realizador ou produtor, não dá a cara nem aparece nos cartazes de filmes, junto com os atores. Sem os treinadores não teríamos a simbiose de relação e trabalho com os atletas, que almejam os resultados e as medalhas. Mas, acima de tudo, o ensino e respeito pelos pilares do desporto; a promoção dos hábitos e estilos de vida saudável; o respeito e equidade na sociedade; os símbolos de reciprocidade sistémica que envolvem a nossa vida pessoal e familiar, profissional, recreativa, cultural e social.

No seguimento de um processo de avaliação e auscultação dos parceiros do sistema desportivo, a Lei nº 106/2019 de 06 de setembro vem atualizar o disposto na Lei n.º 40/2012 de 28 de agosto, que ostentava dificuldades na sua aplicação, considerando alguns constrangimentos específicos, no contexto e realidade da prática desportiva. Assim, atualizou-se a formação dos Recursos Humanos no Desporto, nomeadamente da figura do Treinador, para estar enquadrada na Formação Profissional, com um regime de acesso, adequando o exercício da sua atividade à legislação europeia.

Porém, a Confederação Portuguesa de Treinadores, na pessoa do seu Presidente, o Professor Pedro Sequeira, relativamente ao processo do exercício da atividade do treinador de desporto, só foi consultada no âmbito dos critérios de acessibilidade e formação, ficando, ainda, por corrigir e implementar um plano de apoio e defesa dos direitos dos mesmos, da sua atividade no terreno e da relação com as organizações desportivas que o empregam, assim como o seu futuro pós carreira, tal como dos atletas e outros agentes noutras áreas profissionais.

Está na hora dos Treinadores de Desporto em Portugal lutarem pelo estatuto de Atividade Profissional!

*IVO FILIPE FIGUEIREDO QUENDERA, 41 anos, ex-atleta de canoagem, licenciou-se em Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa, é Mestre em Desporto pela Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM). Treinador de Canoagem desde 1998 e de Paracanoagem desde 2004, é atualmente Técnico Nacional de Paracanoagem e treinador do medalhado Paralímpico Norberto Mourão (bronze nos Jogos de Tóquio).

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