Diogo Ribeiro, Filipa Martins, Fernando Pimenta, Fernardo Atilano, Marta Paço, Miguel Oliveira, António Morgado e muitos outros atletas portugueses de elite têm uma interseção importante: todos eles treinam em Centros de Alto Rendimento (CAR). Equipamentos que são referência singular para o desenvolvimento do desporto nacional e que está em ampliação e aperfeiçoamento sob responsabilidade e gestão da Fundação do Desporto (FdD), instituição destacada na edição da n.º 3 da revista SportMagazine.
Pessoa coletiva, sem fins lucrativos, dotada de um património suficiente e irrevogavelmente afetado à prossecução de um fim de interesse social – e são muitas as ações já executadas e as que estão em curso neste mesmo intuito – a FdD, entidade responsável pela coordenação da gestão dos CAR edificados no território nacional desde 2013, num esforço financeiro superior a 100 milhões de euros, tem atualmente como presidente do Conselho de Administração o ex-nadador olímpico Paulo Frischknecht.
Instituída pelo Estado português desde 1995, a FdD tem como objeto social um foco principal: apoiar o fomento e o aperfeiçoamento do desporto português, “designadamente nos domínios do alto rendimento”, conforme destaca Frischknecht. A mesma entidade assume, ainda, a promoção internacional do desporto português, a partir de medidas de incentivo do COMPETE 2020, para que equipas, seleções e praticantes de desporto de alto rendimento, nacionais e internacionais, possam estagiar e preparar grandes competições nestas infraestruturas.
Destaca-se, relativamente à preocupação em tornar Portugal uma referência internacional, o Projeto de Internacionalização da Rede Nacional de CAR – HIGHSPORTUGAL. O objetivo, conforme explica a FdD em documento público, é “promover internacionalmente o produto, equipamentos e recursos associados aos
Centros de Alto Rendimento, definir e implementar uma estratégia de marketing internacional com vista ao reforço da visibilidade internacional da oferta de bens e serviços, atenuando a diferença entre a sua qualidade intrínseca e a qualidade percebida pelos mercados”.
O projeto, cofinanciado pelo COMPETE 2020, visou igualmente a prospecção, conhecimento e acesso a novos mercados, bem como o desenvolvimento de processos colaborativos de internacionalização, da partilha de conhecimento e capacitação da Rede Nacional de CAR para a internacionalização.
Neste sentido, com um extenso plano de desenvolvimento na área desportiva, a Fundação do Desporto tem o compromisso de apoiar atletas, eventos nacionais e internacionais, realização de seminários e conferências, entre outras ações de promoção do desporto nacional, assim como a articulação internacional com os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (nove países), do espaço Lusófono (11 países), bem como do espaço ibero-americano (23 países).
“A cooperação externa permite trocar experiências e conhecimentos, proporciona oportunidades para que técnicos e especialistas nacionais se desloquem ao estrangeiro para se qualificarem e permite que se promovam os CAR no exterior, trazendo equipas, seleções e atletas para o nosso país”, ressalta o diretor executivo da FdD, Paulo Marcolino.
As finalidades prosseguidas pela Fundação do Desporto, conforme previstas nos respetivos Estatutos, são classificadas com interesse público desportivo, para a promoção e salvaguarda de condições necessárias ao desenvolvimento desportivo. E estão alinhadas com o pacto de crescimento inteligente, sustentável e inclusivo de acordo com a Agenda 2030, a Estratégia Europa 2020, bem como com as metas definidas para os eixos prioritários do Portugal 2020, Portugal 21-30 e PRR, designadamente ao nível da promoção internacional da marca Portugal, através do apoio à realização de eventos desportivos internacionais, potenciando, de forma integrada e articulada, os investimentos realizados nos quadros comunitários anteriores
Sobre o desenvolvimento da sua missão, das funções que exerce na sociedade desportiva e dos projetos, a SportMagazine realizou uma entrevista conjunta com o presidente do CA da FdD, Paulo Frischknecht, e com o diretor executivo da organização, Paulo Marcolino.
SportMagazine (SM) – Senhor presidente do CA da FdD, Paulo Frischknecht: em primeiro lugar, para aqueles que ainda desconhecem as funções da Fundação do Desporto, poderia indicar-nos em que contexto atua o organismo e quais objetivos que tem, nomeadamente quanto à alta competição?
Paulo Frischknecht (PF) – Em 2019 a FdD iniciou um processo de revisão estatutária que alargou, em termos específicos, o seu âmbito de atuação. Concretamente, hoje, a FdD tem por objeto social promover e apoiar o fomento e desenvolvimento do desporto português, designadamente nos domínios do alto rendimento, mas também nas áreas da educação, saúde, turismo, ambiente e economia, contribuindo para o aumento da prática desportiva junto da população, para além da missão que a organização já assumia, designadamente a coordenação da gestão dos Centros de Alto Rendimento (CAR), construídos no quadro comunitário de apoio 2007-2013.
As finalidades prosseguidas por esta Fundação, conforme previstas nos respetivos Estatutos, são de interesse público, quer quanto à promoção e salvaguarda de condições necessárias ao desenvolvimento desportivo, quer no que diz respeito ao pacto de crescimento inteligente, sustentável e inclusivo de acordo com a Agenda 2030, a Estratégia Europa 2020, com os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, bem assim como ao nível do seu contributo potencial para o cumprimentos das metas definidas para os eixos prioritários do Portugal 2020, designadamente ao nível da promoção internacional da marca Portugal.
Desde a sua criação, a FdD teve sempre um contributo particular no que respeita ao alto rendimento, nomeadamente na concessão de apoios financeiros para atletas, seleções e equipas, mas também para o financiamento a eventos desportivos nacionais e internacionais e, desde 2015, pela coordenação e gestão da Rede de CAR.
Adicionalmente, a Fundação do Desporto tem como missão assessória a articulação e colaboração com outros países no domínio dos CAR e demais ações conexas com o desporto de alto rendimento, em parceria com as entidades do Estado Português com responsabilidade ao nível da cooperação internacional.
SM – A Fundação do Desporto coordena a gestão da Rede Nacional de Centros de Alto Rendimento, um aparato tecnológico fundamental para o desenvolvimento desportivo de qualquer país. Neste sentido, como avalia o equipamento que dispõe hoje Portugal para o aprimoramento de atletas e modalidades?
PF – A Rede CAR detém 13 centros multidesportivos, de Viana do Castelo a Vila Real de Santo António, que reúnem um conjunto específico de instalações, equipamentos e serviços de apoio multidisciplinar, cuja finalidade é a otimização do rendimento, proporcionando as melhores condições de preparação e maximização da performance. Além destes, o CAR do Jamor funciona como entidade satélite da Rede, proporcionando apoio nas áreas da medicina desportiva e da avaliação, controlo e otimização do rendimento desportivo. Entre as várias valências destacam-se medicina, fisioterapia, biomecânica ou nutrição desportivas. São dos melhores equipamentos desportivos de apoio ao alto rendimento que temos em Portugal.
A construção e requalificação, a nível nacional, de Centros de Alto Rendimento dotou e capacitou o país de uma rede de equipamentos e infraestruturas com valências especializadas e orientadas para o aperfeiçoamento e treino de praticantes de alto rendimento, promovendo a qualificação e o desenvolvimento das várias modalidades desportivas segundo padrões de nível internacional. O investimento na Rede Nacional de CAR, quer pela FdD, quer pelos Municípios – proprietários dos CAR – permitiu, permite e permitirá que os nossos atletas, seleções e equipas de alto rendimento tenham melhores condições de preparação para as grandes competições internacionais, olímpicas e paralímpicas.
Neste eixo de ação, cabe à FdD a captação e gestão do financiamento, bem como a organização e apoio à organização de eventos de natureza desportiva, o apoio aos praticantes de alto rendimento que se constituam promessas e esperanças desportivas, potenciando, rentabilizando e multiplicando, quer o financiamento do Estado para estes fins, quer o financiamento das diferentes entidades que apostam e investem no desporto, garantindo, também, a melhor rentabilização das infraestruturas de forma integrada.
Adicionalmente, este organismo assumiu, também, a promoção internacional dos CAR, a partir das medidas de incentivo do Portugal 2020, designadamente do COMPETE 2020, para que equipas, seleções e praticantes de alto rendimento possam estagiar e preparar as grandes competições internacionais nestes Centros.
SM – Há nos planos a construção ou mesmo requalificação de algum CAR? Numa entrevista que vai sair nesta edição da revista SM, por exemplo, o selecionador nacional Hugo Silva, do voleibol feminino, aponta a necessidade de um centro para a modalidade.
PF – A partir da publicação em Diário da República do Despacho n.º 11258/2015, de 1 de outubro, foi instituída Rede Nacional de CAR, que beneficia de um conjunto de apoios e financiamentos, públicos, específicos e exclusivos.
Na verdade, o referido Despacho institui a Rede Nacional de CAR, define e legitima a Coordenação Nacional por parte da FdD tendo-lhe, igualmente, cometido a responsabilidade pela promoção internacional destas infraestruturas especializadas, bem assim como determina que é a esta entidade a quem cabe apresentar os requisitos, critérios e procedimentos para a integração, ou exclusão, de unidades na Rede. Este instrumento diz, ainda, que deve a FdD ser ouvida na avaliação e proposição de candidaturas de CAR a financiamento comunitário.
Em devido tempo, os órgãos sociais da FdD aprovaram os Requisitos, Critérios e Procedimentos de admissão de infraestruturas desportivas à Rede Nacional de CAR – documento orientador.
Embora da responsabilidade, e aprovados pela Administração da Fundação, a última palavra cabe ao Membro do Governo com a tutela do Desporto, uma vez que qualquer desenvolvimento nesta matéria, terá implicações financeiras e deve fazer parte de uma estratégia nacional para o Desporto.
Participam no processo de inclusão de infraestruturas desportivas na Rede CAR as diferentes entidades que constituem o universo desportivo nacional e da administração pública, como os Comités Olímpico e Paralímpico, a Confederação do Desporto, o IPDJ, a Associação Nacional de Municípios, entre outras.
Dito isto, qualquer construção de um novo espaço dedicado ao alto rendimento, ou à sua integração na Rede CAR, terá de ser sujeita à avaliação de um alargado grupo de entidades com responsabilidades nacionais no desporto, mais ainda se dinheiros públicos forem utilizados…
Na FdD estamos sempre a avaliar a forma de capacitar e qualificar os CAR. Sempre que possível participamos em projetos de requalificação dos CAR existentes. Temos vários exemplos disso, como as medidas de capacitação para a saúde e emergência nos CAR, a instalação das salas de estudo digitais, entre outras. Após estes anos volvidos desde a construção dos CAR, e com a evolução tecnológica e técnica, é natural que os CAR sintam a necessidade de se atualizarem para se manterem competitivos. Por isso, a nossa atenção para a requalificação dos CAR é permanente. Tudo dependerá do financiamento que se conseguir obter.
Não conhecemos planos para a construção de novos CAR, mas há interessantes intenções para transformar infraestruturas desportivas em centros de treino especializados para o alto rendimento, sem as exigentes características que um CAR implica, mas muito funcionais, capazes de representarem laboratórios de otimização da performance.
SM – Senhor diretor Paulo Marcolino, perguntamos-lhe: no âmbito da sua missão, a Fundação do Desporto desenvolve a sua articulação internacional com os países da CPLP, do espaço Lusófono, bem como do espaço ibero-americano. Neste sentido, de que forma essas cooperações internacionais podem trazer benefícios para o nosso desporto?
Paulo Marcolino (PM) – Objetivamente, a cooperação externa permite trocar experiências e conhecimentos, proporciona oportunidades para que técnicos e especialistas nacionais se desloquem ao estrangeiro para se qualificarem e permite que se promovam os CAR no exterior, trazendo equipas, seleções e atletas para o nosso país.
Dentro do que podemos considerar por ‘benefícios’ para o Desporto nacional incluímos, ainda, as negociações e parcerias que se estabelecem ao nível das relações internacionais, dirigidas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, através do Instituto Camões, I.P., onde participam as diferentes entidades da Administração Pública, desde logo o IPDJ, I.P. e a Fundação do Desporto, no âmbito dos Protocolos de Cooperação bilateral com dezenas de países. Aqui estabelecem-se quadros de cooperação, envolvendo os Governos e as administrações públicas, que possibilitam a circulação de pessoas e bens, bem como o desenvolvimento de projetos e programas com benefício direto para os cidadãos.
Nos últimos oito anos a FdD tem participado nas comissões mistas para o estabelecimento de programas de cooperação entre Portugal e diversos países. Destes instrumentos de cooperação internacional resultam importantes acordos, com condições muito vantajosas para os diferentes agentes desportivos nacionais nos diferentes níveis e eixos de atuação desportiva, quer ao nível da capacitação e qualificação, promoção e gestão de infraestruturas desportivas, medicina desportiva, dopagem, combate à violência no desporto, entre outros.
Em suma, trata-se da definição da política externa para o Desporto, nas áreas multilateral e bilateral. Estes são alguns exemplos do trabalho da FdD ao nível da diplomacia desportiva.
SM – Continuando com o Sr. Paulo Marcolino, importa agora explorar um pouco os projetos internacionais da Fundação. A FdD tem alguns projetos aprovados, a exemplo do ELIT-in e do PsyTool. De que forma essas ferramentas, a exemplo de outras sob colaboração da Fundação, impactam diretamente na formação dos atletas portugueses, não apenas na prática desportiva, mas na vida deles como cidadãos?
PM – Os projetos que enuncia estão já terminados e os produtos finais disponibilizados, gratuitamente, a entidades e cidadãos – uma das imposições da Comissão Europeia para apoiar, financeiramente, projetos no âmbito do Desporto. Mas temos outros, que também já terminaram, como o Programa «For a Clean and Healthy Sport – financiado pela UNESCO», ou o «Project PACTE – Promoting Active Cities Through Europe». Outros, ainda, em avaliação, designadamente ao nível do programa ERASMUS +, da União Europeia.
Os programas e os projetos onde a FdD se tem envolvido desde 2015 têm por objetivo contribuir para o desenvolvimento desportivo. Por exemplo, o PsyTool foi um projeto pioneiro de âmbito internacional, cujo objetivo foi desenhar, validar e implementar um conjunto de ferramentas, entre as quais uma plataforma informática plena de recursos de âmbito académico, social, educacional e cultural, permitindo abordagens inovadoras de combate à violência, discriminação, intolerância, dopagem, match-fixing, entre outros problemas que surgem no desporto atual, dotando de informação e enriquecendo as autoridades no terreno.
Já o projeto ELIT-in “Integração de atletas de elite no mercado de trabalho, pela valorização das suas competências transversais” foi um projeto ambicioso, aprovado pela Comissão Europeia no âmbito do Programa ERASMUS+, cujos objetivos se centraram na promoção das carreiras duais dos atletas de alto rendimento, através de uma abordagem inovadora e do reconhecimento das competências transversais por eles adquiridas ao longo das suas carreiras desportivas, com o intuito de os valorizar enquanto fatores diferenciadores no mercado de trabalho e lhes assegurar garantias que os ajudem no momento da transição de carreira.
Aqui estão dois exemplos de projetos que a FdD coorganizou e geriu, dedicados, essencialmente, aos atletas, quer no seu desenvolvimento durante a carreira desportiva, quer no pós-carreira e transição para o mercado de trabalho.
SM – Finalizamos com o senhor presidente Paulo Frischknecht: atendendo ao momento atual desta edição da SM, como perspetiva eventos como o Etica Summit, e a Gala dos Prémios Empresariais, no âmbito do reconhecimento social, económico e cultural do desporto em Portugal?
PF – Trata-se de iniciativas diferentes. A primeira que refere é da responsabilidade do Panathlon Clube de Lisboa, onde a Fundação do Desporto é parceira, integrando a Comissão de Honra e a Comissão de Apoio Institucional do evento.
A FdD associa-se a esta iniciativa meritória, que oportunamente é lançada, no sentido de ajudar a colocar a Ética num central e robusto pilar dinamizador duma inclusiva e reformista ‘cultura agonística’ que urge renovar. Na nossa opinião, condicionada por sermos parceiros, naturalmente, trata-se de um evento muito relevante, que está a merecer atenção nacional e internacional, podendo mesmo transformar-se numa iniciativa com dimensão muito significativa.
Mas podemos citar outras parcerias de charneira, também no domínio da Ética, como a nossa participação na recente Semana da Integridade Desportiva que se realizou na NOVA School of Business & Economics, em Carcavelos, evento organizado pela Sport Integrity Global Alliance (SIGA), entre muitos outros certames nacionais e internacionais que a FdD tem integrado e mesmo organizado. Outras iniciativas poderiam ser aqui citadas, pois a FdD tem vindo a promover e a colaborar em dezenas de eventos, em eixos determinantes para o desenvolvimento desportivo que vão para além da Ética, como por exemplo a transição digital no âmbito da modernização administrativa.
A Gala de Prémios Empresariais é um outro assunto. Trata-se de uma iniciativa desenhada, concebida e promovida pela FdD, no sentido de colmatar um espaço extremamente importante e negligenciado pelo universo desportivo até então. Estamos a promover este evento desde 2018 com o objetivo de distinguir pessoas, empresas ou instituições que apoiam o desporto em Portugal, sobretudo nas vertentes do alto rendimento e desporto adaptado. O grande objetivo é distinguir as empresas e os empresários que são parceiros fundamentais ao desenvolvimento desportivo. Pretendemos unir o mundo empresarial com o universo desportivo e com um duplo objetivo: i) apoiar economicamente praticantes desportivos na sua preparação para as grandes competições desportivas, e ii) fornecer às empresas um modelo de patrocínio diferente e eficaz, responsável no aspeto social e que oferece um retorno do investimento num curto prazo com base nos valores do desporto admirados por todos.