Aos 35 anos, Liliana Cá segue a ser uma das principais atletas de alto rendimento do atletismo português. Medalhada com a prata nos Jogos do Mediterrâneo, a lançadora do disco ganhou o reconhecimento público do treinador, Luís Herédio, pela determinação – mais do que profissional, também pessoal.
“A Liliana realmente tem 35 anos, mas como atleta nunca foi muito explorada antes de ser mãe dos dois filhos. Após começar a treinar comigo, começou a treinar como nunca, seis horas por dia. Trata-se de uma atleta talentosa e que quer aproveitar esta oportunidade para ter o que nunca teve e dar uma vida e educação melhor aos filhos. Tudo o que ela faz é a pensar no futuro dos dois filhos. Portanto, acho que, se o joelho dela deixar, teremos a atleta para mais cinco anos, entre o top-15 mundial”, avaliou o Herédio, em entrevista à SportMagazine.
Quinta classificada em Tóquio 2020, Liliana Cá conquistou a segunda medalha de prata a nível pessoal em Jogos do Mediterrâneo (depois do segundo lugar em Tarragona’2018, então com 60,05m). Desta vez, em Oran 2022, ela liderava a competição ao segundo ensaio, mas a croata Marija Tolj (64,71 metros, medalha de ouro) assumiu a dianteira ao terceiro ensaio, sem que a portuguesa se desse por vencida, conseguindo o seu melhor lançamento ao quinto ensaio, com a marca de 63,62 metros, a sua melhor nesta temporada. A marca foi alcançada ao quinto ensaio, com nulos no terceiro e no sexto, 61,91m metros a abrir, 63,05 no segundo e 62,53 no quarto.
Críticas à organização da prova
Apesar de feliz com mais uma conquista, Luís Herédio criticou a organização da competição explicando que houve uma troca nas marcas entre o lançamento da Liliana Cá e a da turca Ozlem Becerek, medalha de bronze (61,96m). Para o treinador luso, o incidente atrapalhou a concentração da portuguesa.
“A Liliana é daquelas atletas que se dá muito bem em grandes competições. Estamos contentes, embora esta competição, esteja a ser marcada por uma enorme desorganização. Passo a explicar: a Liliana fez o seu primeiro ensaio da competição que passou claramente a linha dos 60m, talvez fosse 62m, mas deu na medição 55,50m. Achámos estranho e pedimos para verem o que se tinha passado porque era impossível dar 55,50m, mas pronto. Enquanto estávamos a falar com um juiz, uma outra atleta turca [Ozlem Becerek], lançou e o disco caiu à 55m aproximadamente. Foram medir e deu 61,96m, que foi recorde da atleta por 3m. Fiquei logo chateado… Mas pronto, pedi a Liliana para se concentrar e ela repetiu o lançamento, com raiva, e a Liliana que estava super chateada, deu um grito e fez 61,91m”, detalhou Herédio.
“Conclusão, a atleta que nunca lançou 61.96 ficou com a marca feita pela Liliana e a Liliana ficaria com 55,5m, se nós não protestássemos. Obviamente, a prova teria um final diferente porque a Lili, embora tenha feito uma excelente marca 63,62m, perdeu um pouco da concentração. Mas estamos super felizes”, acrescentou.
Próximos objetivos
Atleta natural de Barreiro, Liliana Cá este ano também já conquistou, entre outros, a medalha de bronze em Leiria, na competição de disco da Taça da Europa de Lançamentos. Após a melhor marca na temporada, Herédio espera que a atleta siga em evolução para as próximas competições.
“A Liliana entra em prova no dia 18 (eliminatórias). Assim que acabou a prova dos Jogos do Mediterrâneo veio ter comigo e disse: ‘Agora já não há nada a fazer, vamos trabalhar para Oregon’. Como treinador, sinto muito orgulho e vaidade de treinar uma atleta assim. Ela sabe o que quer, sabe para o que vai e eu estarei lá sempre ao lado dela, como treinador e amigo. Vamos tentar ser finalistas no Mundial e depois no Europeu”, concluiu o orgulhoso treinador.
O Mundial de Oregon decorrerá de 15 a 24 de julho, nos Estados Unidos; e o Campeonato Europeu, em Munique, em agosto.