Forte prática de desporto informal, relevante presença olímpica, infraestruturas capazes e forte associativismo. O elenco de virtudes do ecossistema desportivo na capital do Distrito de Leiria viabilizou a candidatura a Cidade Europeia do Desporto, o projeto que cumpre uma das linhas estratégicas desenvolvidas na sequência da publicação do Livro Branco do Desporto na Europa.
Escolhida pela Federação Europeia de Capitais e Cidades do Desporto (ACES, na sigla francesa), Leiria já era uma das cidades do país com maiores índices de prática de desporto, seja informal ou federado. Dados da autarquia leiriense recolhidos no âmbito da preparação do projeto revelam que cerca de 57% da população pratica algum tipo de atividade física desportiva, percentagem que é quase o dobro da média nacional.
“Leiria é uma cidade que tem história em termos da atividade física, um associativismo forte e um capaz parque de infraestruturas desportivas. A candidatura foi apresentada na perspetiva de trazer o desporto para o lugar que ele merece na sociedade”, diz à SportMagazine o Vereador do Desporto na Câmara Municipal de Leiria, Carlos Palheira.
Leiria 2022 Cidade Europeia do Desporto está estruturada em três eixos principais, a saber, no desporto para todos, na inclusão e no associativismo.
“O Desporto para todos é uma das áreas prioritárias para desenvolver. Uma importante fatia da população de Leiria já tem predisposição para praticar desporto, reconhece o desporto como um veículo da sua saúde e também como um factor de desenvolvimento social. Agora queremos chegar a mais pessoas ainda. Outra área prioritária é o desporto para todos na área da inclusão. Nesse sentido fizemos um conjunto relevante de investimentos, caso do Pavilhão do Lis, o primeiro e único totalmente inclusivo do país, mas também capacitámos a piscina municipal para a tornar 100% acessível a todos, incluindo quem pratica natação adaptada, e que está a atualmente a ser utilizada por 11 instituições. O terceiro eixo é o associativismo, área em que majorámos os apoios para promover maior participação feminina na prática do desporto, reforçámos o apoio às associações e investimos na construção e requalificação do parque desportivo”, explica Carlos Palheira.
“Se semearmos muito na base vamos colher muito no topo. Todos os anos fazemos uma grande gala do desporto e homenageamos sempre mais de 200 pessoas que foram campeãs nacionais, europeias ou mundiais nas mais diversas modalidades. Isto diz bem da implantação do desporto em Leiria”, acrescenta Carlos Palheira.
Leiria 2022 é a bandeira do projeto Cidades Europeias do Desporto, que a Comissão Europeia sinalizou há mais de 20 anos para ser um dos eixos de promoção do desporto no velho continente. A cidade do Lis já se destaca na prática desportiva, com mais do dobro de praticantes face à média nacional.
Associativismo resiliente
Leiria vive em contraciclo positivo face ao esperado desaparecimento de muitas centenas de clubes que não sobreviverão ao impacto da pandemia. A autarquia admite que o impacto negativo nas associações com algum tipo de ligação ao desporto foi sendo mitigado por via da manutenção de apoios, e em relação entidades federadas, a situação parece igualmente sob controlo.
“Temos neste momento cerca de 370 instalações desportivas das mais variadas tipologias, 200 associações que desenvolvem alguma atividade desportiva e mais de 80 com desporto federado. É verdade que vários estudos recentes indicam que 20 % a 30% das associações desportivas vão desaparecer devido aos impactos da pandemia. Em Leiria, em termos de entidades federadas, temos problemas com um clube que pode desaparecer, mas nasceram cinco novos em áreas diversas. É um contraciclo. Para que isto fosse assim, não retirámos dinheiro ao apoio ao associativismo, mantivemos o mesmo financiamento para o desenvolvimento de atividades nesses clubes, até porque muito ajudaram no combate à pandemia”, salienta o vereador leiriense.
O vereador do desporto destaca o músculo financeiro necessário para os grandes investimentos que a Câmara realizou na infraestrutura desportiva: “Fizemos um esforço gigantesco a nível do orçamento municipal para dotar a cidade de todas as infraestruturas. O Estádio Municipal recebeu obras de renovação com um novo relvado e novas pistas, nova instalação de som e iluminação, inaugurámos o Pavilhão do Lis, apoiámos o Clube Atlético de Regueira de Pontes para construir uma nova instalação, avançámos para a construção do que será o maior pavilhão desportivo da cidade, no Centro Escolar dos Marrazes. Todas as instalações desportivas foram equipadas com iluminação LED, retirámos o amianto que ainda havia em algumas, requalificámos várias instalações desportivas, incluindo as piscinas municipais. Ao nível das escolas públicas do 2º e 3º ciclo instalámos em todas um relvado sintético para melhorar as condições da prática da educação física em espaço exterior.”
Com a ambição de criar uma cidade mais activa e dinâmica, reforçada com a condição de Cidade Europeia do Desporto que vai ostentar em 2022, Carlos Palheira antevê a necessidade de “criar novas dinâmicas e recuperar algumas anteriores”, sobretudo as que continuam válidas e foram interrompidas com a pandemia.
“Fomos nós que incentivámos os ‘Brisa Night Run’, encontros informais nocturnos onde as pessoas se encontravam para correr de acordo com a sua condição física e nível de prática. Quando chegámos à autarquia, em 2017, os percursos pedestres organizados pela autarquia em Leiria tinham cerca de 300 a 500 participantes. Quando começámos a apostar forte nesses eventos, organizando 5 ou 6 por ano, a participação disparou. Em 2020 ainda conseguimos realizar duas. Na primeira participaram cerca de 1100 pessoas e na segunda 2200. E não havia incentivos, nem ofertas, as pessoas vieram com o sentimento da importância que o desporto tem ao nível da comunidade e do desenvolvimento da sua saúde e da sua vivência social. É importante recuperar agora estas rotinas e fazer desporto para todos. O importante é que nos foquemos nas pessoas, e esse foco foi sempre o objetivo da candidatura a Cidade Europeia do Desporto”, diz-nos Carlos Palheira.
“Estamos a tentar que os eventos sejam estruturados em grandes ‘gavetas’. Uma no desporto infantojuvenil, de forma a promover desde cedo a prática desportiva como ferramenta de promoção de saúde, uma outra’ gaveta’ no desporto para todos independentemente da sua condição, idade ou incapacidade, e uma outra organizada ao nível dos grandes eventos. Vamos ter eventos de grande mediatismo, como a Taça da Liga de Futebol, que vai realizar-se durante os próximos três anos em Leiria, a Taça da Europa de lançamentos no atletismo, várias fases finais e finais em múltiplas modalidades. Temos previstos entre 600 a 700 eventos desportivos no município em 2022”, destaca Palheira.
A candidatura de Leiria a Cidade Europeia do Desporto foi apoiada por cerca de 40 federações desportivas.
A boa herança
Quando perguntamos a Carlos Palheira que marca decorrente da distinção europeia a autarquia quer deixar na cidade, o vereador admite que gostaria de melhorar a perceção geral sobre a importância do desporto: “Espero que esta distinção deixe uma boa herança do ponto de vista da perceção do valor do desporto. Um desportista que se dedique com especial empenho muitas vezes não é devidamente valorizado, a não ser que venha das grandes competições carregado de metal. Ganhar é importante, mas quando vimos a nossa atleta Auriol Dongmo, campeã europeia do lançamento do peso, ficar em quarto lugar nos Jogos Olímpicos, que é um triunfo pessoal e nacional extraordinário, achamo-la merecedora de toda a atenção e de todos os elogios. Imaginemos que ela é a quarta melhor do Mundo em qualquer atividade… Imaginemos que ela é a quarta melhor escritora do mundo… Era espetacular em qualquer área que pensemos e também é na atividade que ela pratica. Mas como não há sempre metal, não houve a valorização da sua participação desportiva. Tivemos 7 leirienses nos Jogos Olímpicos e 2 nos Paralímpicos. Tem que haver um reconhecimento social do papel do desporto, gostaria que Leiria 2022 mudasse a perceção das pessoas sobre importância que tem e da valorização desta parte. A outra herança que ficará é a melhoria do parque desportivo.