Psicólogo da Selecção Nacional de Futsal, José Silvério considera que há ainda um certo bloqueio social para falar de saúde mental no desporto, apesar dos avanços que a pandemia gerou para o debate público. O profissional conversou com a reportagem da SportMagazine.
SportMagazine (SM) – O Dr. Jorge Silvério trabalha com a selecção que no fim-de-semana se sagrou pela segunda vez Campeã da Europa de Futsal. Qual é o papel do psicólogo no seio de uma equipa com este nível de exigência?
Jorge Silvério (JS) – Diria, sobretudo, duas funções. Por um lado, integrado numa equipa técnica multidisciplinar com funções bem definidas de trabalho, quer individual quer coletivo, sobretudo individual junto dos atletas que compõem a seleção. Numa segunda vertente, mais junto da equipa técnica, nas questões da comunicação e liderança. De uma forma resumida são estes dois aspectos.
SM – Há ainda um estigma relacionado com o apoio psicológico no desporto?
JS – Eu diria que ainda há um estigma de carácter mais geral. Há ainda muito a ideia de que se recorremos ao psicólogo é porque estamos ‘maluquinhos’. Cada vez menos isto é verdade, na pandemia desmitificou-se muito esta questão, as pessoas começaram a perceber que a saúde mental é vital para assegurar melhor qualidade de vida. No desporto, sendo um meio por vezes mais fechado, ainda acontece esse estigma. Ainda há atletas que perante alguma situação me pedem para nem falar com o treinador, não vá este achar que eles estão frágeis e deixar de contar com eles. Por isso foi importante que esta questão da saúde mental tenha vindo mais para o espaço público, de forma a contribuir para ultrapassar esse estigma.
SM – O centro de gravidade do sistema desportivo é o atleta. É essencial trabalhar a evolução pessoal deste nas diversas fases de carreira. De que forma a psicologia se integra nas diversas fases de preparação do atleta, que correspondem também a diferentes modalidades, idades, maturidades, graus de exigência e de pressão externa?
JS – Não há aqui uma receita geral. Todas as abordagens necessitam de ser adaptadas em função do nível etário, do nível desportivo e em função do objetivo, porque há atletas que querem seguir uma carreira desportiva no desporto X ou Y e há fatores psicológicos que variam em função dos desportos. Vou dar-lhe dois exemplos extremos: em termos de concentração é completamente diferente estarmos a trabalhar com os atletas do tiro, que muitas vezes disparam entre os batimentos do coração e precisam de estar muito focados e concentrados; ou um atleta do peso ou da halterofilia, para quem a questão da concentração não se coloca ao mesmo nível. Portanto, isto tem que ser adaptado ao nível das exigências e ao nível mental que cada desporto envolve.
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