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Exclusivo: Paulo Pereira revela adaptação a treinos e desafios causados pela Covid-19

Paulo Pereira, selecionador nacional de andebol. Fotos: Federação Portuguesa de Andebol

Paulo Pereira, selecionador nacional de andebol desde 2016, quebrou o paradigma conformista em que a modalidade navegou durante muitos anos em Portugal, conseguindo impor uma qualidade de jogo que levou a equipa aos seus melhores resultados de sempre. Com ele, os Heróis do Mar foram 6.º classificados no Europeu de 2020 e 10.º no Mundial de 2021 (o melhor resultado da história na modalidade). Além disso, a Seleção conseguiu uma  inédita presença nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

A formação comandada por Paulo Jorge Pereira está agora prestes a enfrentar mais um grande desafio, com a presença no Campeonato da Europa, a ser disputado na Hungria e na Eslováquia. A equipa estreia-se a 14 de Janeiro (19h30), diante da Islândia. Portugal ainda terá pela frente a Hungria (16 de janeiro, às 17h00) e os Países Baixos (18 de janeiro, 19h30) jogando sempre na Pick Arena de Szeged, na Hungria. O evento encerra a 30 de janeiro em Budapeste, com o jogo da atribuição do título.

SportMagazine conversou com Paulo Pereira sobre a gestão da crise sobre a pandemia da covid-19, que infetou diversos atletas no plantel, sobre desafios e os objetivos de Portugal no Euro2022.

SportMagazine (SM): Professor Paulo, para já não há como fugir do tema Covid-19. De que forma o contágio dos jogadores da Seleção Nacional atrapalhou a preparação para o Europeu?

Paulo Pereira (PP): Foi uma situação difícil. Desde que a pandemia se estabeleceu, nós temos contornado todos os problemas porque não temos sido muito afetados, quer no Mundial, quer no apuramento para os Jogos Olímpicos, ou mesmo nos Jogos Olímpicos. Conseguimos sempre mais ou menos viver bem com isso. E neste momento, não. Foi muito difícil gerir. Desde o dia 27 [de dezembro], no primeiro dia, posso lhe dizer que só tivemos o grupo todo junto hoje [esta segunda-feira] à tarde. Nem de manhã, mas hoje à tarde. Tivemos o grupo todo junto a treinar com as implicações naturais da Covid-19. Posso dizer que houve dias em que treinámos em grupos de três. Durante uma manhã inteira eram grupos de três a trocar sistematicamente, para não se cruzarem. Tivemos a treinar por cores, com três grupos.  Os que já tinham apanhado a Covid-19 recentemente, os que não tinham apanhado e os que estavam a recuperar. Dividimos o grupo por cores, andamos a trabalhar assim. Foi uma adaptação constante com as implicações que surgem. Não foi fácil.

SM: Apesar de incómodo, sabe-se que o problema da covid-19 não atingiu apenas a Seleção Nacional. Suécia, Dinamarca, Eslovénia, Croácia e Sérvia são exemplos de equipas que também sofrem com o mesmo problema. Com isso, a Federação Europeia de Andebol reduziu a quarentena de 14 dias para atletas que testarem positivo para cinco dias e dois testes PCR negativos. Como avalia esta medida?

PP: É uma medida sensata tendo em conta que todos os países estão a caminhar para isto. Esta medida surge empurrada por uma evidência científica. Portanto, a partir do momento em que as pessoas têm Covid-19 parece que a partir do quinto dia as pessoas deixam de ser contagiosas ou quase não há contágio. Portanto, acho que foi uma decisão sensata. Entretanto, ainda existem as questões dos PCRs. O atleta que dê positivo no PCR tem que ter depois o dois PCRs negativos. O que significa que há pessoas que ao fim do mês de contraírem Covid-19 ainda têm PCR positivo. Não transmite a doença. Não percebi muito bem se vão alterar ou manter isto. Não sei. Mas existe esse constrangimento e espero que não sejamos afetados, vamos ver.

SM: O pivot Tiago Sousa (Águas Santas), o latera-direito Daniel Vieira (Avanca), e o central Martim Costa (Sporting) dão sangue novo à equipa das Quinas no lote do Europeu que já denota as presenças dos habituais Heróis do Mar. Qual a importância de promover esses novos jogadores à Seleção?

PP: E ainda temos o Salvador Salvador [do Sporting], ainda há mais gente. O caso do Tito [Miguel Alves, do FC Porto], por exemplo, também é um jogador jovem. O Leonel [Fernandes, do FC Porto], embora esteja há algum tempo connosco, também. É uma renovação que vai sendo minimamente preparada para daqui a algum tempo, ou mesmo num futuro próximo, as pessoas começarem a ser recrutadas com mais assiduidade. Todas as seleções fazem isso e nós também temos que o fazer. Portanto, acho que é algo natural, é o que qualquer selecionador tem que fazer: pensar sempre no futuro. Se eu conseguir que, quando eu sair, que a Seleção [Nacional] fique mais forte do que quando eu entrei, cumpri meu objetivo. Mas para isso é preciso fazer essa renovação pouco a pouco.

SM: Em contrapartida, há também algumas ausências relevantes por lesões, não é verdade?

PP: Não podemos esquecer as ausências de alguns atletas que têm estado convocado sistematicamente, que é o caso do [Luís] Frade [do Barcelona] e do André Gomes [do Melsungen], por exemplo. Tivemos ainda o João Ferraz [do Aarau] e o Pedro Portela [do Nantes]. Não nos podemos esquecer. Portanto, são atletas que têm estado sempre e se não estivessem lesionados também cá estariam. Também fechariam provavelmente algum espaço aos atletas jovens. Nós fizemos uma convocatória um pouco diferente para jogar os dois jogos com a Alemanha que fizemos em novembro e foi um momento para levar mais atletas jovens e assim fizemos. Houve seis atletas que jogaram pela primeira vez pela Seleção. E depois estarem aqui acaba por ser algo natural tendo em conta essa participação. Mas a verdade é que, provavelmente se o André Gomes, o Portela e o Frade estivessem, esse espaço seria reduzido para os mais jovens.

SM: Num artigo recente, afirmou que “conhecer os adversários e o plano para os vencermos é um fator determinante para reduzir o medo de os defrontar”. Dito isso, quais seriam os principais adversários de Portugal no Europeu?

PP: É um facto que andámos muito dispersos esses dias. Às vezes pensávamos mais em não ter um resultado positivo no teste do que propriamente nos adversários. Tivemos esses dias e acabou por ser [mais importante], em determinados momentos, ter toda a gente a chegar no Euro do que propriamente pensar nos adversários ou no próprio treino. Mas são essas inconstâncias e é com isso que temos que conviver. Temos visto como um desafio e não como um problema. Nunca nos aconteceu isto. É a primeira vez que vamos jogar um Europeu praticamente sem preparação. Anulámos a nossa participação no torneio da Suíça, vamos fazer o Euro sem jogar nenhuma única vez e isso faz com que haja aqui alguma perda de foco no objetivo. Mas pronto, estamos a tentar por todos os meios alinhar um pouco as ideias para depois chegar no primeiro jogo com a Islândia e tentar ser muito competitivos de forma a vencer o jogo. Não podemos esquecer que no nosso grupo estão duas seleções que têm praticamente o dobro de participações de Portugal em Europeus, que é o caso Hungria, que joga em casa ainda por cima, e a Islândia. E a Holanda que é um “outsider” que está a crescer todos os dias, está a trabalhar muito bem, tem atletas de referência a nível mundial, portanto, sendo a segunda vez que participa no Europeu, é uma seleção com que temos que jogar muito bem também para vencer.

Vai ser um desafio, um grande desafio para nós. Nunca vejo as coisas como um problema. Estou cansado. Estamos cansados. Ainda não começou a competição e estamos ainda um pouco cansados das adaptações que tivemos que fazer a cada dia. Cada dia é um novo dia. Durante este tempo que estivemos juntos a tentar preparar esta competição. Vamos ver isso como um desafio e como somos capazes de reagir. De certa forma, também somos especialistas no caos, na dificuldade. Então, oxalá que desta vez essa capacidade que temos de dar a volta por cima aconteça.

SM: Até onde Portugal pode chegar neste Europeu?

PP: O nosso objetivo principal é pensar também no Mundial. E ao pensar no Mundial, o nosso objetivo é passar ao “main round”. Tendo em conta que quem passa ao “main round” evita o primeiro play-off a jogar em março e só joga em abril. É muito importante para esta Seleção e por aquilo que temos feito conseguirmos essa qualificação para o Mundial para termos cinco participações consecutivas em eventos de grande porte. Aquela Seleção, com a geração de ouro dos anos 2000, conseguiu ter cinco participações, mas numa delas fomos os organizadores. Se conseguirmos essa qualificação para o Mundial teremos cinco sem sermos organizadores. Significa mais um passo em frente. Vai ser uma luta terrível, mas vamos tentar vencer.

 

 

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