(Para) um verdadeiro reconhecimento da importância do treinador
A Lei nº. 106/2019 de 6 de setembro (conhecida como a “Lei dos Treinadores”), no seu artigo 3º., define que a atividade de treinador de desporto compreende o treino e a orientação competitiva de praticantes desportivos, bem como o enquadramento técnico de uma atividade desportiva, exercida como profissão exclusiva ou principal, auferindo por via dela uma remuneração de forma habitual, sazonal ou ocasional, independentemente de auferir uma remuneração.
A lei veio ajudar ao enquadramento legal da atividade de treinador enquanto atividade profissional. Esta situação já tinha sido definida do Decreto-lei nº. 248ª de 2008. Podemos assim afirmar que, do ponto de vista meramente legal, há 15 anos que ser Treinador é considerado uma profissão. Mas, na verdade, há muitos mais anos que temos Treinadores que se dedicam exclusivamente a esta profissão e que vivem exclusivamente do que auferem. Em qualquer profissão de qualquer área podemos tomar a decisão de querer trabalhar em regime de voluntariado. Desde Médicos, a Advogados, Engenheiros, Contabilistas, Padeiros, entre muitas outras profissões, há quem o faça sem auferir de vencimento em determinado contexto, indo buscar vencimento em outro contexto/profissão. Já o Treinador costuma estar na situação inversa: no início de carreira começa por trabalhar sem auferir qualquer tipo de vencimento e, com o decorrer, dos anos, se chegar aos escalões superiores da sua modalidade ou ao alto rendimento, terá possibilidade, em algumas modalidades, de poder exercer única e exclusivamente a profissão de treinador através de um ordenado. Por que será que é tão difícil aos treinadores conseguirem, desde o início, o ordenado mínimo, como sucede em tantas outras áreas/profissões?
Julgo que a principal razão tem que ver com o verdadeiro reconhecimento da importância do treinador pela nossa sociedade. Se, por um lado, é verdade que os clubes são obrigados a terem treinadores com o Título Profissional de Treinador de Desporto válido (via formação/reconhecimento) para que possam ter praticantes/equipas, por outro, a preocupação de orçamento passa por várias rubricas (inscrições, equipamentos, materiais, transportes, alugueres de espaços desportivos) ficando o pagamento de alguma verba ao treinador quase sempre para o último plano. Muitas vezes até as mensalidades que são pagas pelos pais/familiares dos praticantes são em grande parte reencaminhadas para outras prioridades que não o treinador. Os pais/familiares “deixam” os seus educandos nos treinos e nas competições sem grande preocupação em perceber a importância do treinador, as suas características e competências para a função que exercem. Se no ano seguinte estiver lá outro treinador, são poucos os que se preocupam com isso. O verdadeiro reconhecimento só existe quando todos (adeptos, dirigentes, pais/familiares), de facto, perceberem a importância do treinador no crescimento e desenvolvimento do clube e dos seus praticantes. Quando se olha para um praticante e se percebe a sua evolução em todas as suas vertentes, é sinal do trabalho do treinador e da sua competência. É igual quando se olha para um estudante ou para um doente e vemos a sua evolução perante o professor ou o médico.
Com este número da SportMagazine pretendemos recolher um conjunto vasto de opiniões e perspetivas sobre a profissão de treinador. Que este número ajude no reconhecimento da importância do Treinador no desporto.