28 de Novembro 2024 11:46
Segue-nos

O que procura?

SportMagazineSportMagazine
0

Adaptado

Danilo Ferreira: “Vamos já aferir aqui um caminho que será futuro no posicionamento de todos os países”

Danilo Ferreira, selecionador nacional de Andebol em Cadeira de Rodas (ACR) e um dos treinadores do projeto Andebol4All – que tem como objetivo a inclusão de pessoas com deficiência no andebol – fala sobre esse mesmo projeto e dos maiores desafios de liderar uma equipa de andebol adaptado. Em entrevista publicada na edição n.º 3 da revista SportMagazine, Danilo Ferreira explica que a criação do projeto visa a inclusão de todos aqueles que pretendem praticar, neste caso, a modalidade de andebol, e muito mais.

SportMagazine (SM) – Objetivamente no que consiste este projeto Andebol4All?

Danilo Ferreira (DF) – O projeto Andebol4All consiste no seguinte: o quatro no nome tem dois significados, um que é o four, em inglês, de quatro, e outro de for All, ou seja para todos. E esses quatro projetos levam o andebol aos estabelecimentos prisionais, a portadores de deficiência intelectual, deficiência motora e deficiência auditiva. Nos três primeiros existe competição regular, campeonatos nacionais, com fases de apuramento e fases finais. Nos surdos, ainda não conseguimos muito. O projeto foi criado em 2009, pela FAP, baseado pela lei de bases do desporto e da educação física, através da qual as modalidades adaptadas passaram a ser da responsabilidade das federações competentes de cada modalidade.

SM – Porquê um projeto deste género? Sente que fazia falta algo assim?

DF – Achámos que a criação deste projeto faz todo o sentido e continua, cada vez mais, a fazer sentido, na medida em que vai tornar o andebol acessível a pessoas que antes não conseguiam praticá-lo. Se tivessem alguma deficiência ficavam excluídos da prática do andebol. A criação do Andebol4All permite que essas pessoas possam aceder a uma modalidade que, porventura, poderá ser a de eleição delas e que se viam privados de praticá-la pela condição em que se encontravam.

SM – O que é que acha que ainda há a acrescentar ao projeto e que pode trazer melhorias para a prática dos atletas do desporto adaptado?

DF – Quando falamos em projetos desportivos ou em geral da vida quotidiana, há sempre coisas que podemos melhorar. No caso, do Andebol4All, poderíamos melhorar no âmbito do staff ou da equipa técnica, no sentido de ser efetiva e profissional. Assim, iriam ter mais disponibilidade para realizar uma série de tarefas que agora se tornam mais difíceis de pôr em prática. Uma das coisas que pretendemos melhorar é a sinalização e captação de novos atletas. Outra questão tem a ver com instalações desportivas: a acessibilidade, com adaptação das casas de banho, dos pavilhões. Ter um maior e melhor acesso, por exemplo, às cadeiras de rodas de desporto que são excessivamente caras, o que faz com que seja muito difícil comprá-las. Existem muitos fatores que inviabilizam uma melhoria qualitativa das coisas. Muitas coisas batem quando chegamos às instituições decisoras. Vivemos num país muito burocrático, logo aí está um entrave para as pessoas que querem fazer, construir e acrescentar algo.

SM – Com a ação do Andebol4All sente que há uma maior projeção das competições de cadeiras de rodas? Ou seja, sente que esses atletas são, pelo menos no mundo do andebol, mais vistos e respeitados?

DF – Hoje em dia, o Andebol4All é um projeto de referência no desporto adaptado e não só a nível nacional, mas internacional. O andebol, especialmente, o andebol em cadeira de rodas, é referência da Europa. Portanto, claro que sim, as pessoas são vistas de outra forma. São vistas como atletas de referência numa modalidade que até há meia dúzia de anos não existia. É bom para todos, atletas, técnicos, para o nosso País. Vamos continuar a tentar fazer esse mesmo trabalho para nos mantermos sempre no topo. Não vai ser fácil, assumo, pois, outros países acordaram para a mesma realidade e estão a investir forte para aparecerem com grande qualidade e com potencialidade para vencer títulos e lutar pelas finais, como nós temos feito até agora. Vamos ver em novembro, no primeiro Mundial e Europeu que vamos ter em Portugal, como é que nós e os outros países nos vamos apresentar. Vamos já aferir aqui um caminho que será um caminho futuro no posicionamento de todos os países.

SM – Quais os planos futuros do projeto?

DF – Os planos para o futuro do nosso projeto é sermos cada vez melhores e capazes de captar mais atletas, envolvendo mais pessoas, criando mais conhecimento científico, ao mesmo tempo que queremos estar no topo em todas as competições internacionais, sejam Campeonatos da Europa, Mundiais e tentar estarmos presentes como modalidade paralímpica, a confirmar-se esta previsão para 2028. Este é o objetivo mor de todo o trabalho que temos vindo a fazer ao longo destes anos.

SM – Tendo em conta as características dos seus atletas, há uma metodologia de treino específica?

DF – Enquanto treinador só trabalho com atletas, não consigo ver atletas com deficiência, não consigo. Trabalho com atletas que, naquele momento, jogam uma modalidade numa competição diferente, na qual precisam utilizar uma cadeira para a prática desportiva. A partir deste ponto tudo corre normalmente como um treino de andebol formal, onde a dinâmica é a mesma e a correção dos movimentos e a exigência de trabalho é exatamente igual à de um atleta que pratica andebol formal.

SM – Quais são os maiores desafios de treinar uma equipa de andebol adaptado?

DF – Será sempre nós, técnicos, nós staff, percebermos um pouco das patologias que cada um dos nossos atletas tem para depois adaptarmos com o intuito de fazer o melhor trabalho possível com a funcionalidade daquele atleta e não fazer nada descabido, pedindo algo que o atleta não consiga fazer. Isso é um desafio grande. Outro desafio é perceber do ponto de vista psicológico em que ponto se encontra o atleta, mas isto é uma condição transversal a todo o desporto. Isto é, antes de sermos atletas somos pessoas, e tudo isto deve preocupar-nos enquanto técnicos. Perceber o registo daquela pessoa naquele momento, por fatores que não controlamos, temos de estar atentos e tentar dar a melhor resposta para que se sinta o mais confortável possível com o objetivo de poder ter o máximo rendimento possível em campo.

Foto: Federação de Andebol de Portugal

Danilo Ferreira divulgou há cerca de uma semana os convocados para WEch Weelchair Handball, o Campeonato Mundial e Europeu de ACR. A competição decorre entre os dias 18 e 20 deste mês, em Leiria, nos pavilhões dos Pousos e do Lis. A equipa portuguesa vai contar com 16 atletas – seis atletas da APD Leiria, seis da APD Porto, e ainda mais três atletas dos seguintes clubes: CMRRC – Rovisco Pais,  Clube Naval Setubalense e CPSB Messines/Algarve.

O Campeonato do Mundo conta com nove seleções, distribuídas em dois grupos na Ronda Preliminar. Países Baixos, Roménia e Índia são, exatamente por esta ordem, os adversários de Portugal no grupo B.

 

Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Edição Atual

Artigos que poderá gostar

Ginástica

João Teles, Gonçalo Sampaio, Nuno Santos e Vicente Colaço. São estes os quatro nomes que fizeram de Portugal campeão europeu de ginástica acrobática, este...

Rugby

Portugal fez história, este domingo, ao conquistar a primeira vitória de sempre num Campeonato do Mundo de rugby, batendo as Fiji por 24-23 –...

Rugby

Portugal perdeu, este domingo, diante da Austrália, por 34-14, em jogo do Grupo C do Mundial 2023 de rugby, em Saint-Etienne. Portugal esteve a...

Voleibol

A Seleção Nacional de voleibol venceu, este domingo, o Israel por 3-0 (25-22, 25-21 e 25-12), garantindo assim, por agora, o segundo lugar da...

©2022 - SportMagazine - Revista de Treino Desportivo.
Todos os direitos reservados. Quântica Editora - conteúdos especializados, Lda. Praça da Corujeira, 30 4300-144 Porto, Portugal.
Website desenvolvido por Renato Sousa.