Portugal vai receber entre os dias 7 e 17 de julho o Campeonato da Europa de Sub-20, nas cidades de Gondomar, Matosinhos e Vila Nova de Gaia. À frente da Seleção Nacional está Carlos Martingo. Com a missão de comandar os futuros jogadores da equipa principal, o selecionador da categoria de formação conversou com a SportMagazine sobre o desenvolvimento do andebol português. Treinador-adjunto da equipa do FC Porto, também comentou sobre os planos nos dragões.
SportMagazine (SM) – A Seleção Nacional estará no Grupo A ao lado das congéneres da Noruega, Polónia e Espanha. Como avalia essa configuração?
Carlos Martingo (CM) – Poderia ter sido melhor, poderia ter sido pior. Num Campeonato da Europa deste tipo sabemos que é uma competição de alto nível. Todas as equipas têm muito bom nível. Portanto, será um pouco uma incógnita e depende muito do momento em que as equipas se encontrarem quando começar a competição. Temos boas expectativas. Também temos uma excelente equipa, por isso, vamos ver o que irá dar.
SM – Não se pode prometer nada, correcto?
CM – Prometemos o máximo empenhamento. Prometemos que iremos jogar todos os jogos com objetivo de ganhar e logo iremos ver o que podemos conseguir fazer.
SM – Já é adjunto do sueco Magnus Anderssonm no FC Porto, desde 2018, e já conquistou dois títulos nacionais. Quando pretende assumir uma equipa principal novamente?
CM – Eu quando entrei no FC Porto foi numa altura difícil, não fui logo campeão nacional. Eu entrei a meio de uma época que acabou por não correr também bem e a partir daí, sim. Respondendo mais concretamente a pergunta, eu admiti ser treinador adjunto do Magnus Andersson porque também é uma figura do andebol mundial, quer como jogador quer como treinador. Tem sido uma experiência muito gratificante e que tenho gostado bastante. Não vivo nem tenho ansiedade de me tornar o treinador principal. É evidente que se surgir um projeto no qual eu me identifique e as pessoas se identifiquem comigo mais parte passará por um dos meus objetivos da carreira. Mas como eu disse, não é uma coisa com a qual eu ambiciono ser amanhã. Sim, no futuro. Mas amanhã não.
SM – É mais difícil ser jogador ou treinador?
CM – Sem dúvida é ser treinador. Ser jogador implica muito menos tempo gasto no planeamento e no treino. Ser jogador é basicamente executar. É evidente que a forma profissional de um jogador agora é completamente diferente dos tempos que eu joguei. Penso que o nível de profissionalismo e o tempo perdido entre aspas a pensar em andebol é muito superior ao tempo no qual eu jogava. Sem dúvida é muito mais difícil e muito mais trabalhoso ser treinador.
SM – Tem alguma referência profissional na carreira como treinador?
CM – Nesta fase da minha carreira, julgo que não. Admiro vários treinadores. Admiro os treinadores espanhóis pela maneira como encaram o jogo. Mas o tipo de andebol que me identifico mais é o andebol nórdico pela velocidade e espetacularidade que imprimem ao jogo.
SM – E como avalia o desenvolvimento do andebol em Portugal e o que acha que precisa ser melhorado?
CM – Podemos olhar essa questão de diferentes prismas. Primeiro temos que comentar a base do recrutamento, quer dos clubes quer da Seleção Nacional. Nós não temos uma base tão alargada que nos permita dificultar a vida aos selecionadores. Mesmo a nível de clubes de alto nível, não é fácil encontrar jogadores portugueses com qualidade para o nível que os clubes estão a apresentar. Quanto ao resto, falando numa questão extra desportiva, é uma questão mais difícil de mudar. Temos que mudar a mentalidade, a nossa cultura desportiva e temos que conseguir encher pavilhões e promover a marca do andebol e os jogadores como sendo referências na nossa sociedade. Um pouco como no futebol existe: tentar criar ídolos no andebol e criar uma massa adepta fixa, de forma a permitir que esteja muito mais gente nos nossos pavilhões. Isso poderá ser um factor decisivo na modalidade.
SM – Uma competição como o Euro 2022 estiumula esse desenvolvimento?
CM – Esperamos que essa competição seja mais uma alavanca no andebol em Portugal e que as pessoas tenham a noção que a seguir ao europeu de sénios essa é a competição mais importante a nível de seleções na Europa. É um campeonato fortíssimo, vão estar aqui os melhores jogadores do mundo dos próximos 10 a 15 anos, é uma oportunidade única de vê-los ao vivo e apoiar a nossa Seleção e para que os jovens se apaixonem pela modalidade e possam vir a jogar e aumentar a nossa base de atletas.