No passado dia 16 de julho, a dupla de irmãos Ana e Pedro Walgode, venceram a medalha de ouro nos Jogos Mundiais, na modalidade de patinagem artística. Pela primeira vez em 21 anos, o hino de Portugal foi ouvido nesta competição. Os irmãos Walgode estiveram então à conversa com a SportMagazine e contam tudo acerca desta conquista, e muito mais.
A dupla sente-se realizada, sendo que “foi a prova desta época em que mais nos focámos”, disse Pedro Walgode. No entanto, não foi apenas vencer. Foi vencer ao lado do seu irmão, no caso de Ana, e ao lado da sua irmã, no caso de Pedro.
“A sensação é inesquecível. Por momentos achávamos que não íamos conseguir o primeiro lugar. Nós já fomos vice-campeões do mundo duas vezes e ter conseguido finalmente o primeiro lugar… O coração por momentos parou e depois voltou a acelerar muito, porque vencer os Jogos do Mundo, que é uma competição tão importante, não há palavras para descrever. Ainda para mais ao lado do meu irmão, com quem eu partilho a minha vida quase toda e partilhei muito da minha carreira desportiva. É um feito fantástico”, disse Ana Walgode.
Pedro partilha da mesma opinião, afirmando que “vencer esta competição ao lado da minha irmã ainda a tornou mais especial, porque a minha carreira desportiva sempre foi ao lado dela”.
Contudo, para além de atletas de alta competição, os irmãos Walgode são ainda bastante jovens. Como jovens que são, devem algum tempo aos estudos e afirmam que, apesar de complicado, não é impossível conciliar a patinagem com os estudos e a vida social.
“Os treinos são uma parte fundamental do meu dia, da minha rotina. Posso dizer que quando não treino, ou treino menos, sinto que sou menos produtivo, embora nem sempre seja fácil. Sempre foi duro conciliar a patinagem com os estudos e até uma fase da minha vida com o conservatório de música. Sempre foi possível, mas nunca foi fácil. Tive de fazer muitos esforços. Obriga a uma grande capacidade de concentração, disciplina e de trabalho”, afirmou Pedro Walgode.
Ana, que ainda não terminou o seu mestrado e que, para além de atleta, também é treinadora no Rolar Hóquei Clube de Lourosa, explica de forma concreta a rotina de ambos.
“Estou no quinto ano e falta-me somente a tese. Adiei a tese este semestre por causa desta época. A competição dos Jogos do Mundo foi muito cedo e era impossível conseguir fazer uma tese. Tenho de estar no laboratório o dia todo com os treinos. Portanto, farei a tese no próximo semestre e, aí sim, termino os cinco anos de curso. Em relação à vida de atleta jovem, é bastante complicado, porque é preciso abdicar da vida social, praticamente, ou seja, existe, mas com grande escassez. A nossa rotina de treinos neste momento basicamente é acordar, ir para o pavilhão, treinar de manhã, almoçar no pavilhão, porque vivemos ainda longe. Vivemos em Espinho e treinamos no Porto. De seguida, voltamos a treinar, complementamos com ginásio, ou de manhã antes de ir treinar ou depois do treino, dependendo se ainda temos ou não treino à noite. Também dou treinos, no Rolar Hóquei Clube de Lourosa, duas vezes por semana. E, no meio disto, tentamos sempre ter os nossos prazeres, tempos livres, como ir à praia, estar com a família e amigos”, afirmou Ana Walgode.
Apesar de várias conquistas, não só a medalha de ouro nos Jogos Mundiais, mas também o facto de, como disse a atleta, terem sido vice-campeões do mundo por duas vezes, a patinagem artística continua a ser uma modalidade com pouca visibilidade. No entanto, Ana acha que “este feito que foi a medalha de ouro (…) veio ainda trazer mais visibilidade à nossa modalidade”.
“A patinagem artística, devido ao facto de não ser um desporto nem olímpico nem profissional, ou seja, acaba por se considerar um desporto amador e Portugal não é, por si, um país que dê muita visibilidade a desportos amadores. Portanto, a patinagem tem pouca visibilidade. (…) Eu e o meu irmão, tanto a nível individual como de par, temos tido ao longo da nossa carreira, nós já representamos a Seleção Nacional desde 2012, portanto há 10 anos, sempre medalhas para Portugal. Acho que somos um ponto chave na visibilidade desta modalidade e somos atletas que inspiram muitos atletas mais novos e acho que ao longo dos anos a patinagem tem vindo a ser mais conhecida em Portugal, também devido aos nossos feitos”, acrescentou Ana Walgode
O irmão, Pedro Walgode, vai um pouco mais longe nesta questão da visibilidade e afirma que, mesmo ganhando medalhas, ou ficando em lugares cimeiros, quase nunca são noticiados.
“A patinagem artística, embora seja uma modalidade ainda com alguns atletas, somos cerca de 8.000 federados em Portugal, continua a ser um desporto amador, praticamente 100% amador. Não tem uma grande repercussão depois nos atletas mais velhos, que acabam por ser poucos para o que seria desejável em Portugal. A visibilidade é pouca e mesmo para os atletas internacionais com um grande percurso desportivo, como nós, como outros que precederam, a visibilidade é muito pouca, tanto nos media como depois em relação a patrocínios, a apoios. Já cheguei a ter competições internacionais, como o Mundial, em que fomos vice-campeões do mundo, o ano passado, e praticamente não foi noticiado”. reforçou.
No que aos objetivos futuros diz respeito, ambos, sendo uma dupla, têm os mesmos objetivos e o mesmo foco. Destacam o Campeonato da Europa, disputado em Andorra, entre 31 de agosto e 4 de setembro, e o Campeonato do Mundo, em Buenos Aires, na Argentina, que se irá realizar na última semana de outubro. Encontram-se extremamente “focados para alcançar aquilo que nós tanto trabalhamos e sonhamos”, concluiu Ana Walgode.