Aos 27 anos, Miguel Nascimento vive um momento especial na carreira. Apenas no passado mês de julho conseguiu uma sequência de três resultados que levaram para si os principais holofotes da natação nacional. Primeiro, conquistou a medalha de prata nos Jogos do Mediterrâneo com o novo recorde nacional nos 50m livres: 22,01 (batendo os 22,16 que tinha ele conseguido, a 1 de abril deste ano, em Coimbra). De seguida, venceu o Open de Espanha (22,15 segundos) e fechou o mês a quebrar a barreira dos 22 segundos na mesma prova: 21 segundos e 90 centésimos no Portugal Open 2022.
O head coach da Seleção Nacional, o brasileiro Alberto Silva, treina o Miguel Nascimento desde setembro, no Centro de Alto Rendimento do Jamor. Na avaliação do treinador, credenciado por estar presente em finais nos últimos cinco Jogos Olímpicos à frente da seleção brasileira, a evolução e as marcas recentes alcançadas pelo nadador português não o surpreenderam.
“Não foi surpresa. Trabalhámos para isso. Sentimos que ele estava preparado quando fomos para Oran [Jogos do Mediterrâneo]. Ele já estava preparado para fazer essa marca, esperávamos até que podia acontecer em seguida, no Open de Espanha, mas não foi lá. Viemos certos, então, que ele faria aqui no Jamor. E aconteceu o que aconteceu. São muitos detalhes numa prova de 50m livres. Ele estava pronto até para fazer melhor do que ele fez. Sabemos que ele pode até chegar abaixo disso em algum momento, mas também podia não chegar abaixo. Ele fez 22,20s, 22,05s, 22,01s, sempre muito próximo e às vezes por causa de um detalhe não faz um mínimo para um campeonato importante, não bate um recorde ou não faz história”, afirmou.
Atleta do SL Benfica, Miguel Nascimento nadou no último fim de semana pela primeira vez abaixo da marca de referência para os Jogos Olímpicos de Paris 2024 (21,94). Entretanto, o atleta precisa confirmar novamente o tempo adiante (entre 01 de março de 2023 e 23 de junho de 2024) para garantir a primeira presença da carreira nos Jogos. Alberto Silva destacou o benefício psicológico trazido pela nova marca do nadador do SL Benfica.
“Se vai estar em Paris? Não sei, não tenho bola de cristal, mas espero que sim. É uma aposta de Portugal. Capacidade ele tem. Acabou de fazer o mínimo exigido. Acho que ele pode melhorar essa marca. Agora tem que fazer na hora certa. Ainda entra essa questão psicológica. Agora é dar essa tranquilidade. Uma coisa é saber que tem a capacidade de fazer tal coisa, outra é realizar. Isso dá uma confiança, tira várias dúvidas que tu podias ter na cabeça. A ansiedade é melhor controlada. Isso é importante. Não é uma coisa que nunca fizeste e todos dizem que consegues. É algo que ele já fez e, não há três anos, mas agora, a faltar seis meses para a temporada de mínimos começar a valer. Foi bom e acreditamos que ele vai estar melhor no futuro”, avaliou.
Além de Alberto Silva, trabalham com Miguel Nascimento na Federação Portuguesa de Natação, o preparador físico Igor Silveira, o especialista em Biomecânica Sami Elias e o fisioterapeuta Daniel Moedas.
Nascimento da filha
Miguel Nascimento teria nos próximos dias a oportunidade de melhorar a marca nos Campeonatos da Europa, que irão decorrer em Roma entre os dias 11 e 15 deste mês. Entretanto, a primeira filha do atleta nasceu esta segunda-feira, um dia depois do novo recorde obtido por Miguel. A decisão de participar ou não do Europeu será exclusivamente do nadador.
“A decisão já era de ele não ir por causa da filha, só que a Margarida nasceu, contrariando todas as previsões. Por enquanto, a decisão é de ele não ir. Estávamos preparados para ele não ir porque ela nasceria durante o Europeu, mas como teve essa surpresa e se ele estiver tranquilo e quiser ir, será um prazer, Mas não consigo responder. A decisão é dele e da família”, explicou Alberto Silva.
Evolução técnica
Logo após alcançar a melhor marca da vida nos 50m livres, Miguel Nascimento afirmou que fez uma prova longe da perfeição e que havia falhado em alguns aspetos. Questionado sobre onde o atleta poderia ainda melhorar para evoluir na marca, Alberto Silva, com contrato com Portugal até o ciclo olímpico de Paris 2024, minimizou a ansiedade do atleta.
“Eu acho que ele quis dizer que a prova perfeita não existe. Isso é algo que falamos bastante. Ele estava mais a referir-se talvez ao sonho que ele tem na cabeça, de como ele tem que nadar e o tempo que tem que fazer. Acho que é mais relacionado a isso. Dentro das provas que ele fez foi a melhor prova. É a primeira vez que ele nada abaixo de um índice olímpico, então é bem significativo. Para ele foi praticamente uma prova perfeita. O que ele tem para melhorar são situações: “Ah, eu demorei um pouco no bloco”, ou “consegui pôr força, mas não tive velocidade”, “dei uma braçada a mais ou dei uma pernado no submerso a menos”, “cansei no final…”. Isso aconteceu desde Oran, lá aqueles 22,01 para nós, naquele momento, foi a prova perfeita, mas com muita coisa para melhorar. Mas foi o melhor que ele tinha feito. Em cima daquele padrão”, disse a emendar sobre questões técnicas.
“O atleta pode dizer: nadei muito bem com a frequência de braçada certa, mas a aproximação nos últimos 5 metros não saiu perfeita. Então ok, vamos fazer um trabalho no aquecimento, vamos conversar, vamos chamar a atenção em um determinado ponto, então ele vai acertar o que falámos. E pode errar em outro ponto que tinha acertado. É normal para qualquer nadador de velocidade, é coisa de centésimo. Tem que ser perfeito na saída, a reação da partida, colocar força com velocidade, entrar no ângulo perfeito, alinhar o corpo no submerso, fazer um número de pernada certa, estar na profundidade certa para subir de maneira eficiente deslocando para a frente no breakout, nadar com a frequência mais alta pela adrenalina, não respirar…”, acrescentou o treinador que traz no currículo duas medalhas olímpicas alcançadas no trabalho realizado com o nadador César Cielo, (bronze nos 50m Livres) e Thiago Pereira (prata nos 400m Estilos), ambas conquistadas nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.?