O 13º. Congresso Mundial de Treinadores ICCE (International Council for Coaching Excellence), que se realiza de 17 a 21 de Novembro na Aula Magna da Universidade de Lisboa, com cerca de 800 participantes inscritos, é uma oportunidade única para a troca de experiência e reflexão sobre todas as questões técnicas e científicas relacionadas com os treinadores e o seu impacto social.
Organizado pelo ICEE e pela Confederação de Treinadores de Portugal, com parceria técnica da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa, o evento conta com o apoio institucional da Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa Capital Europeia do Desporto 2021, ACES Portugal e Instituto Português de Desporto e Juventude (IPDJ).
Em declarações à SportMagazine, John Bales, Presidente do ICCE, manifesta-se muito “entusiasmado por estar em Lisboa, Capital Europeia do Desporto de 2021, no que será o primeiro evento presencial do ICCE em mais de 18 meses”.
“Esta circunstância aumenta a emoção de poder compartilhar perspetivas entre treinadores, formadores, investigadores e agentes desportivos, sobre os últimos desenvolvimentos do treino. Ainda assim, a segurança continua sendo a prioridade e os participantes podem participar remotamente nos casos em que as viagens ainda não são aconselhadas. A vida de todos mudou durante a pandemia e os treinadores estiveram e estão na linha da frente para gerir os desafios do dia-a-dia com instalações fechadas, competições canceladas, treinamento restrito de equipas e protocolos de saúde, ajudando atletas em todas as etapas de desenvolvimento a suportar essas disrupções e, ainda assim, permanecerem fortes”, refere John Bales.
“As ferramentas de liderança, adaptabilidade e criatividade dos treinadores foram testadas ao longo desse período como nunca antes, e sob o tema “Criando o Futuro Juntos”, este evento em Lisboa oferece à comunidade dos treinadores a oportunidade de construir algo novo sobre o que aprendemos e olhar para frente para garantir que o treino continue a desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento individual e comunitário. Estão aqui treinadores e investigadores líderes mundiais nesta área que nos ajudarão a entender como melhorar em qualquer papel que desempenhemos no desenvolvimento do desporto – e estamos muito satisfeitos em fazer parceria com a Confederação dos Treinadores de Portugal e a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa para proporcionar essa oportunidade única”, salienta John Bales.
Liderar a mudança
Pedro Sequeira, presidente da Confederação dos Treinadores de Portugal, parceiro nacional do ICCE na organização do evento, admite que este Congresso Mundial possa liderar uma viragem histórica na afirmação dos treinadores: “O objetivo do Congresso é a evolução dos temas à volta do treinador, a formação, a atividade profissional, enfim, aquilo que é a nossa missão. A ideia é que haja avanços do ponto de vista científico, técnico, educativo e político. Esse também é o objetivo do ICCE, ou seja, que de dois em dois anos haja uma evolução da abordagem do treinador nas diversas vertentes”.
“A nossa expectativa é que o Congresso seja um marco histórico para os treinadores e para o reconhecimento destes a nível mundial. Esse é o investimento que nós, a nível nacional, fizemos com o ICCE. Não queremos que seja mais um congresso de percurso, mas sim um marco que lidere uma viragem no sentido de um maior reconhecimento global, não apenas na Europa, onde o processo está bem encaminhado, mas em outros continentes. Não nos podemos esquecer que outros continentes têm características muito próprias e em África e na Ásia há muito mais preocupações com os treinadores. O ICCE tem que ter esta capacidade de congregar a diferenciação continental. Temos esta expectativa e aceitámos realizar o congresso por isso mesmo”, explica o Presidente da Confederação de Treinadores de Portugal.
“Há neste evento três aspectos que devemos salientar: um tem a ver com a garantia da diversidade dos preletores, outro com a qualidade dos preletores, nacionais e estrangeiros. O terceiro aspecto relevante foi adaptar de forma útil este contexto limitativo associado à pandemia. Vamos ter conferências principais e duas salas sempre gravadas. O congresso terá também essa vantagem. Para além das pessoas que vão assistir presencialmente, ou à distância, vai ficar um legado”, acrescenta Pedro Sequeira.
Novos rumos
Jorge Braz, selecionador nacional de Futsal, que há pouco mais de mês e meio conduziu Portugal a Campeão do Mundo da modalidade, participa em duas sessões plenárias, no dia 20. O treinador falou à SportMagazine das potencialidades de reflexão de um evento com esta dimensão: “a avaliar pelo programa vamos ter intervenções bastante interessantes nas várias áreas importantes para o desporto e para os treinadores, do ponto de vista da gestão e da organização, que rumo tem que levar o desenvolvimento desportivo, o desenvolvimento das novas tecnologias e algumas tendências que o treino está a seguir.”
“Sendo um congresso mundial, vão estar reunidas muitas pessoas importantes nas várias áreas do desenvolvimento desportivo. Tenho a certeza de que haverá reflexões e debates muito interessantes que nos ajudem a refletir depois, à escala de cada um, para onde devemos dirigir mais a nossa atenção. No caso do desporto português, para onde temos que olhar, o que é importante fazer. Espero é que, depois, os decisores saibam, pelo menos, pegar nessas reflexões e ajudem a melhorar ainda mais o desporto que tem dado tantas alegrias aos portugueses e valorizado tanto a marca Portugal. Temos é que saber aproveitar mais e melhor essa dádiva”, refere Jorge Braz.
Reagir à adversidade
Sergio Lara-Bercial, antigo treinador e agora docente e investigador na Leeds Beckett University, em Inglaterra, considera “o Congresso uma grande oportunidade para intercambiar conhecimentos e seguir melhorando.”
“Gostaria de dar os parabéns à Confederação de Treinadores de Portugal pelo grande trabalho que fizeram organizando este congresso apesar das circunstâncias extremas que todos atravessámos com a pandemia. Nos últimos anos, o panorama educativo mudou muito por culpa da pandemia. A formação de treinadores teve que se adaptar a passos de gigante e não houve de todo inovação, algumas coisas se perderam. No entanto, muito ficará e impactará a formação de treinadores no futuro. Em Lisboa teremos a oportunidade de ver como cada país e cada desporto se adaptaram a esta realidade”, refere o investigador.
Sergio Lara-Bercial traz ao Congresso de Lisboa vários trabalhos realizados nos últimos anos, como por exemplo a nova declaração oficial sobre a “profissionalização do treino desportivo” ou os resultados dos estudos do ICCE/Leeds Beckett sobre o abandono desportivo.
Barreiras sexistas
Nicola LaVoi, conferencista, docente e investigadora na área das ciências sociais e comportamentais na Escola de Cinesiologia da Universidade de Minnesota, onde dirige o Tucker Center for Research on Girls & Women in Sport, que se dedica à pesquisa sobre a participação de jovens raparigas e mulheres no desporto, vem a Lisboa falar do impacto das questões de género e das barreiras sexista no desporto.
“Nos EUA, o desporto ajudou as mulheres a obter os benefícios da competição e ajudou-as a obter sucesso em todas as áreas da sociedade. Na verdade, 94% das mulheres em lugares executivos (CEO, CFO, CIO) praticaram desporto. Não existe paridade de género ou equidade, mas o desporto tem ajudado aquelas meninas e mulheres que o praticam, a evoluir em todos os aspetos de seu desenvolvimento. Há um complexo sistema de barreiras sociais, organizacionais e interpessoais que impedem e afetam as mulheres no treino desportivo, barreiras que os seus colegas homens não enfrentam. Por exemplo, o sexismo e as questões de género são fatores predominantes que as mulheres treinadoras têm que ultrapassar e os homens não. As mulheres são qualificadas e competentes para treinar, devem ter a oportunidade de fazê-lo”, diz à SportMagazine a conferencista norte-americana que apresenta “Role of the Tucker Centre increasing the number of women coaches and participation rates of girls in sport across college campuses in the US”, numa sessão agendada para a manhã de 17 de novembro, na Aula Magna.
“Espero conhecer em Lisboa colegas maravilhosos de todo o mundo que se preocupam profundamente com a educação e o desenvolvimento do treino. Também espero aprender muito com o que os outros estão a fazer e como isso pode melhorar o meu próprio trabalho. A mudança social só acontece quando trabalhamos juntos”, acrescenta Nicole LaVoi.
Dever ético
António Vasconcelos Raposo, ex-treinador olímpico de natação e autor de inúmeros livros sobre o treino desportivo, classifica a realização do Congresso Mundial de Treinadores em Lisboa como “uma grande conquista e o reconhecimento do trabalho que a Confederação dos Treinadores de Portugal tem realizado junto do ICCE.”
“Os congressos de treinadores trazem sempre grandes contributos e assim será também em Lisboa. O que importa para mudar o paradigma da intervenção é que as pessoas que participam o façam de espírito aberto, que aproveitem a oportunidade, pois dificilmente nos próximos anos voltaremos a receber um evento assim em Portugal. Nós, treinadores portugueses, temos o dever ético de cá estar de espírito aberto, recetivos à informação que vai ser transmitida, filtrá-la na nossa mente e cada um no seu local de trabalho analisar o seu desempenho diário, utilizar o que possa ser útil para a sua atividade. Não acredito em quem vem a um evento desta dimensão e não aprende nada. Aprende-se, temos é que estar abertos a novas ideias, inovação, novas abordagens e reflexões que depois nos estimulam para a pesquisa, para o estudo e, finalmente, para a aplicação prática do conhecimento”, refere Vasconcelos Raposo.
O International Council for Coaching Excellence foi fundado em 24 de setembro de 1997 por representantes de 15 países e está hoje presente em mais de 50 países. Organização sem fins lucrativos tem a missão de liderar e desenvolver o desporto e o treino desportivo a nível global, promovendo uma cultura de excelência, troca de conhecimento e pesquisa na área do desporto.
O 13º Congresso Mundial de Treinadores do ICCE terá 10 sessões plenárias, múltiplos workshops sobre questões atuais de treino e um conjunto variado de sessões temáticas.