José António Silva, selecionador nacional de andebol feminino, esteve presente este sábado no 19.º Congresso Técnico Científico de Andebol, que decorre até o domingo no Pavilhão Multiusos de Gondomar. Sobre o tema “Aspectos Fundamentais da Defesa”, o treinador de 57 anos, com passagens por equipas como Águas Claras e Fafe (ambas masculinas), destacou alguns fundamentos do que entende como essenciais na questão defensiva no andebol.
“Isso [defender] de fato é uma coisa que me preocupa muito. Temos alguns ex-alunos, adversários, atletas presentes, que reconhecerão alguma coerência neste discurso. E porque a insistência nestas questões básicas? Porque não estão resolvidas, sinceramente”, começou por dizer o treinador, que também é professor e Coordenador do Gabinete de Andebol da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP).
Condicionar movimentações, impedir finalização de alguns adversários, obrigar finalização em zonas determinadas, colocar problemas distintos. José Silva listou uma série de atributos importantes no ato defensivo no andebol. Os elementos multifatoriais e princípios básicos, entretanto, que só funcionam se os jogadores forem ativos em todos os momentos do jogo.
“Sou um apaixonado pelas defesas agressivas. Para mim defender não é apenas evitar que o adversário marque. Para mim defender é atacar o ataque. Nós nunca defendemos, atacamos sempre, às vezes temos a bola, às vezes não. É essa a filosofia, nunca ter uma atitude passiva”, afirmou.
O treinador e professor destacou que, na área académica, pesquisadores já comprovaram que eficiência defensiva está diretamente ligada ao sucesso das equipas e das vitórias. “Os jogos ganham-se na defesa é uma frase que todos nós acreditamos com raras exceções. Porque isso de facto é verdadeiro. Acho que se dá pouca atenção à defesa, desde à formação”, observou José António Silva.
O treinador, com mais de três décadas de experiência, levou aos mais de 200 expetadores (entre presentes e online), vários exemplos práticos de defesa “agressiva e participativa”. Sobre a questão técnica e tática individual, o treinador natural do Porto alertou que o jogo é fundamentalmente tático.
“Quando chegamos a um nível de competição elevado, o jogo é absolutamente tático. Temos que levar aos atletas o melhor argumento para que possam superar determinadas situações. Temos que obrigar os atletas a ajustarem os gestos técnicos às questões táticas e às situações de jogo”, disse.
Profissional EHF Master Coach, José António Silva pontuou ainda sobre os meios táticos de grupo, com situações de 2×2 ou 3×3, além das formas de organização. Especialmente sobre a formação defensiva 6-0, o treinador destacou a variabilidade dentro desse mesmo sistema.
“O mesmo 6-0 que muitas vezes nos parece igual, por uma mudança de jogador, de posicionamento, já faz dele diferente. Isso merece uma reflexão de todos nós”, destacou, apontando a necessidade de os treinadores levarem sistemas distintos em função dos jogadores, sistemas flexíveis, que possam surpreender os adversários.
Por fim, José Silva sugeriu aos presentes a leitura de um artigo: “Evolucion del juego en defensa en balonmano: hacia las defensas alternativas como concepto”, escrito pelo professor espanhol Juan de Dios Román Seco. “Assino por baixo em 95% das questões aí apontadas. A mim serve muito como inspiração”, garantiu.
O 19.º Congresso Técnico Científico de Andebol é organizado pela Federação de Andebol de Portugal, com o apoio da Câmara Municipal de Gondomar. O Congresso Técnico Científico de Andebol está homologado pela EHF, para a renovação da EHF Pro License e pelo IPDJ, para efeitos da formação contínua de treinadores com 3 UC.