Uma das mais promissoras nadadoras portuguesas da atualidade, Mafalda Rosa terá a oportunidade, este sábado, de revalidar o título de campeã da Europa juniores conquistado em Paris 2021. A atleta do Clube de Natação de Rio Maior é uma das principais esperanças portuguesas de medalha no European Júnior Open Water Championships, competição que arranca esta sexta-feira – e segue até o domingo, em Setúbal, com 167 nadadores da futura geração de elite da natação em águas abertas do continente.
A nadadora treinada por Nuno Ricardo vive um momento de plena evolução na carreira. Além da conquista do Europeu dos 10 km na última edição, no ano passado, no Parque de Choisy-le-Roy, Mafalda Rosa venceu há poucos dias, como sénior, o Open de Portugal Campeonato Nacionais de Águas Abertas, em Avis, nos 5 km. No último final de semana, ao compor a Seleção de Portugal ao lado de Angélica André, Diogo Cardoso e Tiago Campos, terminou em quarto lugar na estafeta mista da Taça do Mundo, em Setúbal.
Com uma rotina puxada, entre os treinos que chegam a levá-la a nadar 17 quilómetros por dia, além dos estudos e das competições, a atleta de 18 anos mantém o foco para aquilo que a move: seguir entre as melhores do mundo na categoria júnior – inclusive com um novo pódio em Setúbal – e, adiante, chegar aos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.
Em conversa com a SportMagazine, apesar de jovem, Mafalda Rosa demonstrou muita maturidade ao responder temas como a rivalidade com a olímpica Angélica André, a sua rotina intensa de treinos e os seus objetivos, a curto e médio prazo.
SportMagazine – Para uma nadadora de longa distância no alto rendimento, seguramente há de haver uma rotina de treinos intensa e bastante forte. Poderia explicar como são planeados os seus treinos e falar um pouco do seu dia a dia?
Mafalda Rosa (MR) – Eu começo o meu dia às 6h00, nadamos por vezes 5 km, 6 km, mas quando estamos com mais carga, costuma ser 7 km ou 7,5 km. Depois vou para a escola às 8h00/8h30. Dependendo do meu horário, eu faço uma hora no ginásio e nessa hora pode ser um circuito crossfit ou “cardio”, como correr ou andar a bicicleta. Depois vem o almoço, por volta das 13h30, e depois treinamos novamente por volta das 15h00. O volume, talvez, seja entre os 7 km e 9 km, às vezes 10 km. Às 18h30, temos novamente ginásio, aí pode ser ginásio de pesos, abdominais ou fazemos algo na piscina que é vasa [trainer], que faz o movimento da braçada.
Quando estamos mais perto das provas, fazemos mais treinos no Areeiro, que é um lago ao pé da piscina e nadamos por aí mais para virar as boias, fazer os trabalhos mais técnicos de águas abertas.
SM – Porque escolheu competir em águas abertas, há alguma razão em especial?
MR – Desde pequena, por volta dos 10 anos, quando ia de férias para o Algarve, fazíamos algumas provas do Circuito do Algarve em Águas Abertas apenas por diversão. Entretanto, em 2017, fui experimentar o nacional de águas abertas e acabei por me sagrar campeã nacional e desde aí foi a subir na minha carreira. Acabei neste ano a ir ao Open da Espanha e ao Europeu e se consegui chegar ao Europeu porque não continuar?
SM – E o que acha ser mais difícil nesta modalidade?
MR – Provavelmente, arranjar uma estratégia porque durante a prova muita coisa pode mudar. Pode mudar ondulação, vento, corrente e depois tem a ver com os próprios adversários. Muitas das vezes precisamos de mudar a estratégia durante a prova e é preciso tomar decisões importantes super-rápido.
SM – Foi há poucos dias vitoriosa na prova de 5 km do Open de Portugal de Águas Abertas, em Avis, à frente da olímpica Diana Durães. Este fim de semana disputou a Taça do Mundo em Setúbal e terminou em quarto lugar na estafeta mista. Como avalia esses resultados e o teu momento na carreira?
MR – Eu não descansei muito para essa prova porque duas semanas depois, agora já tenho o Europeu. Foi mais como um teste para ver como estava a minha performance, mas claro que eu dei o meu máximo e por pouco não ganhei à minha rival [referindo-se à prova dos 7,5 km, onde ficou atrás de Angélica André]. Setúbal eu apenas nadei a estafeta, também foi um bom teste, fiz uma boa prova, um bom posicionamento, os ritmos também estavam bastante bons. Portanto, era mais para ver outra vez como estava a minha performance para o Europeu [júnior].
SM – Vai voltar a disputar o Europeu Júnior, competição que na última edição no Parque de Choisy-le-Roy (Paris) foi campeã dos 10 km. O objetivo é manter o lugar mais alto do pódio?
MR – Neste Europeu tem muita gente a perguntar-me esta pergunta, qual o meu objetivo. É claro que o meu objetivo é ganhar, vai ser uma prova bastante difícil, tem adversários bastante fortes. É preciso ter bastante cuidado porque são águas abertas, qualquer pessoa pode ganhar, é bastante imprevisível. Mas vou dar o meu melhor e quem estiver melhor é quem ganha neste dia. Portanto, claro que toda a gente quer ganhar assim como eu.
SM – Em Portugal, há uma atleta referência nas águas abertas, a Angélica André, que esteve em Tóquio 2020. Atualmente, vocês são “rivais” nas provas. Como é a sua relação com a Angélica e como é tê-la como adversária?
MR – Por acaso nos damos bastante bem, apesar de sermos as populares rivais nas águas abertas aqui em Portugal. Não há muito a dizer, nos damos super bem. Ela por acaso é muito simpática. Não falamos muito porque também não sou muito o tipo de pessoa de falar, mas apoiamos uma à outra e essa rivalidade é bastante saudável porque acabamos por puxar uma à outra. Queremos ambas a ganhar, por isso vamos acabar sempre a fazer melhor do que se tivéssemos sozinha sem rivalidade.
SM – Quais os seus principais objetivos a curto e a longo prazo?
MR – Agora, neste Europeu, eu quero ser campeã outra vez e, no final do mês, tem o Mundial de seniores, na Hungria, e quero fazer top-15, já seria bastante bom como vou estar a nadar com as mais velhas. A longo prazo, quero fazer pódio no Mundial de júnior em setembro e, claro, como todo sonho de todas as atletas quero ir aos Jogos 2024, em Paris. Não fui o ano passado, se calhar não estava bem preparada, mas em 2024 claro que quero lá estar.