O ano de 2022 terminou com uma medalha de prata nos Jogos do Mediterrâneo, mais uma final nos Campeonatos da Europa e a manutenção da hegemonia nacional nos 200m mariposa, com um novo título em dezembro passado. Realizações que, no geral, apesar de celebradas por Ana Catarina Monteiro, também foram alvo de alguma “decepção” por parte da nadadora. A sentir que vive um momento físico e técnico dos mais fortes da carreira, a atleta de 29 anos acreditava que poderia superar as suas melhores marcas. Frustração que, agora, se tornou combustível para 2023.
A integrar a Seleção Nacional que realiza um estágio de altitude, em Font Romeo (França), Catarina Monteiro tem como objetivo número um alcançar os mínimos para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Para isso, a atleta do Clube Fluvial Vilacondense quer seguir em busca de uma superação que é, sobretudo, pessoal.
“Sem dúvida, o meu maior objetivo passa mesmo pela qualificação olímpica. Eu não quero pôr pressão a outros níveis, portanto o mínimo para o Campeonato do Mundo se eu conseguir alcançar, ótimo. Nos Jogos do Mediterrâneo, fiquei a seis ou sete centésimos, se não me engano. Vou trabalhar para tentar o mínimo desde os primeiros momentos que eu possa fazer, mas não quero pôr qualquer tipo de pressão neste sentido”, afirmou Catarina Monteiro, em entrevista à SportMagazine.
A nadadora treinada por Fábio Pereira, apesar de em plena atividade, já possui há algum tempo um patamar histórico de peso no desporto nacional. É, por exemplo, a detentora do melhor resultado olímpico de sempre da natação feminina portuguesa, ao chegar à meia-final e terminar no 11.º lugar nos 200 metros mariposa em Tóquio 2020.
Além disso, no Campeonato da Europa, em Glasgow 2018, terminou com um então inédito 5º lugar feminino na sua prova mais forte, os 200m mariposa – chegando, na passagem aos 150 metros a seguir na segunda posição. Até hoje, trata-se da melhor posição de sempre da natação feminina nacional (ao lado de Camila Rebelo e Tamila Holub). Na altura, recorde-se, fixou um novo recorde nacional: 2.08,03 minutos, que em 6 de agosto deste ano completará cinco anos. Tempo que, acredita, pode ainda superar.
“O que eu faço nos treinos hoje é melhor do que eu fazia nos treinos há cinco anos. Portanto, eu acredito que, sim, sou capaz de melhorar a minha marca. É o meu objetivo, sem dúvida. Fisicamente, sinto-me muito bem. Tive fases mais complicadas durante o período Covid-19 fisicamente, mas neste momento sinto-me bem. Sinto que tenho que trabalhar mais a parte psicológica. E tenho vindo a trabalhar mais esta parte. Mas sinto que é um objetivo que dá para alcançar, senão também se calhar já não estaria aqui. O que me motiva é tentar ser melhor. E acredito que ainda tenho condições para fazer. Portanto, sim, acredito que é alcançável”, garantiu.
A medalha de prata nos Jogos do Mediterrâneo, em Oran 2022, foi uma prova de que a nadadora de Vila do Conde está no caminho certo. Com um tempo de 2.09,32 minutos nos 200m mariposa, o melhor desde 2019, Catarina Monteiro voltou a se aproximar dos mínimos exigidos pelo Comité Olímpico Internacional para Paris 2024 – sendo os mínimos A fixados em 2.08,43 (e os mínimos B em 2.09,07).
“Os Jogos do Mediterrâneo foram sem dúvida um momento muito importante para mim, voltei a me aproximar das minhas melhores marcas, e por isso foi um momento importante. Era como eu tinha dito, foi uma montanha russa de emoções: foi voltar a acreditar que podia fazer. E confesso que depois o Campeonato da Europa foi uma grande decepção”, recordou.
A nadadora fez na final a marca de 2.10,97, a sétima melhor da Europa. O tempo, com desempenho inferior ao que fez pouco um mês antes nos Jogos do Mediterrâneo, ainda a deixam insatisfeita.
“Quando cheguei ao Campeonato da Europa, nos treinos, sentia-me na minha melhor forma de sempre. Fui criando algumas expectativas e as coisas não saíram mesmo ao nível de marcas, nem nos 100m nem nos 200m [ambos mariposa]. Estive mesmo muito longe daquilo que eu estava a espera. Depois dos resultados, com uma marca em cima do meu melhor, estaria a lutar pelo pódio. Eu acreditava mesmo que podia estar a nadar no meu melhor. É neste sentido que eu digo, não falo propriamente em lugares, porque o objetivo claramente a nível de lugar para o Europeu era estar na final por todo o resto do cenário que não podemos controlar. Mas a nível de marcas, esperava mais, sem dúvida. Esperava claramente estar abaixo do que havia feito nos Jogos do Mediterrâneo”, admitiu.
“Foi um momento difícil de ultrapassar. Não lhe posso dizer que o balanço do ano passado tenha sido um balanço positivo. Apesar dessas conquistas [final de Europeu, prata em Oran 2022…] fiquei aquém daquilo para o qual me propus. Gostava de tentar dar a volta a isso. Mas o desporto é assim, nós temos momentos altos e momentos baixos, e sem dúvida que o ano passado não foi um momento alto, apesar de ter sido de certa forma gratificante, por ter conseguido estar entre as melhores na final do Campeonato da Europa. Não se pode desvalorizar também a medalha nos Jogos do Mediterrâneo. Ou melhor, eu não posso desvalorizar. Mas, mesmo assim, fiquei aquém daquilo que eu sinto que tinha trabalhado. Mas vem um momento importante de apuramento para os Jogos, e vai começar tudo de novo, passo a passo, e tentar aproveitar a época passada como uma aprendizagem para melhorar neste próximo período”, concluiu a atleta olímpica.
Catarina Monteiro segue até o dia 3 de fevereiro no estágio de altitude, em Font Romeo. Ela está acompanhada, entre outros, pelo treinador Fábio Pereira, e pelos seguintes nadadores: Camila Rebelo (ALN); Diana Durães (SLB); Mariana Cunha (CNCE); Tamila Holub (SCB); Gabriel Lopes (ALN). Dois nadadores compõem a equipa de natação adaptada: Diogo Cancela (ALN) e Tomás Cordeiro (CNCE).