A conferência que dá o mote inicial é realizada por parte de Solange Guerra Bueno, ex-conselheira federal de educação física (Brasil) e por Alexandre Mestre, advogado e docente universitário (Portugal). Após a primeira apresentação, segue-se a discussão. Foi realizada uma mesa redonda que contou com a presença dos sujeitos já referidos, juntando-se ainda Fábio Figueiras – presidente da Comissão Executiva do Ética Summit 2022 -, António Manuel da Luz – secretário geral do Comité Paralímpico Angolano (Angola) -, e Joel Libombo – ex-ministro do desporto de Moçambique.
Solange Bueno inicia a sua apresentação afirmando que o nosso lado inconsciente do cérebro deriva de “toda a nossa bagagem de vida”.
“Por mais que as pessoas digam que não são racistas nem têm preconceitos, temos de ver o que há neste lugar [o inconsciente] para ver se não temos nenhum estereótipo ou crença guardada”, disse.
A ex-conselheira federal de educação física aborda temas como o racismo e o sexismo, afirmando que em ambos os temas ainda há “muito a galgar”. Sob a forma de exemplo apresenta a questão de que ver uma mulher num lugar de chefia, maior parte das pessoas vêm isso como algo novo e não normal. Daí o facto de ainda haver imenso caminho a percorrer.
A nível de competições e organizações, foi festejado, segundo Solange Bueno, a cada vez maior participação de mulheres nos Jogos Olímpicos, o facto de as mulheres poderem jogar futebol, entre outros exemplos, ligados ao sexismo, ao racismo e outros problemas da nossa sociedade.
Alexandre Mestre começa por dizer que ninguém deve ser descriminados, tendo em conta os direitos fundamentais, entre os quais está o desporto.
“Nós não devíamos estar aqui hoje a discutir estereótipos e inclusão quando o desporto e mesmo um fator de inclusão”, realçou.
Para além das questões abordadas por Solange Bueno, Alexandre Mestre abordou também a religião, dando o exemplo de não se permitir, em certos casos, o uso de burca por parte de mulheres muçulmanas. O advogado diz que tudo isto são questões de direitos humanos, não encontrando justificações para insultos ou descriminações racistas, xenófobos, etc.
Joel Libombo iniciou a mesa redonda descrevendo o povo moçambicano e o seu país. Dá o exemplo concreto do passado, com a descriminação, mesmo no mundo do desporto, em que o povo era mal tratado.
Com o aparecimento de talento como Mário Wilson e o Matateu, Portugal foi ajudando noutra forma de tratamento do atleta moçambicano. Destaca ainda a pouca formação de professores de educação física em Moçambique – que começou a melhorar a partir do ano da independência (1975).
António da Luz partilhou um pouco daquilo que é o sistema de inclusão de Angola, nomeadamente no panorama desportivo, à semelhança do que foi feito por Joel Libombo. Para além disto, abordou uma questão ainda pouco ou nada abordada a posteriori: o desporto adaptado, que só começou a existir em África, em 1999, nas modalidades de natação e atletismo.
“As pessoas com deficiência são tão capazes como as pessoas que não a têm. Só mudando a consciência das pessoas vamos ter uma inclusão mais forte”, afirmou.
Solange Bueno abordou ainda o desporto escolar e também p paralímpico no Brasil, afirmando que a escola foi fundamental para o desporto paralímpico e que “o Comité Paralímpico começou na escola e na inclusão das crianças (…)”. O professor António da Luz dá ainda o exemplo de que em Angola os alunos com deficiência eram, em tempos dispensados de educação física.
De forma a incluir estes atletas de desporto adaptado, foi perguntado ao painel em relação aos investimentos públicos para o desporto adaptado. Solange Bueno afirma que há uma percentagem dividida entre o Comité Olímpico e o Comité Paralímpico.
“Seria utopia pensar que vamos atingir igualdade absoluta entre pessoas. Portanto julgo que e correto estabelecermos estas duas correntes que é a inclusão e a igualdade como algo que tem de ser perseguido dentro daquele principio próprio de desporto que faz parte de todos nós. Estou mais próximo da equidade do que propriamente da igualdade”, comentou Joel Libombo, ex-ministro do Desporto de Moçambique.
Racismo no desporto lusófono
Para concluir este debate, foi feita uma questão por parte de um espectador, cuja pergunta se baseia de existe racismo no desporto lusófono, tendo como exemplo o futebol português.
Solange Bueno afirma que sim, o racismo existe, nomeadamente nas bancadas. No entanto, afirma que a tecnologia tem que andar lado a lado com estes casos para identificar o verdadeiro infrator, pois quem acaba por ‘pagar’ é o clubes e os envolvidos no mesmo. A resposta de Joel Libombo também acaba por responder que sim, destacando ainda todos os preconceitos em redor de qualquer tipo de descriminação.
António da Luz afirma que se sentem estes preconceitos e diz ser difícil combater essa descriminação, mas que o trabalho vai sendo feito.
Ética Summit conclui com mais dois workshops ligados ao mesmo tema antes da sessão de encerramento. O primeiro, com o título ‘Racismo e xenofobia – desporto unificador e divisor’, conta com Jorge Carvalho – membro da CE do Ética Summit 2022 – Luís Estrela – coordenador da Fundação do Futebol (Liga Portugal) -, Neilton Ferreira Jr. – Direção de Relações Etnico-Raciais do CBCE, autor da 1ª tese sobre Racismo e Desporto, Escola de Educação Física da USP (Brasil) -, Patrícia Dias – jurista e professora assistente convidada na Universidade Autónoma de Lisboa -, e
Cipriano Có – professor e treinador de andebol N-3 FPA, coordenador de educação física e personal trainer.
O segundo e último workshop do evento, sob o título ‘Igualdade de género – ação para a inclusão e combate à discriminação’, conta com a presença de Renan Turini – membro da Comissão Executiva do Ética Summit 2022 -, Bárbara Lobo – jurista, professora, investigadora e escritora -, Leila Marques – Comité Paralímpico Portugal -, Mônica Espiridião – especialista em gestão e marketing desportivo – e Sara Queen Djassi – mestre em gestão desportiva e jogadora internacional de basquetebol pela Guiné Bissau.