Poucos dias após se sagrarem os primeiros portugueses a conquistar o título de campeões do mundo universitários em voleibol de praia, João Pedrosa e Hugo Campos ainda tentam dimensionar o tamanho do alcance e representação que a medalha de ouro alcançada em Maceió, no Brasil, trouxe para a dupla. Na final, ocorrida a 10 de setembro, os lusos venceram na final os suíços Immanuel Zürcher e Jonathan Jordan por 2-1 (21-17, 16-21 e 15-13).
João Pedrosa, 22 anos, e Hugo Campos, 21, estão juntos desde 2016 – mas apenas a partir de 2019 começaram a dedicar-se exclusivamente à praia. São os atuais campeões nacionais. Tempo suficiente para fazer da equipa treinada por Leonel Gomes, em plena evolução, alcançar o melhor resultado de sempre de portugueses na competição internacional universitária, depois do quinto lugar de Rosa Couto e Marta Hurst, em 2014, no Porto. Um momento que, lentamente, vai se fazendo mais concreto para os jovens talentos.
“Acho que, aos poucos, vamos nos apercebemos da dimensão do que conseguimos conquistar. No início acreditávamos que era possível, mas nunca imaginamos que o conseguíssemos fazer. Aos poucos a ficha vai caindo e vamos nos apercebendo que foi mesmo um torneio especial e estamos mesmo muito contentes com isso”, afirmou Hugo Campos, em declaração à SportMagazine.
É público que os principais atletas do voleibol de praia português da atualidade têm uma inspiração não muito difícil de se fazer entender. João e Hugo querem seguir o caminho de Miguel Maia e João Brenha, dois dos melhores voleibolistas de praia portugueses de sempre – com uma brilhante participação, nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996, nos Estados Unidos, quando alcançaram o 4.º lugar.
“O Miguel e o João são sempre inspiração para todos os praticantes do voleibol de praia. E não só, de todas as modalidades, mesmo quem não pratiquem nada, eles pode ser uma inspiração. Espero que um dia possamos chegar aos calcanhares deles. Acho que estamos a caminhar para lá, sabemos que vai ser tudo muito difícil. O resultado que eles tiveram nos Jogos Olímpicos são resultados dos sonhos e realmente era um sonho chegar lá. Primeiro, seria um sonho estar nos Jogos e depois ter o resultado que eles tiveram seria um bónus. É o que sempre digo: trabalhamos para estar lá, pode ser em Paris 2024 ou nos próximos, mas o que nos interessa é estar lá e depois o que acontece é sempre bónus. vamos trabalhando para que isso aconteça. Sabemos que estamos fazendo um bom trabalho e os resultados mostram isso”, destacou João Pedrosa.
O caminho para isso é bastante árduo e planeado. Afinal, os dois, como atletas universitários, ainda estudam. João Nuno Pedrosa está a tirar o mestrado em Informação Empresarial no Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto do Instituto Politécnico do Porto, enquanto Hugo Campos a licenciatura em Engenharia Química na Universidade do Porto.
“Treinamos todos os dias, às vezes duas vezes por dia na maior parte dos dias. Temos ido às competições em nome da Federação Portuguesa de Voleibol e são eles que nos apoiam e nos levam a todo sítio. Acho que como disse, isso não é do dia para a noite. Essa foi a nossa primeira medalha de ouro a nível internacional e estamos aqui desde 2019, ou seja, é preciso muito trabalho, são muitas derrotas, mas nós acreditamos sempre que o trabalho que fazemos diariamente nos pode levar a algum lado e acho que com essa vitória tivemos essa certeza e continuamos sempre acreditar e a querer sempre o melhor e com a mesma paixão”, destacou Hugo Campos.
Diferentemente do voleibol indoor, o de praia possui o Centro de Alto Rendimento de Voleibol de Praia (CARVP), situado em Cortegaça. O espaço, moderno, está já a ser utilizado como base logística dos treinos de observação inseridos no processo de captação e detecção de talentos na modalidade, além de funcionar na organização de provas nacionais e internacionais para alargar a sua influência e a abrir as suas portas à comunidade em geral.
Na visão de João Pedrosa, que joga vôlei de praia desde muito cedo – como diz o parceiro Hugo Campos “nasceu com uma bola de praia na mão” -, a ferramenta física é um bom indicativo para o desenvolvimento da modalidade, mas ele ressalta: o voleibol de praia ainda tem muito a crescer.
“Penso que o nosso voleibol em termos de voleibol de pavilhão tem muito por evoluir, mas está sem dúvida acima do nosso voleibol de praia, apesar do voleibol de praia apresentar um Centro de Alto Rendimento. Penso que é muito bom realmente, mas isso não é tudo. Queremos é que o número de praticantes se iguale ou até supere os praticamente de voleibol indoor e isso não acontece nem lá perto. Os que praticam indoor são os que praticam o voleibol de praia. O voleibol de praia é visto como um desporto amador e realmente é um desporto amador aqui em Portugal”, lamentou.
“Também não existe ninguém para além de nós que o faça dedicado 100% e, portanto, não poderia ser de outra forma. O caminho é que o projeto evolua e que de alguma forma os mais novos vejam inspiração no que estamos a fazer para tentar e se dedicar à modalidade. Se perceberem que com o trabalho conseguem chegar lá, acho que podemos ter muito sucesso porque o nosso país é muito talentoso e temos muitos talentos por aí. E não é por sermos poucos em relação a outros país que temos mais ou menos talento”, concluiu Pedrosa.
Recorde-se que no mesmo Mundial, no Brasil, Portugal ainda teve a dupla Guilherme Maia e Filipe Leite a terminar a competição no 13.º lugar, enquanto Inês Vasco e Matilde Mouta ficaram no 23.º posto e a dupla Beatriz Pinheiro/Inês Castro foi 25.º classificada.