Terceira representante de Portugal a ir aos Jogos Olímpicos a competir na natação em águas abertas, Vânia Neves é uma das mais vitoriosas nadadoras de sempre do país na modalidade. Presente no Rio 2016, a antiga nadadora conversou com a SportMagazine sobre o desenvolvimento das modalidade que ajudou a fazer crescer no país. A atual treinadora do Viana Natação Clube destacou a força de Angélica André, a chegada de Mafalda Rosa e o trabalho que faz o Daniel Viegas, diretor técnico nacional para as águas abertas.
Antiga companheira de Angélica André na Seleção Nacional e no Clube Fluvial Portuense, onde também começou a carreira de treinadora há quatro anos, Vânia Neves destacou o crescimento de oportunidades para fazer mais competições fora de Portugal.
“Tem havido uma aposta muito maior nas águas abertas. Há uns anos atrás fazíamos provas internacionais, mas eu acho que não era num número bom. Nas águas é preciso muito, muito calo para algumas coisas. É preciso experiência e isso só se ganha na competição. Por mais treinos que tenhamos não dá para conseguir alcançar algumas coisas da competição”, afirmou.
“Sempre tivemos bastantes estágios e treinos de preparação, mas as provas não eram muitas. Acho que eles agora mudaram um bocadinho a mentalidade e estão a apostar muito mais na competição, que é onde efetivamente ganhamos experiência”, acrescentou a ex-nadadora que é mestre em treino de Alto Rendimento Desportivo pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Sobre as duas principais nadadoras do país, Angélica André, medalha de bronze nos últimos Campeonatos da Europa, e Mafalda Rosa, campeã europeia júnior (2021) e bronze na mesma competição no ano passado, Vânia Neves destacou que ambas estão a representar bem o país e apontou para a necessidade de Portugal formar mais nadadores para a modalidade.
“Acho que as duas estão a fazer um trabalho a nível de treino completamente distinto, a metodologia de treino é muito diferente, mas o fim está a ser igual para as duas, o que é ótimo. E começar a aparecer miúdas mais novas, nomeadamente a Malfalda com bons resultados. É bom também para motivas os nosso s miúdos porque temos costa no país inteiro. Nós devíamos ter muitos mais nadadores filiados nas águas abertas”, disse.
Especificamente perguntada sobre as possibilidade de Angélica André chegar a um inédito pódio olímpico ou mundial, Vânia destacou a força da sua sucessora em Jogos Olímpicos – Angélica esteve em Tóquio 2020 -, mas fez algumas ponderações.
“Pódio não é impossível, mas é uma realidade ainda um bocadinho difícil para nós. Mas um top-10, eu penso que é completamente alcançável para ela. Está neste momento num nível incrível”, afirmou a complementar sobre o trabalho de Daniel Viegas na Federação Portuguesa de Natação. “Está a fazer um trabalho brutal, estes passos que têm sido dados por ele têm sido brutais mesmo”, acrescentou.
A natação em águas abertas é uma modalidade olímpica desde Pequim 2008 e tem ganho cada vez mais espaço em Portugal nos últimos anos. Desde a época 2016/2017, a Federação Portuguesa de Natação (FPN) criou um gabinete específico para tratar da disciplina. O país sempre teve uma representante lusa na competição. As primeiras foram Daniela Inácio (2008) e Arsenyi Lavrentyev, que também esteve em Londres 2012.
Por fim, como treinadora na sua cidade, em Viana do Castelo, Vânia Neves falou também sobre o trabalho que tem desenvolvimento no Viana Natação Clube.
“O trabalho não tem sido muito fácil por falta de condições de trabalho. Não é bem falta de apoios, nisso a Câmara Municipal e mesmo o clube tentam ajudar em tudo o que podem, mas efetivamente nós a nível de infraestrutura cá em Viana as piscinas são muito fracas. Mas tem passado muito por mudar a mentalidade. Estamos numa cidade pequena, não temos uma universidade cá e temos mesmo que trabalhar como clube de formação e formatar os miúdos para que o pico de carreira deles seja noutros clubes. Tentar que eles percebam que sair de Viana não significa que acabou na natação. Não. Temos que tentar mudar mentalidades”, detalhou.