Entre as seis conferências plenárias realizadas no o 9º Congresso Treinadores de Língua Portuguesa, realizado este fim de semana em Leiria, uma tratou-se de uma absoluta novidade: a “1ª Conferência Plenária: TreinadorAs precisam-se!”, composta apenas por mulheres. A mesa discutiu, obviamente, a necessidade de formação de mais mulheres nos cargos de liderança das equipas.
Moderada por Cristina Almeida, diretora do Departamento de Estudos e Projetos do Comité Olímpico de Portugal, a sessão teve as participações de Fátima Monge da Silva, histórica treinadora de andebol, Maria Carlos Marques, treinadora de voleibol e paralelamente atleta do V. Guimarães, e Susana Cova, treinadora de futebol do Sporting.
“Se olharmos para essa nossa plateia aqui, julgo que é um pouco da nossa realidade desportiva. Não podemos deixar de reconhecer que nos últimos 20 anos houve um progresso em termos da presença das mulheres no desporto, mas as medidas desenvolvidas ainda estão muito focadas na presença da mulher enquanto praticante e esta área do treino desportivo, ou da área da liderança, merece também atenção e que possamos melhorar a participação das mulheres”, começou por dizer Cristina Almeida.
“Em 2024, acontecerão os primeiros Jogos Olímpicos [em Paris] em que teremos paridade de atletas homens e mulheres depois de 128 anos. Aqui em Portugal, temos apenas 14% mulheres dirigentes e 15% de mulheres treinadoras. São números que nos devem trazer uma reflexão. No grau 1 de treinadores, temos 18% de mulheres; no alto rendimento, no grau 4, são apenas 2% de mulheres. Então, há qualquer coisa que precisamos melhorar”, acrescentou a diretora do COP.
As três preletoras convidadas apresentaram o percurso no desporto, a qualificação para se tornar treinadoras e os obstáculos atravessados. “Na década de 1970, a minha equipa comprou um equipamento preto para jogar e a reitora [do Liceu Maria Amália] queixou-se: “Preto? É demasiado sensual, não pode”, mas já não tínhamos dinheiro para comprar outro equipamento e acabamos por jogar. Que bom que hoje as coisas estão bem diferentes”, contou Fátima Monge, selecionadora nacional da Federação Portuguesa de Andebol entre 1978 e 1989.
“Temos sempre que trabalhar um bocadinho mais. O meu conselho é: estudem, trabalhem, para não ter a competência posta em causa. Hoje em dia, continuamos a ter alguns obstáculos que há alguns anos tínhamos. O salário é algo que se debate constantemente muito pela seleção de futebol feminino norte-americana. Aqui, o voleibol masculino ainda tem prioridade em relação à equipa feminina”, destacou Maria Marques. “Acho que é necessário haver mais diretoras, devem abrir mais às portas às mulheres, confiar nas nossas competências”, acrescentou.
Susana Cova, treinadora do Sporting, diante de uma plateia de maioria masculina e composta por dirigentes de entidades públicas e privadas nacionais, deu uma série de sugestões para que a realidade atual em termos de representatividade feminina no desporto seja alterada.
“É importante investir na formação académica. É importante que as treinadoras também se mantenham atualizadas. E temos que aprender o momento exato para propor algo. Temos que perceber o momento que as coisas têm que ser propostas, há momentos ideais para o fazer. Outra coisa para as mulheres que é importante é ter o gosto de contribuir para a evolução da modalidade, mas também a nível de Portugal e internacional”, afirmou, entre outros muitos conselhos.