Dois dos principais nadadores da atualidade em Portugal estão sob a sua orientação. Treinador de 44 anos, desde a temporada 2007/2008 na equipa do Louzan Natação, Vítor Ferreira viveu a época mais frutífera da carreira. Afinal, ao lado de Gonçalo Neves, treina diariamente Gabriel Lopes e Camila Rebelo, dupla de Coimbra que regressou dos Campeonatos da Europa de Roma 2022 com recordes pessoais e nacionais, finais e uma histórica medalha de bronze trazida pelo nadador de 25 anos. No horizonte, agora, estão os planos para o principal sonho: os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Vítor Ferreira acompanha Gabriel Lopes desde 11 anos de idade, quando o atleta ainda dava os primeiros passos, na altura como cadete. Passada mais de uma década de trabalho, a dupla alcançou a principal conquista de suas vidas com o recente pódio continental nos 200m estilos. Gabriel chegou a estar à frente aos 150 metros, mas no percurso final, de livres, perdeu duas posições. Ainda assim, terminou a prova com o recorde pessoal (1.58,34) – a 15 centésimos do recorde nacional de Alexis Santos (1.58,19) -, atrás do húngaro Hulbert Kos (1.57,72), vencedor da prova, e do italiano Alberto Razzetti (1.57,82), medalha de prata.
“Todas as épocas têm sido de bons resultados. Claro que pelo simbolismo da medalha, e por se ficar na história da modalidade, esta foi, sem dúvida, a melhor época da carreira, o que se torna ainda melhor porque foi a época mais complicada de gerir em termos emocionais. O facto de ter terminado um ciclo Olímpico de cinco anos e de se ter falhado com o objetivo da meia final em Tóquio (embora tenha feito recorde pessoal na prova), o início foi mais atribulado”, detalha Vítor Ferreira.
Recorde-se que na estreia numa edição dos Jogos Olímpicos, em Tóquio 2020, disputado em julho do ano passado, Gabriel Lopes partiu muito bem na sua especialidade, os 200m estilos e, a 50m do final, ocupava a primeira posição – tal qual aconteceu em Roma 2022. Apesar de ter sido alcançado pelos adversários, terminou no sétimo lugar da quarta série de apuramento e na honrosa 21.ª posição da geral com 1.58,56, tempo que lhe rendeu na altura uma nova marca pessoal.
Mais experiente e com melhores marcas, Vítor Ferreira espera que Gabriel Lopes chegue mais forte a Paris 2024. “O Gabriel, se conseguir o mínimo para Paris, vai-se apresentar com 27 anos de idade, o que na nossa visão é a idade perfeita, quer a nível psicológico, maturação muscular ou base de treino, para alcançar os seus melhores registos. Achamos que se for consistente a nadar a 1.57 pode lutar por uma final. Mas isso depende de muita coisa. Por exemplo, 1.58,5, em todos os Jogos, deu final e em Tóquio nem meia final deu”, disse.

Vítor Ferreira ao lado de Gabriel Lopes após a conquista em Roma. Foto: Gabriel Lopes/Facebook
Camila Rebelo
Nadadora com inúmeras conquistas e marcas recentes superadas, assim como Gabriel Lopes, Camila Rebelo também fez a melhor época da vida. Aos 19 anos, a atleta do Louzan estreou-se no Campeonato da Europa com dois recordes nacionais nos 100m costas e uma histórica final nos 200m a terminar a prova com o 5.º lugar – classificação que iguala as melhores prestações de sempre femininas de Portugal em Europeus (Catarina Monteiro, em Glasgow 2018, nos 200m mariposa; e Tamila Holub, também este ano em Roma, nos 1.500m livres).
A atleta treinada por Vítor Ferreira e Gonçalo Neves terminou os 200m costas com a sua segunda melhor marca de sempre (2.11,03) – abaixo do tempo realizado na meia-final (2.11,05 minutos) e nas eliminatórias (2.12,10 minutos). A melhor marca de sempre de Camila foi fixada recentemente nos Jogos do Mediterrâneo (2,10.41) – na ocasião, em junho passado, recorde-se, conquistou duas medalhas de ouro e bateu três recordes nacionais.
“Sem qualquer dúvida, foi a melhor época da carreira dela. A Camila passou a ser recordista dos 100m e 200 metros em longa e 200m metros em curta. Fez mínimos para a prova principal da época (os Europeus). Foi duas vezes Ouro nos Jogos do Mediterrâneo, 6.ª no ranking europeu, além do 5.º lugar nos Europeus. Nem nos nossos melhores sonhos isto acontecia”, admitiu Vítor Ferreira.
Com espaço para evolução, Camila Rebelo ainda sonha com a primeira participação em Jogos Olímpicos. Para o treinador, competição que virá com naturalidade, desde que a seriedade no trabalho seja mantida. “Sentimos que ela ainda tem muita margem de evolução, se continuar focada e empenhada pode continuar a melhorar. Achamos que Paris é quase uma realidade, mas não podemos dar como garantido”, afirmou.
“A Camila em Paris vai estar com 22 anos, e com três grandes competições na sua bagagem (Roma 2022/ Mundial de 2023 e Europeu de 2024). Achamos que se dominarmos a parte emocional, que tem uma carga muito grande nos Jogos, pode perfeitamente fazer uma meia-final”, acrescentou Vítor Ferreira.

Gabriel Lopes e Camila Rebelo são atletas do Louzan Natação. Foto: Gabriel Lopes/Facebook
Trabalho no Louzan Natação
Desde 2014 a trabalhar no alto rendimento do Louzan – equipa onde está há 15 anos -, Vítor Ferreira mantém a tranquilidade e a seriedade de quem ainda sabe que tem uma longa estrada pela frente. O jovem treinador natural de Sé Nova, em Coimbra, sonha em poder levar um atleta à uma final olímpica. Até lá, pretende seguir firme na preparação e na parceria com Gonçalo Neves para poder ajudar ao máximo os seus atletas.
“O meu maior objetivo é continuar a manter esta dinâmica com o Gonçalo, porque equipa que ganha não se mexe, e conseguir estar à altura dos objetivos dos atletas que trabalham connosco”, disse.
“Gosto de ler livros de metodologia de treino, faço sempre isso nas férias; quer mais específico para a modalidade, assim como de outras, como ciclismo, atletismo e musculação. Deixo a parte da técnica da modalidade para o Gonçalo [Neves], que tem olho clínico. Costumo falar que ele é o nosso biomecânico. Ou seja, dentro de uma modalidade individual, é tudo menos individual. Neste caso, somos dois treinadores que tiramos o melhor de nós para extrair o melhor dos nossos nadadores. Além disso, é o Gonçalo que realiza toda a parte logística da época”, explica Vítor Ferreira, a concluir sobre a marca histórica que eles têm alcançado no Louzan Natação.
“Até a conquista desta medalha pelo Gabriel, não acho que tínhamos feito resultados históricos. Temos realizado bons resultados e estado nos principais palcos internacionais, algo que já dezenas de atletas o fizeram. Com esta conquista, demos um pequeno passo para ficar na história da modalidade, o que nos deixa extremamente satisfeitos e com uma sensação de dever cumprido para com a modalidade que tanto nos dá”, pontuou Vítor Ferreira.

Vítor Ferreira e Gabriel Lopes em Tóquio 2020. Foto: Vítor Ferreira/Instagram