Representante português na disciplina de águas abertas nos últimos Jogos Olímpicos, Tiago Campos é, atualmente, o principal nadador do país na modalidade. Aos 22 anos, foi o mais jovem atleta mais jovem de Portugal a competir no mar em Tóquio 2020, quando terminou a competição com um honroso 23.º lugar. Presente no 45.º Congresso da APTN, que decorreu neste fim de semana, no Instituto Politécnico de Leiria, o atleta do Clube de Natação de Rio Maior reservou alguns minutos para uma conversa com a SportMagazine.
Com uma rotina de treinos bastante intensa – chega a fazer até 100 quilómetros dentro da água por semana -, o nadador treinador por Nuno Ricardo (eleito Treinador do Ano na categoria Formação pela APTN) é um atleta que gosta de se planear a longo prazo. Porém, para concretizar os planos, dedica-se à uma rotina intensa no presente.
“Penso que faço dez treinos por semana, fora ginásios, cardios… A depender do ciclo onde eu estiver, chegou a fazer 100 quilómetros por semana, o que são muitos”, contou o nadador. “Faço bidiários segunda, terça, quinta e sexta-feira. Às quartas e aos sábados, treino uma vez”, detalhou.
No horizonte de Tiago Campos está novamente o sonho de regressar aos Jogos Olímpicos, agora em Paris 2024. Aos 23 anos, a ganhar cada vez mais experiência, segue a colher boas prestações nas competições internacionais, sempre com um foco. “Sei que o meu objetivo é em 70 semanas, que é a contagem para o apuramento [aos Jogos]”, disse.
No último Mundial, em Budapeste 2022, em junho, Tiago Campos terminou a prova dos 10km em 20.º. “Objetivo nesta prova era ficar em 14.º, mas não correu como planeado. Mas espero que agora numa próxima prova, consiga melhorar”, recordou-se, tratando também da prestação nos últimos Europeus, em agosto quando acabou por não completar a prova.
“Para mim, esse Europeu, embora não tenha completado, acho que foi positivo. Mantive-me no grupo da frente num ritmo muito forte. Eram seis voltas e aguentei quatro voltas com ele e depois senti-me mesmo completamente exausto. Tive mesmo que desistir porque estava mesmo mal”, explicou.
A seguir às provas internacionais, Tiago Campos manteve-se no topo nacional. Em setembro, venceu por exemplo a prova de 3,5 km da terceira edição do Madeira Island Ultra Swim (MIUS) evento integrado no Circuito Nacional de águas Abertas. No mesmo mês passado, venceu a primeira edição da Douro Bridges Porto & Gaia Open Water, que se realizou entre a Ribeira do Porto e a Douro Marina em Vila Nova de Gaia, numa distância aproximada de 4 km. As provas fazem parte do percurso que o nadador do Clube de Natação de Rio Maior está a fazer para chegar em alta em Paris 2024.
“O meu plano é agora chegar ao próximo apuramento e tentar me classificar outra vez. O meu objetivo mesmo é fazer melhor do que aquilo que fiz em Tóquio porque fiquei com o sentimento de que não era aquele o lugar que eu queria. Mas só de ter lá chegado, o que muitos não acreditavam em mim, foi muito bom. Consegui”, reforça, orgulhoso. “Em Paris eu queria muito um 16.º [lugar], mas não sei se é possível. Vou treinar para que eu consiga”, disse.
Na conversa sobre as águas abertas em Portugal, Tiago Campos destacou também o bom momento vivido pela colega da Equipa Portugal, Angélica André, medalha de bronze nos últimos Europeus. Ele vê esse pódio da atleta que com ele representou Portugal na disciplina em Tóquio 2020 como uma pressão positiva para si.
“Eu acho que é muito bom porque a Angélica já merecia chegar aonde está a chegar porque já são muitos anos a tentar, tentar, tentar e uma hora dá. O terceiro lugar [nos 5 km] logo após ficar em quarto lugar nos 10 km, ela diz que foi buscar forças mesmo… Ela não queria ficar em quarto por nada e conseguiu o terceiro lugar. Fiquei muito feliz por ela”, relatou. “E sinto-me um pouco pressionado, mas não pressionado a ser ponto demasiado. É muito bom ver que a natação portuguesa está a evoluir muito e isso é muito positivo”, completou.
Por fim, aquando perguntado se estava satisfeito com o desenvolvimento da disciplina de águas abertas em Portugal, Tiago Campos fez uma ponderação.
“O desenvolvimento está mais ou menos. Os únicos atletas que agora estão com a Federação somos eu e o Diogo Campos, tem os mais novos, mas ainda não estão ao nível que nós. É mesmo só eu e ele. Eu gostava que eles começassem a galgar e evoluir mais para que nos mordam nos calcanhares, como se costuma dizer. Mas pronto, é esperar que uma altura vai aparecer mais malta nova”, concluiu, sempre com o o aspeto bastante tranquilo, o atleta treinado por Nuno Ricardo.