Foi na classe olímpica 470 que Portugal conquistou, no longínquo Jogos de Atlanta, em 1996, a última medalha olímpica, quando Vítor Hugo Rocha e Nuno Barreto Vela alcançaram o bronze histórico. Passados 26 anos, a modalidade volta a ter um cenário promissor. Com a dupla recém-formada Rodolfo Pires e Beatriz Gago, o país conquistou esta semana um relevante vice-campeonato da Europa juniores nesta mesma classe 470. Um triunfo que, a julgar pelo esforço e pela ambição da dupla, não irá parar por aqui.
Atleta do Iate Clube Marina de Portimão, Rodolfo Pires conversou com a reportagem da SportMagazine a representar a equipa que subiu ao pódio na competição que decorreu em Vilamoura, Faro. O atleta destacou a importância do resultado para o reconhecimento e a luta da dupla na busca pelo aperfeiçoamento.
“Graças a este resultado, as pessoas valorizaram bastante. No mundo da vela, muitos velejadores e pessoas que estão inseridas sabem que estamos a treinar bastante. Passamos mais dias a treinar do que em casa, passamos mais dias no estrangeiro do que em Portugal. E sempre a treinar, a procurar melhorar a nossa performance e os resultados não estavam a aparecer. Não estávamos a conseguir fazer bons resultados. E isso era algo que estava um pouco abaixo. Felizmente, com esse resultado, conseguimos mostrar às pessoas que, com muito trabalho, dá para chegar lá. Tem que haver muita dedicação, não é fácil porque os resultados não aparecem, mas quando aparecem é uma motivação muito boa. Fico contente porque realmente as pessoas admiraram o nosso trabalho que temos feito até aqui”, afirmou Rodolfo Pires.
Ao lado de Beatriz Gago, do Clube de Vela de Viana do Castelo, Rodolfo espera poder seguir na luta para alcançar o sonho de estar nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Na ocasião, a dupla treinada pelo espanhol ex-atleta olímpico Aaron Sarmiento, também citou as dificuldades com a falta de patrocinadores.
“Nós temos como objetivo ir aos Jogos. Também há outra equipa portuguesa [composta pelos atletas olímpicos Diogo Costa e Carolina João] com um bom nível e com o mesmo objetivo. Mas, primeiro, o importante é apurar o país. Vai ser difícil, não vai ser uma tarefa nada fácil. Depende muito também dos patrocínios, esta parte é muito importante. Temos patrocínios, mas é importante termos mais. Precisamos de mais material, precisamos de outras oportunidades e se calhar com os patrocínios talvez seja mais fácil encurtar o espaço de tempo para evolução e talvez possamos estar num bom nível para tentar o apuramento para os Jogos”, detalhou o velejador natural de Lisboa.
Atualmente, Beatriz Gago e Rodolfo Pires recebem os apoios dos clubes, da Federação Portuguesa de Vela, e dos municípios de Portimão, Viana de Castelo e Silves. “Procuramos patrocínios, o que é superimportantes para o apoio para chegarmos o mais longe o mais rápido possível”, reforçou Rodolfo, medalhado de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude 2014, na classe Byte cii.
Ainda jovens, Rodolfo tem 23 anos e a Beatriz 20, a dupla destacou que tem contado com a experiência de Aaron Sarmiento para seguir em evolução. “Ele tem um papel muito importante. O treinador ajuda-nos nas nossas técnicas no barco, a melhorar os tempos, o que é importante rodagens das boias para fazermos os procedimentos o mais rápido possível. E é tudo uma questão do treinador, que define isso, ajuda, que motiva nas regatas, ajuda a puxar para cima e é superimportante. Neste momento, realmente ainda precisamos e evoluir a andar a favor do vento [a popa] e melhorar um pouco a condução quando velejamos contra o vento [a bolina]”, destacou o velejador.
Sobre o vice-campeonato da Europa juniores na classe olímpica 470, Rodolfo ainda pontuou sobre o maior desafio encontrado na competição.
“Diria que o maior desafio que tivemos neste campeonato foi a falta de vento. Fizemos os primeiros dias quase sem vento nenhum. Isso faz com que os melhores, por vezes, não consigamos fazer boas regatas e os ‘piores’ consigam, com sorte, fazer boas regatas. Este foi sempre o nosso grande problema, até que entrou finalmente um dia de vento estável e aí conseguimos logo a fazer um bom campeonato e subimos logo na classificação. E depois conseguimos ganhar a Medal Race, que nos garantiu o segundo lugar da classificação”, afirmou.
Beatriz Gago e Rodolfo Pires somaram 29 pontos no total. Venceram a competição Matisse Pacaud e Lucie de Gennes, com 18 pontos. O pódio foi fechado pelos polacos Kacper Paszec e Oliwia Laskowska, que levaram o bronze com 38.
“Ficámos contentes com a medalha de prata, sentimos sinceramente que era o nosso lugar. Acreditávamos pelo nosso lugar que um bom lugar para nós seria um segundo ou terceiro lugar. O francês que ganhou é claramente melhor que nós, temos que o admitir, está um patamar acima. É algo que é alcançável, só que na parte final, quando entrámos no último dia, que é a regata mais importante, porque conta o dobro dos pontos, nós tínhamos uma equipa da Nova Zelândia que surpreendeu. Não tínhamos ideia de que estavam a navegar tão bem, queríamos ultrapassá-los para garantir pelo menos o terceiro lugar, e queríamos ultrapassar a equipa que estava em segundo lugar, uma equipa da Polónia, que acreditamos que tem um nível um pouco inferior a nós. Eles ficam normalmente atrás nos campeonatos. Então, vimos que era uma grande oportunidade de dar um salto do quarto por segundo. Portanto, ficámos supercontentes com a medalha de prata. Se calhar, se fosse a medalha de bronze, era aquele sabor agridoce, portanto estamos supercontentes”, garantiu.