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Ricardo Faria avalia processo de formação no ténis de mesa em Portugal: “Se tem investido mais…”

Ricardo Faria, selecionador nacional de formação. Foto: FPTM

Profissional do ténis de mesa há mais de 30 anos – sendo 14 deles dedicados junto à Federação Portuguesa da modalidade -, Ricardo Faria é um dos profissionais mais experientes do quadro português. Atualmente treinador das seleções nacionais jovens, o madeirense conversou com a SportMagazine sobre o desenvolvimento da nova geração do ténis de mesa nacional. Composta por nomes como Inês Matos (Boa Hora FC), Matilde Pinto (CTM Mirandela), Tiago Abiodun (Sporting CP) e Júlia Leal (GDCS Juncal), a nova geração de mesatenistas tem despertado o interesse nacional pelo bom desempenho técnico. Ricardo Faria falou sobre a formação na modalidade.

SportMagazine (SM) – Como avalia esta nova geração do ténis de mesa português?

Ricardo Faria (RF) – A minha opinião, sinceramente, é que se tem investido mais, estamos a compor cada vez mais uma equipa técnica e isso necessita de recursos financeiros, necessita da constituição de uma equipa focada, a vários níveis, procurando dar melhores condições de treino, de prática diária, também existe agora um grande investimento da federação e alguns atletas já estão residentes no Centro de Alto Rendimento [em Vila Nova de Gaia]. Não vou dizer que são profissionais, porque em tenra idade, é impossível serem já profissionais. Mas já tentando num percurso de alto rendimento, ou seja, já fazem treinos bidiários alguns dias da semana, já aumentaram muito a sua carga de treino, já têm um conjunto de condições em que têm parceiros de treino com muito mais qualitativos, têm um conjunto de técnicos à volta deles, profissionais com mais conhecimento, que vão estando no dia a dia do seu treino, na sua prática de treino, que lhes vão dando mais informações. Têm participado em mais provas internacionais e o caminho de alto rendimento é muito árduo, complexo e precisa de todo um conjunto de ações em torno do atleta para, de facto, emergir num plano a nível internacional.

SM – A formação desses jovens é a longo prazo, pois não?

RF – Se nós formos olhar para os melhores países, em termos do ténis de mesa, da Europa, a maior parte deles tem vários centros de treino, onde treinam os melhores jogadores de lá, onde têm os aspetos nutritivos, uma alimentação mais cuidada, os aspetos escolares, em tão tenra idade a escola nunca pode ser deixada de lado, porque senão os pais, com o insucesso escolar, cortam na prática do ténis de mesa e todos os aspetos estão a ser equacionados, neste momento, no ténis de mesa. É uma questão de tempo, se nós tivéssemos, de facto, uma varinha mágica, dávamos o toque em cada um deles e eles disparavam em um, dois anos, mas em alto rendimento é demoroso. É preciso paciência, irmos melhorando pouco a pouco, não só o conhecimento, mas a formação de uma equipa técnica. Para se ter uma equipa técnica mais profissional, com mais afinco, com mais horas de treino, todos estes aspetos que eu equacionei, são necessários ter em atenção. Isso implica maior orçamento, mais fortificado, mais diversificado, para se poder investir em competições internacionais, na qualidade nos treinos. Eu, por exemplo, colaboro com a federação pontualmente, porque a Federação se calhar não tem orçamento. Mas tem investe-se num conjunto de treinos novos que colaboram com mais frequência em que também lhes é dada a formação, no sentido de irem fortalecer a equipa de trabalho.

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SM – Para o desenvolvimento desses jovens é necessário uma equipa multidisciplinar, neste sentido falta algo para os nossos atletas?

RF – A Federação tem colmatado quando necessário, acesso a um psicólogo, têm feito parcerias com um hospital, por exemplo acompanhamento de fisioterapeuta, massagem quando é necessário, já cada vez mais tem tido essa presença. Temos tido pouco a pouco, por exemplo já temos máquina de gelo no CAR para fazerem a recuperação. Eles cada vez estão a ficar mais residentes e não é fácil. Isto também em termos culturais e de mentalidade são passos que têm de ser dados pouco a pouco, não pode ser de um passo. Não podemos trazê-los assim todos, tem que ser um processo. Por exemplo, eu sou residente na ilha da Madeira, não são todos os pais que aceitam, como o Ronaldo por exemplo, sair aos 12 anos da Madeira e viesse para Lisboa. Como, da mesma forma, eu também sou pai, e se me dissessem ‘o teu filho vai jogar para França’ ou ‘ vai para o CAR no Porto’ eu, residente da Madeira, com 12 ou 13 anos, deixas a escola, deixas a família, não é fácil. Nem todos os pais aceitam esses tipos de processos, por isso é que isto leva uma certa cultura.

SM – Um ponto tocado por atletas de referência, como Marcos Freitas por exemplo, é a necessidade de recrutar mais jovens para o ténis de mesa. Concorda?

RF – Eu acho que, para identificarmos, nós até podemos identificar um ou outro atleta com talento, mas depois preciso que eles adiram ao projeto federativo. É preciso também que os treinos onde eles são enquadrados, nos seus clubes, tenham alguma formação, valorizem a sua formação, passem a ser de meros treinadores para serem semiprofissionais, ou seja, também eles têm de passar por uma melhor formação dos treinos. Se eles fizerem um bom trabalho de base, nós não podemos fazer trabalhos com jovens de seis, sete, oito anos. O trabalho de uma federação ou de uma Seleção Nacional é aqueles que já tem alguns instrumentos, algumas competências, algumas capacidades, que nos permitem identificar se pode vir a ser um talento ou não, mas tem que ter um trabalho já bem realizado mesmo na parte inicial, quando ele vai, começa a ter os seus primeiros passos no ténis de mesa. E se não temos treinadores capazes, com competência, nos seus clubes, a fazer esse tipo de trabalho, mais dificilmente vamos conseguir recrutar.

Pode ter uma base muito alargada, pode ter 20, 30, 40 jogadores, mas se eles não vêm já com um trabalho de base bem feito desde início, ou seja, um nível em que vai poder ser usado, vai ser muito mais demoroso para se fazer um bom trabalho qualitativo. Se a gente pega num jovem de 13, 14 anos, mas ele tem muitas questões a ser resolvidas, questões técnicas, questões de adaptação, tática, mesmo em termos do corpo, uma criança é potencializada aos mais diversos níveis, no alto rendimento não podemos dizer que só vamos trabalhar o físico. Há parte física, a parte técnica, tática, mental, biológica, nutricional. Por exemplo, se você tem um jovem com boa capacidade técnica, tática, mas depois alimenta-se muito mal ou tem uma vida social muito má, isso vai influenciar no alto rendimento. Isto é um todo. O jovem só vai crescer quando perceber ‘eu para chegar ao alto rendimento, tenho de ser disciplinado, tenho de ter vontade de vencer, tenho de ter alguma competência técnica e tática, isso é inequívoco’ , mas, para além disso, também tenho de querer evoluir mentalmente, tenho de ter um bom comportamento social, uma boa conduta escolar’, isto tudo até aparecer o talento e o atleta de alto rendimento.

SM – Os treinadores do ténis de mesa em Portugal estão preparador para lidar com a formação de jovens atletas?

RF – Nós temos que acreditar que sim, temos que lhes dar oportunidade, de lhes dar a formação. Ainda ontem tivemos uma reunião com um dos responsáveis que agora está na área da formação, a pedirmos também alguma colaboração neste sentido, as formações que vamos passar a dar, momento em que nós, estrutura federativa, enquanto treinadores da Federação Nacional, temos referências internacionais e no alto rendimento, passamos para os técnicos dos clubes como devem trabalhar, em que sentido devem trabalhar, para todos remarmos em objetivos comuns. Isto é o mais importante. Isto tem que ser um trabalho complementar, tem que ser um trabalho de equipa. Há miúdos que já vêm com muitos erros, com muitas questões técnicas por resolver e que não sabe treinar, e há miúdos que aprenderam, foram para o clube, gostam de jogar, mas depois vêm, outras não vêm, têm muitas questões de disciplina, de organização. À volta de um jogador para fazê-lo chegar ao alto rendimento há muitas questões. Isto passa por um processo educativo dos treinadores, dos clubes, passa por ações de formações pontualmente, convidar até alguns técnicos que trabalhem bem esses jovens talentos já nos seus clubes aqui ao CAR, a trabalhar connosco, e este trabalho global vai, com certeza, emergir alguma coisa positiva.

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