Há mais de 20 anos a figurar como atleta de alto rendimento no tiro desportivo, Joana Castelão é uma da principais referências da modalidade em Portugal. Representante olímpica nos Jogos de Londres 2012, a atleta de 37 anos continua a figurar entre as mais destacadas atiradoras no cenário nacional e internacional. No passado dia 15 de setembro, por exemplo, alcançou o quinto lugar na final de Pistola 25m, no Campeonato da Europa, que decorreu na Polónia.
“A prova do Campeonato da Europa correu muito bem, depois de um início não tão perfeito na primeira parte da prova, precisão em que fiz 287 pontos de 300 possíveis, consegui no segundo dia, na velocidade, uma prestação perto do perfeito 295 pontos em 300 possíveis, num total de 582. Fiquei muito contente de ter conseguido ser apurada em 7.º para a final. Na final estive muito perto de passar à Medal Match, mas perdi por 1 hit no desempate com a italiana e fiquei em 5.º lugar. Fiquei e estou muito contente, consegui atingir os objetivos que tinha delineado para esta competição com o meu treinador, que eram o apuramento para os Jogos da Europa (apuravam directamente as 12 primeiras) e depois a presença na final”, detalhou Joana Castelão sobre a competição em Wroclaw.
Em maio passado, a atleta treinada por José Pêgo conquistou o 3.º lugar na final olímpica da prova de Pistola 25m no Grand Prix de Granada. Em julho, nos Jogos do Mediterrâneo, com pistola de ar comprimido, Joana Castelão foi sétima na final. Sempre a figurar em meio à elite do tiro, Joana destacou, em entrevista à SportMagazine, os desafios que contornam a prática do tiro desportivo – que embora seja uma modalidade olímpica, na prática, segundo ela, é amadora no país.
“Em Portugal ainda não é possível, ou não tem sido possível, os atletas do tiro se dedicarem a 100% à modalidade, pelo que, por mais que nos custe ouvir, somos amadores. Isto significa que todos temos empregos e que o tiro é sempre levado para um plano em que não pode ter a prioridade que deveria”, disse Joana Castelão.
A atleta, farmacêutica, trabalha numa farmácia comunitária (Farmácia Nifo – Algés) por oito horas diárias (das 8h30 às 22h no dias úteis) e com horários rotativos das 8h30 às 20h nos fins de semana. “Tenho o privilégio de trabalhar numa equipa em que consigo ir adaptando os meus horários de modo a conseguir treinar mas normalmente só consigo treinar duas a três vezes por semana. É muito longe do que as atiradoras de elite nos outros países fazem. Elas treinam sete dias por semana em treinos que se dividem entre técnico, físico, mental e descanso”, compara.
“[As concorrentes] Também têm uma rotina de competição mais intensa competindo internacionalmente com mais regularidade. Isto reflete-se obviamente na frequência com que se atinge uma medalha, uma final ou uma prestação de relevo e faz com que nós, atletas portugueses, demoremos muito mais tempo a atingir o topo na carreira desportiva”, acrescentou Castelão, 15.º lugar em Londres 2012 – a igualar o melhor resultado feminino português alcançado no Tiro, que outrora pertencera a Isabel Chitas (1984).

Foto: Joana Castelão/Facebook
Atleta do Clube do Pessoal da PSP, Joana Castelão pratica o tiro desde os 16 anos, quando conheceu o desporto através do pai Carlos Castelão, antigo atirador. Especialista em Pistola de ar comprimido a 10 metros (P10) e Pistola Sport a 25 metros (P25), Joana também faz dupla com João Costa – campeão europeu no mês passado –, onde somam juntos inúmeras medalhas – como, por exemplo, o bronze no Campeonato da Europa 2021, na final da prova de equipas mistas de pistola 10m. Embora vencedora e referência na modalidade, a atleta natural de Carcavelos acredita que ainda é necessário percorrer um longo caminho para que o tiro seja mais desenvolvido em Portugal.
“Eu penso que nós temos muito talento mas para se chegar ao topo internacionalmente é preciso haver disponibilidade para se treinar muito mais e competir muito mais também para se crescer como atirador e conseguir atingir resultados de nível internacional. Infelizmente, o tiro é uma modalidade pouco divulgada em Portugal, com muitos federados até, mas poucos com o real interesse de competir, portanto a base é pequena. É necessário que os clubes divulguem a modalidade com o apoio da Federação Portuguesa de Tiro e que se invista em treinadores para que os atletas que iniciam a modalidade sejam acompanhados desde o inicio com rotinas corretas e treinos adequados e tenham oportunidade de crescer enquanto atletas”, afirmou, a complementar sobre o investimento nas categorias de formação.
“Existem alguns países que também têm bases pequenas de seleção mas que investem muito mais no acompanhamento dos atletas, profissionalizando-os ou integrando-os nas forças armadas de modo que se possam dedicar apenas a treinar e por isso tem mais resultados. Outros têm o tiro como desposto escolar e aí a base de captação é muito maior, mas existe toda uma estrutura que acolhe esses atletas e os faz progredir até ao ponto de fazerem ou não parte de uma seleção nacional. Para mim, a base de tudo prende-se com a possibilidade de se treinar mais e melhor, sem uma estrutura que garanta isso é muito difícil treinar tanto como as minhas adversárias”, detalhou a experiente atiradora.
Apesar dos muitos desafios, Joana Castelão está inserida no contexto do projeto olímpico Paris 2024 e apurada para o Jogos da Europa 2023. “A presença nas finais com mais frequência foi também um objetivo alcançado e resta, para este ciclo, o apuramento para os Jogos Olímpicos Paris 2024, que iniciou agora no Campeonato da Europa”, contou.
“Sei das dificuldades que existem, cada vez há menos quotas olímpicas e cada vez os outros países investem muito mais no tiro e eu continuo a trabalhar, a ser mãe e mulher e a treinar nos intervalos disso tudo, mas não duvido do meu valor e da minha técnica e sei que tenho capacidade para lutar pelo apuramento e é isso que vou fazer”, garantiu, decidida, a atleta portuguesa.

Joana Castelão ao lado do treinador José Pêgo. Foto: Joana Castelão/Facebook