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Professor Luís Vaz integra prestigiada equipa de investigação do jogo de rugby a nível mundial

Foto: Luís Vaz

O professor Luís Vaz, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e membro do Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano (CIDESD) integra uma prestigiada equipa de investigação do jogo de rugby a nível mundial. O próprio conversou com a SportMagazine acerca da investigação e da modalidade.

SportMagazine (SM)Professor Luís Vaz, a recente publicação de um estudo sobre o jogo de rugby: link de acesso ao artigo, na prestigiada revista European Journal of Sport Science, permitiu-nos saber que integra uma  equipa de investigação do jogo de rugby a nível mundial que é consultora da World Rugby. Trata-se de um reconhecimento internacional importante para si, para a sua Universidade e para o rugby Português?

Prof. Luis Vaz (LV) – Sim, o reconhecimento público feito a esta equipa de investigação por parte da World Rugby, significa mais responsabilidade sobretudo para mim. O facto de se saber que estou a trabalhar com os “melhores” é motivo de satisfação e conforto para mim e de grande satisfação também para todos os que conhecem o meu trabalho. Este caminho foi (e é) difícil e estar associado ao rugby português é fruto do exigente trabalho e acima de tudo do reconhecimento de algumas das minhas competências o que pessoalmente me agrada.

SM – E o que o desagrada ao Professor?

LV – As pessoas, ou melhor, as pessoas que querem ser líderes pela obediência a que submetem os outros sem terem a noção do que é liderar ou até mesmo o que é liderança. Como joguei um jogo de equipa (rugby) que me ensinou e ensina a refutar as pessoas que não têm o culto do agradecimento nem tão pouco do reconhecimento da ou da(s) competência(s) dos outros, sendo elas a maior parte das vezes “felizes” incompetentes, isso desagrada-me…. De igual modo, desagrada-me todos os que promovem a mediocridade e recompensam a mesma. Regra geral, são elas mesmas pessoas medíocres, têm poucas qualidades e são pobres do ponto de vista intelectual. Felizmente, a minha educação, (a qual agradeço muito aos meus pais) e a minha forma de estar na vida, ensinou-me a ser grato, a “tentar” ser o mais correto para com os outros, a aceitar as derrotas e a acreditar que nem todas as “vitórias” valem a pena. Aprendi que o caminho se faz caminhando e o mesmo sempre vale mais que a meta final. Prefiro elogiar em vez de depreciar, opto pelo ajudar no bem-estar dos outros e nos que me rodeiam porque sei que isso sim, contribui para a minha felicidade…

SM –  Como surgiu a oportunidade de integrar esta equipa de investigação?

LV – A oportunidade surge pelo caminho que foi (e é) difícil de se percorrer como referi e que necessariamente temos que percorrer como professores e investigadores no ensino superior em Portugal. O 1º contacto surgiu em 2016, por parte dos professores Bem Jones e Kevin Till de Leeds Beckett University – Inglaterra e professor Sharief Hendricks da University of Cape Town – África do Sul. Convidaram-me para me poder juntar a eles e aceitei integrar um projeto de estudo com o objetivo de se conhecerem os efeitos da exposição dos jogadores de rugby às colisões sofridas durante a competição.

SM – Poderia explicar melhor à SM quais as atividades desenvolvidas e que tipo e objetivos tem na investigação que realiza sobre o jogo de rugby?

LV – As atividades desenvolvidas e os objetivos de estudo desta equipa de investigação em concreto, acompanham as necessidades mais atuais da modalidade. Como investigadores de referência somos consultados e desafiados constantemente de modo a podermos dar resposta às muitas preocupações manifestadas sobro o jogo pela World Rugby. Poe exemplo, em 2017, a Word Rugby manifestou uma preocupação crescente com a segurança e o bem-estar dos jogadores de rugby. Sob o lema de colocar os jogadores em primeiro lugar, contactou um grupo restrito de investigadores em diferentes áreas científicas (Medicina, Ciências do Desporto, Psicologia) para investigarem e recomendarem áreas de pesquisa consideradas importantes para o Rugby Mundial. O reconhecimento do meu trabalho pelos pares no âmbito da análise do jogo de rugby, permitiu o surgimento deste prestigiante convite. A mim, coube-me incluir e estender o convite à Federação Portuguesa de Rugby que felizmente percebeu a importância de poder estar representada e poder integrar um projeto de estudo desta natureza, promovido e financiado pela World Rugby.

Nesse mesmo ano (2017) o projeto de estudo em que aceitei trabalha, liderado pelo Professor Ben Jones, foi submetido à World Rugby que após exigentes etapas de avaliação, recebeu aprovação, reconhecimento e também o importante financiamento. Relativamente á minha intervenção no projeto de estudo em causa, numa 1ª fase, recolhi, tratei e analisei dados de 30 jogos de rugby de equipas e seleções de rugby de Portugal em diferentes níveis de competição e escalões. Numa 2º fase, solicitei a importante ajuda da Federação Portuguesa de Rugby e do Prof. Tomaz Morais, de modo a aplicar a nível nacional um questionário aos jogadores sobre as competições de rugby em que participavam e o número de jogos que jogavam em diferentes níveis e escalões etários. Estes dados ajudaram-nos a identificar diferenças entre as nações estudadas, os diferentes níveis competitivos e perceber os efeitos da exposição dos jogadores de rugby às colisões sofridas durante a competição.

SM – A pandemia prejudicou as atividades a serem desenvolvidas no projeto?

LV – Sim. O período da pandemia criou constrangimentos e foram necessários reajustes ao projeto. Em 2019, surgem os primeiros resultados e é entregue à World Rugby o 1º relatório preliminar da equipa de investigação com as conclusões e recomendações sobre o estudo dos efeitos da exposição dos jogadores de rugby às colisões sofridas durante a competição. Decorrente dos vários estudos realizados, são dados pareceres para a disseminação da informação de acordo com filtros muito exigentes e muito restritos. Em 2020, foram propostos novos estudos e linhas de investigação a serem desenvolvidas por diferentes investigadores participantes. Estão previstas futuras publicações, destacando a que realizamos com os resultados do rugby em Portugal e na qual sou o investigador responsável.

SM – O rugby português vai poder voltar a estar novamente no Mundial de Rugby este ano em França. Na sua opinião qual a importância deste feito.

LV – A importância do feito é que Portugal aproveitou e bem a última oportunidade que teve para estar presente novamente num mundial de rugby. De referir que Portugal beneficiou da desqualificação da Espanha do Campeonato do Mundo de Rugby, fruto da utilização irregular de um dos seus jogadores. O jogo com os Estados Unidos do torneio final de repescagem foi uma oportunidade que não aparece muitas vezes na carreira de um jogador e o empate (16-16) neste caso deu o direito a que Portugal pudesse voltar a França ainda este ano e estar novamente no Mundial de rugby. Como pontos fortes do jogo, destacaria que Portugal soube e bem apresentar uma equipa que joga junta nos últimos anos e que soube defender bem e em várias frentes.

A criatividade do nosso jogo ofensivo e a boa organização dos nossos pares de médios foi importante. Como pontos fracos: o alinhamento e as dificuldades esperadas na formação ordenada. Os Estados Unidos da América tiveram como pontos fortes as fases-estáticas com especial destaque a formação-ordenada (grande intensidade física) o maul dinâmico após alinhamento, jogando rápido e agrupando bem, aproveitando bem os erros de Portugal no alinhamento. Boas combinações táticas nas linhas-atrasadas com evidencia no seu par de centros rápidos, pesados e bem coordenados. Como pontos fracos, tiveram o envolvimento constante dos centros como veículos de conduta de jogo na defesa contrária e que favoreceu no meu entender Portugal. Como equipa vencedora do torneio final de repescagem, Portugal vai integrar o Grupo C do Campeonato do Mundo, com as seleções de País de Gales, Austrália, Ilhas Fiji e Geórgia. O Mundial de rugby de 2023, realiza-se em França, de 08 de setembro a 28 de outubro.

SMProfessor Luís Vaz, aproveitando o anúncio de que lançará a obra RUGBY – Análise do Jogo, que será editado pela chancela Sportbook [da Quântica Editora, que edita a SportMagazine], quer falar-nos um pouco sobre a mesma e indicar data para o seu lançamento?

LV – Sim, recebi a informação por parte do responsável editorial que esta semana teríamos novidades sobre a obra que eu e o Professor Tomaz Morais escrevemos. Sei que está em fase final para que possa ser posta no mercado ainda este ano, o que muito nos agrada.

SM – Como surgiu a ideia de escrever esta obra sobre rugby em Portugal?

LV – A ideia da obra é antiga e significa para mim poder retribuir um pouco de tudo o que o rugby me tem proporcionado, isto é, fazer aquilo que gosto, ensinar aquilo que sei, estudar o que me interessa, partilhar as evidencias dos meus estudos, viajar para onde ainda não fui e à vezes ainda “jogar”rugby. Com esta obra, pretendemos contribuir para que se possam dar respostas a um vasto conjunto de questões suscitadas em diferentes domínios e que tenham repercussões assinaláveis no conhecimento e desenvolvimento do rugby em Portugal.

SM – O Professor Tomaz Morais é também autor da obra e alcançou os maiores sucessos internacionais de sempre do rugby português.

LV – Sim, o mérito no rugby do Professor Tomaz Morais é reconhecido e bem a nível nacional e internacional por todos. O seu contributo nesta nossa obra ajudou a redefinir objetivos e repensar estratégias de atuação quer da federação portuguesa de rugby, quer dos clubes em Portugal. O plano estratégico para o desenvolvimento do rugby em Portugal expresso nesta nossa obra, permite esclarecer as linhas orientadoras do seu pensamento refletivo para o desejado desenvolvimento e consolidação da modalidade em Portugal.

SM – Qual a sua relação com o Professor Tomaz Morais?

LV – Relação de amizade, compromisso, trabalho exigente, dedicação e gratidão mútua. Se me permite queria aproveitar a oportunidade para podermos expressar publicamente o nosso agradecimento a todos os que souberam partilhar connosco o saber e a sua experiência, que possibilitou escrevermos esta obra. Estamos conscientes, que continuamos a contribuir para um rugby melhor para Portugal.

SM – Quais as expectativas de acolhimento da vossa obra e a que público se dirige.

LV – Aproveitando a presença do rugby Português no campeonato do mundo as expectativas do acolhimento da obra são altas. O publico a que se dirige por gênero: masculino e feminino; para uma faixa etária entre 16 a 65 anos e com uma escolaridade de ensino médio e superior.  Inicialmente a obra será comercializada em Portugal, abrindo-se uma oportunidade para a EU (tradução) e o Brasil (com uma forte procura). A obra é dirigida a treinadores, jogadores masculinos e femininos, pais, dirigentes e técnicos do rugby em Portugal. Temos ainda os alunos dos ensinos básico e secundário e os professores dos grupos de educação física, alunos dos cursos técnicos de desporto e de ciências do desporto do 1º, 2º e 3º ciclos e por fim o público em geral.

1 Comentário

1 Comentário

  1. Lobato

    Maio 8, 2023 at 1:28 pm

    Muito bom ver o reconhecimento da capacidade e da competência de estudiosos como o professor Luiz Vaz. São essas atitudes que enaltecem e promovem o desenvolvimento do esporte.

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