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José Manuel Lourenço, a nova sede do CPP, o balanço de 2022 e os planos para o desporto paralímpico: “Podemos até considerar um ano histórico…”

José Lourenço, presidente do CPP. Foto: CPP

Pode-se dizer que 2022 foi um ano positivo para o desporto paralímpico em Portugal, especialmente em termos de resultados e de ações que devem reverberar no futuro. Miguel Monteiro, medalhado olímpico no ano anterior em Tóquio 2020, alcançou um novo recorde mundial; Norberto Mourão, outro medalhado olímpico, manteve o alto rendimento, enquanto o país teve boas prestações nos Jogos Surdolímpicos, no Mundial de Natação e o título no Mundial de Andebol em cadeira de rodas – entre outras conquistas.

Além disso, a Assembleia Plenária do Comité Paralímpico de Portugal (CPP) aprovou no fim de novembro, por unanimidade, o Plano de Atividades e Orçamento para o ano de 2023 proposto pela Comissão Executiva do CPP. O documento traz algumas determinações importantes para o desenvolvimento do desporto paralímpico em Portugal, como a busca por tecnologia através da aproximação com as universidades e projetos como o “Reabilitar” e o relativo à futura nova sede da entidade.

A poucos dias do fim do ano, a SportMagazine conversou com José Manuel Lourenço, presidente do CPP, para fazer um balanço do ano que está a terminar e abordar também os planos para 2023. Satisfeito com os avanços em 2022, o representante máximo do órgão paralímpico mostrou-se ainda otimista para o próximos passos do desporto adaptado em Portugal.

SportMagazine (SM) – No Plano de Atividades para 2023, o CPP sinaliza com a necessidade de produção de mais conhecimento por forma a estabelecer parcerias que visem o desenvolvimento de projetos na academia. Qual a importância dessa aproximação com as universidades portuguesas e os investigadores?

José Manuel Lourenço (JML) – A importância é determinante. Nós entendemos que a academia tem um papel determinante na produção de conhecimento, na disseminação da informação deste mesmo conhecimento, no desenvolvimento inclusive de novas tecnologias que possam permitir outros tipos de rendimento e de melhores condições para o treino de pessoas com deficiência. A tecnologia é algo fundamental. Achamos que não deve ser uma questão da área do desporto, mas até de envolver vários ramos da ciência, ou seja, na área Médica, do Desporto, das Ciências Sociais, existem várias dimensões que importa que sejam desenvolvidas e investigadas e tornadas públicas, de forma que mais pessoas possam aderir ao desporto, mais pessoas compreendam aquilo que é a importância do desporto praticado por pessoas com deficiência e por isso é que nós entendemos que é determinante para os nossos objetivos o envolvimento com a academia.

SM – No mesmo Plano de Atividades fala-se na formação para agentes desportivos como “máxima importância e prioridade”. O objetivo é alargar a base de praticantes no desporto adaptado?

JML – Sim, o objetivo é este. Hoje em dia, a formação nacional de treinadores é muito parca, consideramos insuficiente. O programa da formação nacional de treinadores, os conteúdos que normalmente estão disponíveis para a especificidade das pessoas com deficiência… Nós não queremos envolver-nos de maneira nenhuma na questão da metodologia do treino, não é isso que queremos fazer. Queremos é de alguma forma descomplicar aquilo que às vezes parece ser complicado, que é alguns treinadores, e outros agentes desportivos, que têm alguns receios e algum desconhecimento naquilo que é a especificidade na abordagem do treino às pessoas com deficiência. Essa é a nossa única preocupação. Sabemos que abordar um atleta cego não é a mesma coisa de abordar um atleta sem deficiência visual, sabemos que abordar um atleta paraplégico amputado nos membros inferiores não é a mesma coisa de abordar uma atleta dito normal. Portanto, esse é o nosso objetivo, capacitar mais e normalizar: qualquer treinador pode ter excelentes competência de treino e pode lhes faltar essa parte e é isso que queremos – complementar a atual formação de treinadores.

SM – Mais um ponto do Plano de Atividades fala rapidamente sobre parcerias com Centros de Reabilitação e Hospitais, mas não detalha como se desenvolveria essa iniciativa. Há mais detalhes sobre esse projeto “Reabilitar”?

JML – É um projeto que está neste momento em fase de design. Queremos desenvolver isso, sim, durante o próximo ano. O objetivo é nós termos uma possibilidade, em conjunto com as federações de modalidade, de dar experiências desportivas com as federações e também com os centros hospitalares e de reabilitação. Pessoas que são utentes dos hospitais ou desses centros, e potencialmente estejam em idade desportiva e possam participar do desporto paralímpico, podem ser sensibilizadas pelas unidades de saúde para a importância da prática desportiva. E podemos proporcionar a esses utentes experiências desportivas. Experimentar atletismo, natação, o desporto equestre, o tiro com arco, o judo, aquilo que é o programa de modalidades individuais ou coletivas, de forma que as pessoas , através dessa oportunidade de prática desportiva, possam de alguma forma virem, algumas delas, a se tornarem atleta. O objetivo é  sensibilizar, captar e se possível reter.

José Manuel Lourenço, presidente do CPP. Foto: Ângelo Bártolo/CPP

SM – Este ano foi anunciado o projeto da nova sede do CPP, orçado em 4.520.000,00€. Como é que o CPP espera conseguir o financiamento para essa obra?

JML – Só temos duas possibilidade de obter esse financiamento: através de recursos públicos ou mecenatos. Do público, temos que contar com apoio do Governo ou dos fundos comunitárias, isso é o que pensamos e passa sempre por algum programa público. É nisto que estamos a trabalhar para chegar a algum tipo de apoio comunitário que esteja disponível. Através de mecenas trata-se de encontrar alguém, ou pessoas ou empresas, que possam dar apoio a este nosso projeto. Portanto, neste momento é uma incerteza. Temos a certeza que temos o vencedor para fazer o projeto, agora falta-nos o resto.

SM – Em relação a iniciar as obras, não há prazo…

JML – Neste momento, o nosso plano não está atrasado. A única coisa que posso dizer é que só podemos avançar se tivermos dinheiro. Não temos tesouraria, recursos próprios para dar vida à obra. Portanto, temos que recorrer a essas duas possibilidades. Não existem milagres. Ou temos recursos, ou não vai haver obras. Mas acredito que vai mesmo avançar.

SM – Que ganhos acredita que terá o CPP pode ter com essa nova sede?

JML – São vários. Para já, estamos em instalações que não nos permitem crescer. Temos a necessidade de mais recursos humanos e não estamos a conseguir porque não temos espaço próprio. Permite por um lado reforçar a capacidade técnica do Comité, permite que o Comité possa ter uma outra estrutura em diversas dimensões. Por exemplo, trabalhar estatística é uma coisa que não temos nesse momento. A possibilidade de termos a funcionar diversas comissões que podem criar valor ao CPP… Podemos fazer uma coisa tão simples como fazer uma Assembleia Plenária nas nossas instalações, quando atualmente estamos a fazer sempre em entidades terceiras que têm disponibilizados as instalações. Eu diria que estamos a apresentar um edifício para 40, 50 anos. Não é um edifício para dois, três anos. Estamos aqui também a garantir o futuro do CPP naquilo que será a sua estrutura de financiamento.

SM – Estamos a encerrar o ano. Qual balanço que faz de 2022? Esta época trouxe, por exemplo, o título do Mundial de Andebol em cadeira de rodas, teve o Miguel Monteiro com mais um recorde mundial, o Norberto Mourão a conquistar muitas medalhas e a boa prestação de Portugal nos Jogos Surdolímpicos…

JML – O balanço é muito positivo. E podemos até considerar que é um ano histórico fazendo a avaliação não apenas pelos resultados desportivos. Há uma série de fatores que devem contar para a avaliação do ano, portanto o balanço de 2022 é muito positivo. Em termos de resultados desportivos salientamos aqui o desempenho do Norberto Mourão, mas também do Alex Santos na canoagem, o desempenho de todos os atletas que estiveram no campeonato do mundo de Natação no Funchal que ocorreu também este ano, o desempenho do atleta do triatlo, o Filipe Marques, que está numa excelente posição no ranking mundial e também nos dá muita esperança que possa estar em Paris [2024]; o Miguel Monteiro como mencionado… Além disso, os Jogos Surdolímpicos foram a nossa melhor participação de sempre, apesar da diversidade de condições que lá encontramos, em termos de resultados foi excelente. E estava a dizer que é um ano histórico porque é um ano  em que se confirma que vamos ter um ciclo que todo ele vai ser realizado e cumprido com igualdade de condições entre os atletas da dimensão paralímpica e olímpica. Portanto, isso é algo também a registar e que faz do ano 2022 um ano histórico porque foi neste ano que assinamos o contrato do programa de preparação para Paris 2024, por isso é histórico. Por outro lado é o ano em que temos a definição do projeto para a nova cede do CPP, que também faz disto uma data histórica, penso eu.

SM – O próximo ano será um ano pré-paralímpico. Qual a estimativa do CPP em termos de apuramentos?

JML – De fato, 2023 será um ano fundamental para a qualificação, muitas portas serão abertas em 2023, mas também em 2024. Acreditamos é que vamos tentar ter o mesmo número de atletas que tivemos em Tóquio [33, em oito modalidades]. Não vai ser fácil porque a competição é cada vez mais exigente, maior e nós não estamos a ter o nível de renovação que gostaríamos. Mas acreditamos nos atletas que temos e eles vão fazer o melhor pelo país, não tenho dúvidas.

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