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João Amaral e o recorde mundial de Miguel Monteiro: “Foi uma bala autêntica”Exclusivo 

Miguel Monteiro alcançou novo recorde mundial. Foto: FPA/Marcelino Almeida

A voz, por telefone, dividia-se num misto de orgulho e felicidade. Não podia ser diferente. Poucas horas após ver de perto o seu atleta alcançar mais um novo recorde mundial, João Amaral, treinador de Miguel Monteiro desde 2014 (quando descobriu o talento), não conseguia esconder a alegria e o entusiasmo em ajudar o medalhista paralímpico superar a melhor marca e conquistar os Nacionais de atletismo em pista coberta, disputado no último domingo, em Pombal.

Miguel Monteiro é um fenómeno do desporto adaptado. Aos 22 anos, já possui dois Jogos Paralímpicos no currículo. Uma medalha de bronze em Tóquio 2020. Agora, voltou a superar a si próprio e o rival russo, Denis Gnezdilov, que alcançou a marca de 11,16 metros ano passado no Japão e detinha o recorde mundial. O atleta de Mangualde impôs a marca absoluta, na categoria F40, de 11,60m – mais 42 centímetros que a anterior do adversário.

Em plena evolução, Miguel segue numa escalada veloz de superação. Em 2016, conquistou o 3º lugar no Campeonato Europeu do Comité Paralímpico Internacional (IPC) e três meses mais tarde, com apenas 15 anos, tornou-se o atleta português mais jovem de sempre do desporto adaptado a chegar aos Jogos Paralímpicos – Rio 2016.

“Ele é muito humilde e muito tranquilo. Depois, é um bom aluno [é estudante universitário]. O ambiente familiar também ajuda. O Miguel não é daquelas pessoas que se envaidece. É um bom conversador, um amigo que gosta muito também da sua brincadeira e transmite sempre muita confiança aos colegas”, conta João Amaral, em entrevista por telefone à SportMagazine.

Joao Amaral ao lado de Miguel Monteiro. Foto: Paralímpicos/Facebook

Recorde sem surpresas

Ver Miguel Monteiro alcançar a inédita marca de 11,60 metros para atletas de baixa estatura no lançamento do peso não foi propriamente uma surpresa para o treinador. Nas semanas anteriores aos Campeonatos Nacionais, o atleta da Casa do Povo de Mangualde já vinha demonstrando que poderia chegar à marca alcançada.

“Nas últimas duas semanas, o Miguel veio da universidade e os exames correram bem no primeiro período. E estivemos a trabalhar intensamente para preparar para esses campeonatos. E no treino técnico os resultados dos lançamentos fora muito bons. Quando cheguei à pista coberta, ao Pombal, comentei com um amigo, o António Pedro, e ele perguntou-me se haveria recorde. Eu respondi que era preciso que ele apenas repetisse o que se passou nos treinos”, começou por dizer João Amaral.

“E depois um senhor ao lado disse que os treinos não contam. Realmente, não contam, mas dão-nos bons indicadores para a competição. Ele tinha feito 11,20m nos treinos e tinha conversado com ele que tinha qualquer coisa boa para sair. Ele normalmente nas competições é um atleta que se motiva muito mais e portanto ia fazer disparar-nos um título de recorde do mundo. A marca nunca sabemos aquilo sai, mas quando eu vi o lançamento sair eu pensei 11,50m… Veio 11,60m. Foi ótimo. Quando foi confirmado vimos que foi uma bala autêntica”, completou, satisfeito.

A evolução

A modéstia de Miguel Monteiro vai carregando-o com foco inconteste às novas marcas. Observe a evolução: Miguel chegou aos Jogos do Rio com um recorde pessoal de 8,41 metros e durante a prova ultrapassou-se a si mesmo por três vezes, alcançando os 8,89 metros, o que o colocou em 5º lugar na competição. Em 2017, Miguel conquistou a medalha de prata nos Mundiais IPC de Londres, com um lançamento de 9,86 metros. Há um ano, em fevereiro de 2021, alcançou 11,01 metros durante o Torneio de Preparação, com o então recorde mundial. Foi no mesmo ano campeão da Europa, antes de chegar aos Jogos de Tóquio como favorito e sair com um honroso bronze.

“Vamos continuar a trabalhar com a mesma humildade que fizemos até aqui para tentar melhorar as marcas porque os recordes foram feitos para ser batidos e nós vamos continuar a trabalhar com a disposição de voltar a melhorar aquela marca. Sentimos os dois que podemos fazer. E sentimos que o Miguel tem potencial para isso. Precisamos que as coisas também nos corram bem, que não haja lesões, que às vezes é importante”, projeta João Amaral.

Novos objetivos

Os próximos objetivos de Miguel agora passam pelo Campeonato do Mundo e o Campeonato da Europa, no segundo semestre. Até lá, o trabalho seguirá a decorrer com a normalidade possível.

“Não temos pressa no trabalho. Já hoje [ontem] vamos treinar ao fim da tarde. Não temos muita pressa em meter cargas para irmos a procura de nova marca ou algo assim. Vamos calmamente trabalhando todos os dias com a finalidade de nessas competições estarmos na melhor forma possível e motivados para que as marcas surjam e que sigamos numa forma em que os treinos nos deem indicações que as coisas vão acontecer. Vamos ver como as coisas vão correr e vamos trabalhar com a finalidade de melhorar a marca porque não é para ficar naquela marca, queremos e podemos melhorar”, afirmou o treinador de 67 anos com mais de 35 deles dedicados ao desporto.

Rotina de treinos e estudos

Aluno de Engenharia e Gestão Industrial na Universidade de Aveiro (UA), Miguel Monteiro divide-se na rotina de estudos e treinos. O atleta paralímpico português encontra no treinador um moderador para que consiga conciliar a carreira dual.

“Miguel é um estudante universitário, então precisamos ajustar os horários. Fazemos treinos diários, com três bidiários por semana, normalmente às terças, quintas e sextas-feiras. Um dia com treinos de ginásio, de força. E outro dia, um treino explosivo para o caso de agora que foi um lançamento bastante explosivo para tentar que o Miguel lance bem rápido. Além dos treinos técnicos. Quando ele está na universidade, faz um treino diário com coisas mais básicas: lançamentos, vai ao ginásio fazer um treino de ativação e no sábado e domingo fazemos o resto do trabalho que fica por fazer”, explica João Amaral.

“O ambiente universitário também vai ajudando, os professores também vão ajudando para criar condições para que os estudos sigam o percurso normal. Julgo que o Miguel tem todas as condições para melhorar marcar, para fazer coisas muito boas a nível internacional. Vamos levar tudo com muita calma e com responsabilidade para as coisas acontecerem”, acrescentou.

Os medalhados olímpicos Norberto Mourão e Miguel Monteiro e os respetivos treinadores Ivo Quendera e João Amaral. Foto: Paralímpicos/Facebook

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